Quando eu era pequeno, uns 10 anos, adorava política. Não sei se porque estava no sangue, já que entre outros descendo do ex-deputado e ex-senador estadual Ataliba Leonel (1875-1934), figura importante no movimento de 23 de maio e na revolução de 1932, que acabou exilado após a vitória da ditadura.
Ou por conta da convivênca com a minha avó, que durante a gestão do ex-governador Prof. Carvalho Pinto trabalhou no Palácio dos Campos Elíseos, antiga sede do governo e residência oficial do governador do estado de São Paulo; ou mesmo por ter entre os amigos de infância alguns descendentes de políticos como o neto do senador Severo Gomes, grande defensor da causa indígena que tive a honra de ter visitado a fazenda.
Infelizmente, minha primeira memória eleitoral (na verdade, meio-eleitoral, já que eram eleições indiretas) tem a figura de Paulo Maluf, com aqueles óculos pesados e o Jô Soares fazendo uma sátira no seu programa cantando "Passa, passa gavião, o Maluf não". Algo assim. Era a disputa com Tancredo Neves, que acabou vencendo mas não assumindo.
Jamais esqueço minha mãe voltando para casa após um dos comícios das Diretas-Já, em 1984, assim como a vassourinha do Jânio, em 1985, e o Fernando Henrique sentando prematuramente na cadeira da prefeitura de São Paulo.
Em 1986, sendo a casa do amigo Guilherme de Almeida Prado uma espécie de QG da candidatura do Antonio Ermírio de Moraes (se não me engano o avô dele trabalhava com o homem), enchíamos a escola de adesivos e folhetos.
Em 1988, Erundina se tornava a primeira prefeita de São Paulo, enquanto em 1989 eu estava filiado ao PL-mirim e ficava colando cartazes do Afif nos postes e distribuindo bugigangas eleitorais em faróis. Era a primeira eleição direta para presidente em quase 30 anos e o sentimento era fantástico. No segundo turno collorí e em 1992 Fernandinho já estava saindo pelas portas dos fundos.
Meu primeiro voto foi em 1994, com FHC para presidente e segui tucanando até 2002, já sem a mesma empolgação. Com o PT no poder fui drasticamente perdendo toda e qualquer esperança na política nacional, assim como o interesse, como podem ver nos textos abaixo do site de crônicas que eu tinha antes de embarcar para a Austrália:
- Mensalão
- Viagens presidenciais
- Malas de dinheiro
- Censura vermelha
- Abecedário da crise
- Tour da corrupção
- Futebol, corrupção e bunda
- O passo do elefantinho
Os amigos de infância e adolescência certamente se lembram que entre os 11 e 13 anos, em vez de falar que iria ser jogador de futebol, dizia que seria político, presidente do Brasil e tinha até um slogan: Pablo Nacer, você lá!
Espaço para filosofia
Mas isso até chegar aos 16, 18 anos, quando tomamos aquele choque de realidade e descobrimos que não é possível mudar o mundo como achávamos que poderíamos. Anos depois, descobrimos que podemos cada vez menos, até que, ao passar dos 30, nos damos conta de que apesar de não podermos mudá-lo, podemos ao menos mudar o nosso mundo e, a partir daí, aquele velho espírito, soterrado durante anos, volta a respirar e nos faz acreditar que ainda é possível fazer muita coisa.
Voltando à desilusão política no Brasil, sabendo que PT, PSDB e todo o resto é tudo farinha do mesmo saco, e vendo Clodovil e Tiririca, verdadeiras aberrações políticas, se elegendo com mais de 1 milhão de votos (cerca de 500 mil no caso do costureiro), o sentimento de beco sem saída é inevitável. Por isso, se eu tivesse transferido o meu título para a Austrália, certamente votaria na Marina Silva, que pelo menos representa uma atitude de insatisfação e desejo de mudança.
Ela conseguiu uma excelente votação, quase 20 milhões de votos, e contribuiu muito para que tenhamos o segundo turno, já que Dilma vencendo no primeiro seria passar um cheque em branco para Lula e toda a turma.
Torço muito para que a rejeição à Dilma seja o fator preponderante no segundo turno, levando parte do eleitorado de Marina para Serra, que seria o meu caso. Estou profundamente arrependido de não ter transferido o meu título para cá, mas foi fruto do desinteresse político dos últimos anos.
Tudo bem, nunca é tarde, aprendi a lição e se das próximas vezes não farei o ritual que fazia com o meu pai em dia de eleição, quando íamos votar juntos no Elvira Brandão ou Pueri Domus, encontravámos 437 conhecidos no caminho, sendo 27 descontentes trabalhando como mesários, e depois passávamos no Burdog ou no Stop Dog para comermos um sanduba, por aqui votarei no cartório overseas chamado Consulado.
Façam bom uso do voto no segundo turno: 45!
