Em tempo: não estou falando dos mineiros Vlad, Val, Marcone e Edu, mas das companhias mineradoras, que têm no ferro e no carvão as duas maiores forças motrizes da economia do país.
Dito isso, vamos a alguns fatos:
- A Austrália produz mais poluição por pessoa do que qualquer outra nação desenvolvida do mundo, incluindo os Estados Unidos.
- A expectativa, se nada for feito, é que a emissão de carbono na Austrália cresça média de 2% ao ano até 2020.
- O governo australiano se comprometeu a cortar, até 2020, pelo menos 5% do carbono que emitia em 2000, o que significa pelo menos 23% do que emite hoje.
- Traduzindo: nos próximos 10 anos, a Austrália deixaria de mandar para a atmosfera 160 milhões de toneladas de poluentes por ano, o equivalente a tirar 45 milhões de carros de circulação. Sentiram o alívio?
- Para 2050, a meta é cortar 80% do que emitia em 2000.
O governo australiano está tentando através do carbon tax, o imposto sobre a emissão de carbono, tomar medidas concretas em relação às mudanças climáticas (89 países, que representam 80% das emissões globais e 90% da economia mundial, já aderiram), mas a tarefa não é fácil, pois mexe no bolso de muita gente.
Programado para entrar em vigor em julho do ano que vem, caso aprovado na íntegra, numa primeira instância o imposto teria impacto sobre os 500 maiores poluidores do país, incluindo todas as mineradoras que operam por aqui. Eles teriam de pagar ao governo $23 por tonelada de poluição emitida.
Numa segunda instância, parte desta conta seria repassada para a população através do aumento de preço de vários produtos. E é aí que entra o terror!
As mineradoras, juntamente com diversos setores da sociedade, estão desembolsando milhões de dólares em propaganda contrária ao tax carbon, dizendo que o custo de vida vai aumentar absurdamente e a família australiana, não tendo condições de arcar, vai quebrar. Grande bobagem!
De acordo com o projeto do governo, mais da metade do dinheiro arrecadado com o novo imposto será usado para reduzir o valor de outros impostos e aumentar os ganhos de aposentados, pensionistas e demais beneficiários (quem mora aqui sabe que o governo, independentemente de labour ou liberal, é uma mãe neste sentido - os $900 durante a crise financeira mundial é um exemplo). Parte do dinheiro também será investido em fontes de energia renováveis, a alternativa para os combustíveis convencionais.
O governo estima que o impacto do imposto sobre o custo de vida seja de 0.7% entre 2012-2013, bem abaixo dos 2.5% causados pelo GST e 2.9% da média anual de inflação entre 2001-02 e 2009-2010.
Espera-se que a conta de eletricidade, por exemplo, suba média de $3.30 por semana e a de gás $1.50. Em contrapartida, o governo planeja assistir cada residência com média de $10 por semana.
Além disso, famílias que recebem assistência através do Family Tax Benefit terão os valores aumentados, assim como aposentados e pensionistas. Mais do que isso, a partir de 1 de julho de 2012, todos os contribuintes que recebem até $80 mil por ano terão impostos reduzidos, sendo que 60% terão corte de pelo menos $300 por ano.
Já o valor para entrar na faixa de isenção do imposto de renda subirá dos atuais $6 mil por ano para $18.200, beneficiando quase 1 milhão de pessoas.
Importante: não gosto da Julia Gillard, a primeira-ministra, nem sou um entusiasta do Labour Party. Simplesmente, acho fundamental a Austrália acompanhar o restante do planeta no que diz respeito às mudanças climáticas e, mais do que isso, odeio o modo como Liberal Party, 2GB e grande parte da mídia e sociedade estão propagandeando contra o tax carbon. Dá nojo!
Um bom exemplo é este blues, The Carbon Tax Blues, composto pelo músico Danny Elliot para o programa de rádio de Chris Smith, um desses conservadores insuportáveis que não têm a menor noção do que se passa além da ilha. Ouçam: 2GB Media Player - The Carbon Tax Blues
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