segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eleições 2010 - Um post cívico

Com praticamente 100% das urnas apuradas, fiquei muito feliz em saber que haverá segundo turno para presidente no Brasil.

Quando eu era pequeno, uns 10 anos, adorava política. Não sei se porque estava no sangue, já que entre outros descendo do ex-deputado e ex-senador estadual Ataliba Leonel (1875-1934), figura importante no movimento de 23 de maio e na revolução de 1932, que acabou exilado após a vitória da ditadura.

Ou por conta da convivênca com a minha avó, que durante a gestão do ex-governador Prof. Carvalho Pinto trabalhou no Palácio dos Campos Elíseos, antiga sede do governo e residência oficial do governador do estado de São Paulo; ou mesmo por ter entre os amigos de infância alguns descendentes de políticos como o neto do senador Severo Gomes, grande defensor da causa indígena que tive a honra de ter visitado a fazenda.

Infelizmente, minha primeira memória eleitoral (na verdade, meio-eleitoral, já que eram eleições indiretas) tem a figura de Paulo Maluf, com aqueles óculos pesados e o Jô Soares fazendo uma sátira no seu programa cantando "Passa, passa gavião, o Maluf não". Algo assim. Era a disputa com Tancredo Neves, que acabou vencendo mas não assumindo.

Jamais esqueço minha mãe voltando para casa após um dos comícios das Diretas-Já, em 1984, assim como a vassourinha do Jânio, em 1985, e o Fernando Henrique sentando prematuramente na cadeira da prefeitura de São Paulo.

Em 1986, sendo a casa do amigo Guilherme de Almeida Prado uma espécie de QG da candidatura do Antonio Ermírio de Moraes (se não me engano o avô dele trabalhava com o homem), enchíamos a escola de adesivos e folhetos.

Em 1988, Erundina se tornava a primeira prefeita de São Paulo, enquanto em 1989 eu estava filiado ao PL-mirim e ficava colando cartazes do Afif nos postes e distribuindo bugigangas eleitorais em faróis. Era a primeira eleição direta para presidente em quase 30 anos e o sentimento era fantástico. No segundo turno collorí e em 1992 Fernandinho já estava saindo pelas portas dos fundos.

Meu primeiro voto foi em 1994, com FHC para presidente e segui tucanando até 2002, já sem a mesma empolgação. Com o PT no poder fui drasticamente perdendo toda e qualquer esperança na política nacional, assim como o interesse, como podem ver nos textos abaixo do site de crônicas que eu tinha antes de embarcar para a Austrália:

- Mensalão
- Viagens presidenciais
- Malas de dinheiro
- Censura vermelha
- Abecedário da crise
- Tour da corrupção
- Futebol, corrupção e bunda
- O passo do elefantinho

Os amigos de infância e adolescência certamente se lembram que entre os 11 e 13 anos, em vez de falar que iria ser jogador de futebol, dizia que seria político, presidente do Brasil e tinha até um slogan: Pablo Nacer, você lá!

Espaço para filosofia
Mas isso até chegar aos 16, 18 anos, quando tomamos aquele choque de realidade e descobrimos que não é possível mudar o mundo como achávamos que poderíamos. Anos depois, descobrimos que podemos cada vez menos, até que, ao passar dos 30, nos damos conta de que apesar de não podermos mudá-lo, podemos ao menos mudar o nosso mundo e, a partir daí, aquele velho espírito, soterrado durante anos, volta a respirar e nos faz acreditar que ainda é possível fazer muita coisa.

Voltando à desilusão política no Brasil, sabendo que PT, PSDB e todo o resto é tudo farinha do mesmo saco, e vendo Clodovil e Tiririca, verdadeiras aberrações políticas, se elegendo com mais de 1 milhão de votos (cerca de 500 mil no caso do costureiro), o sentimento de beco sem saída é inevitável. Por isso, se eu tivesse transferido o meu título para a Austrália, certamente votaria na Marina Silva, que pelo menos representa uma atitude de insatisfação e desejo de mudança.

Ela conseguiu uma excelente votação, quase 20 milhões de votos, e contribuiu muito para que tenhamos o segundo turno, já que Dilma vencendo no primeiro seria passar um cheque em branco para Lula e toda a turma.

Torço muito para que a rejeição à Dilma seja o fator preponderante no segundo turno, levando parte do eleitorado de Marina para Serra, que seria o meu caso. Estou profundamente arrependido de não ter transferido o meu título para cá, mas foi fruto do desinteresse político dos últimos anos.

Tudo bem, nunca é tarde, aprendi a lição e se das próximas vezes não farei o ritual que fazia com o meu pai em dia de eleição, quando íamos votar juntos no Elvira Brandão ou Pueri Domus, encontravámos 437 conhecidos no caminho, sendo 27 descontentes trabalhando como mesários, e depois passávamos no Burdog ou no Stop Dog para comermos um sanduba, por aqui votarei no cartório overseas chamado Consulado.

Façam bom uso do voto no segundo turno: 45!

Um comentário:

Jo Turquezza disse...

Menino, reza por nós! A chance do segundo turno nós temos! Agora não tem Marina, nem branco, nem nulo: tem que escolher um para melhorar o Brasil. Espero que os brasileios pensem bem, não joguem seu voto fora! Tem que ser aqui e agora, enquanto não vou para a AU!!! rsrsr
Felicidades.