segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Brasil (após 3 anos)

Antes de mais nada, como é bom ir para o Brasil, e como é bom voltar para a Austrália.

Poderia ser um pouco mais perto, é verdade, ou não tão demorado, mas a tecnologia está aí para resolver isso (ou o bom senso, uma vez que argentino não vem em grande número para a Austrália, ao contrário do brasileiro, o que faz o itinerário São Paulo-Sydney ter muito mais sentido do que Buenos Aires-Sydney).

Continuando o que escrevi no Facebook, quando estava no Brasil, vamos a uma geral sobre o país.

Em primeiro lugar, impressionante a quantidade de dinheiro que está rolando (e o custo de vida). É investimento vindo de tudo quanto é lado, seja público, privado, nacional, estrangeiro, intergaláctico, enfim, estão todos investindo no Brasil - assim como os intermediários, facilitadores, atravessadores e aproveitadores de sempre.

Quando decidi viver na Austrália, em 2007, um dos motivos que mais me motivou a sair foi a corrupção institucionalizada e a impotência em relação à ela. Infelizmente, neste quesito só pioramos. Outro motivo foi a violência (e o medo dela). Também piorou.

A impunidade, sem dúvida, está entre os principais fatores, e o grande exemplo quando estive lá foi o acidente envolvendo a Porsche voadora. Violência no trânsito que resultou em uma morte e não colocará o assassino atrás das grades. Se for, será por pouquíssimo tempo, pois o cara é milionário.

Após o acidente, em vez de se preocupar com a vítima, ele só quis saber do carro, o que nos leva a outro ponto na questão da violência: a total falta de valor à vida e a banalizacão da morte. O exemplo maior foi um assalto na Bahia. A cena, filmada pela câmera do banco e exibida na íntegra no Jornal Nacional, foi assim:

Depois de fazer a limpa, o ladrão deixa a agência pela porta da frente com uma arma na mão. Ele anda rápido, mas sem correr. Uma mulher atravessa seu caminho. Em vez de seguir em frente, na maior naturalidade, o assaltante vira, acerta um tiro pelas costas e continua. Ela cai ali mesmo e se torna estatística.

Mas não pensem que voltei pessimista não. A impressão, após três anos sem ir ao Brasil, é de melhora. O pobre, que já não é tão pobre, de fato passou a ter acesso ao consumo e, mais do que isso, adquiriu auto-estima. Especialmente no nordeste, e aí, eu, que sempre detestei o Lula, admito que ele foi fundamental para isso.

Fernando Collor, por mais desastroso que tenha sido, fez a tão necessária ruptura com o caos econômico que vivíamos nos anos 80. Alguém precisava fazer o trabalho sujo, e ele fez - pena que de maneira generalizada.

Na sequência, Fernando Henrique construiu os alicerces econômicos e colocou o país no caminho, interna e externamente. Luiz Inácio manteve o rumo, virou santo nacional, pop star internacional e, através de sua política de assistencialismo, tirou 30 milhões de miseráveis do limbo social, deu condições para que uma gigantesca classe c passasse a existir economicamente e deixou para o povo a mensagem de que tudo é possível (seja lá o que isso significa).

Dilma Roussef, que eu via com desconfiança desde os tempos em que chefiava a Casa-Civil, me pareceu uma mulher bastante determinada, séria e, graças ao bom Deus, sem a demagogia populista do antecessor. Mas, claro, a desconfiança continua, pois há poucos meses ela passou um cheque em branco para quem quiser faturar indevidamente com a Copa.

Independentemente, hoje a presidenta tem a faca e o queijo. Para os próximos anos, bilhões ou trilhões de dólares, além de uma Copa do Mundo e, possivelmente, uma Olimpíada (no caso de reeleição). O passo natural é substituir o assistencialismo por políticas mais consistentes, investindo principalmente em infra-estrutura e educação. Ou seja, em vez de dar o peixe, ensinar a pescar. Espero que ela faça isso.

Jamais tivemos uma década tão promissora (e ao mesmo tempo tão perigosa). Vicente Matheus diria que a Copa do Mundo é uma faca de dois legumes. Concordo plenamente! A linha que separa o sucesso e o fracasso neste caso é incrivelmente tênue. A grande questão que provavelmente será respondida em cinco anos é se o país do carnaval e do futebol vai se transformar no país do presente, ou se seremos eternamente o país do futuro.



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Um comentário:

Jo Turquezza disse...

Você esqueceu de comentar que os aposentados do INSS sofrem perda de "salários" anualmente, os professores ganham menos que Gari, os médicos estão desistindo do SUS (por falta de tudo para trabalhar), os impostos cada dia aumentam mais ....... e .... falta tempo para continuar enumerando.
Para não dizer que não falei de "flores", concordo com algumas coisas que você disse ..........
Aproveite a vidinha aí, acho que é muito melhor rsrs
Felicidades.