O que mais havia me irritado quando não passei no primeiro teste do IELTS foi ter desperdiçado uma excelente chance, uma vez que grande parte dos temas que caíram eram familiares. Eu sabia que na próxima prova dificilmente teria temas tão fáceis e isso poderia complicar. Por outro lado, a experiência de ter feito uma sempre ajuda.
Há três semanas, fui para a segunda tentativa. Não sei o motivo, mas eles separaram a prova em dois dias, começando numa quinta-feira. Pelo menos, o lugar não poderia ter me deixado mais à vontade: um bar/tab dentro de um racecourse (traduzindo para os amigos no Brasil: onde se bebe e aposta numa corrida de cavalos).
A largada foi dada com o listening. Como havia tirado 7.5 de 9.0 na anterior, eu estava bem tranquilo, porém, com a lição aprendida anteriormente de que em hipótese alguma poderia subestimá-lo. Ao passar a vista em todos os temas, vi que a sorte não estava tão ao meu lado assim.
Dos quatro assuntos, dois eram complicados. O primeiro era finanças. Eu, que não sei fazer conta, imaginem se sei alguma coisa de finanças... em portugês. Agora imaginem em inglês. O segundo era ainda pior: reciclagem de pneu. A coisa era tão complicada que entrava até em elementos químicos. Detesto carro, odeio trocar pneu e o máximo de química que sei é a existência de uma tabela que só é reconhecida pelo cérebro humano quando cantada por professores engraçadinhos de cursinho.
Mesmo não tendo a menor familiaridade com os assuntos, respirei fundo e coloquei na cabeça que poderia sim errar algumas questões, mas deveria tentar acertar o máximo possível. Parece óbvio, mas nessas situações é muito comum o candidato ficar nervoso, ser tomado pelo pessimismo, desânimo ou medo, e simplesmente deixar o barco à deriva. Uma amigona minha desencanou da prova aí, na largada. Não deveria!
O segredo é: prova de alcoólatra. Não porque eu estava num bar, mas é preciso fazê-la passo a passo, questão por questão, sem baixar a cabeça pelo que fica pra trás ou que vem pela frente (claro, dentro da dinâmica da prova, que é preciso estar ligado em tudo). Quando eu não pegava uma resposta, chutava algo próximo e tentava descontar na próxima. Deu certo! Caí de 7.5 da anterior para 6.5, mas é porque a outra havia sido realmente muito fácil.
A segunda parte da prova é o reading, o fuc^%$g reading, aquele mesmo que era o meu ponto forte e acabou custando toda a prova por 0.5 ponto (em tempo, eu precisava tirar mínimo de 6 em cada parte).
Confesso que quando a prova chegou, as borboletas do estômago começaram a jogar futebol, o que foi bom, pois fiquei ainda mais ligado. Passei o olho rapidamente em tudo e vi que os textos não estavam tão longos e não havia nenhum tema do tipo "a nova economia asiática e a influência no mercado de peixe da Sibéria".
Mais uma vez, optei pela prova de alcoólatra. Fiz questão por qustão, na velocidade necessária mas com uma concentração absurda. E foi essa concentração - no lugar de subestimar - que fez a diferença, pois em algumas questões, após ter anotado o resultado, voltei atrás, repensei, repensei de novo, e mudei a resposta, sendo que no teste anterior eu estava mais preocupado em guardar neurônios para o writing e teria seguido em frente. Resultado: pulei de 5.5 para 7.0.
O writing foi praticamente no mesmo nível do anterior, quando eu havia tirado 6.0, porém, na primeira parte, em vez de ter de escrever uma carta formal, era uma informal para um amigo, praticamente um email do dia-dia, o que facilitou a minha vida. Subi para 6.5.
Terminada a prova na quinta, ainda faltava o speaking, que marcaram para a tarde de sábado. Cheguei levemente fanfarrão, pois tinha em mente que o pior já havia passado, e um professor/examinador do próprio IELTS havia me falado que dificilmente latinos e europeus não alcançam 6 no speaking, o problema é mais com os asiáticos por causa da pronúncia. Porém, como havia aprendido a lição 11 com o fuc%$^ reading na prova anterior, respirei fundo antes de entrar na sala, deixei as borboletas confabularem e encarei a mulher.
A anterior era uma gata, essa não. Pior, ela era mais séria e daquelas simpáticas falsas do sorriso de mentirinha. Ou seja, rolou uma intimidação e eu caí na besteira de tentar dar respostas um pouco mais profundas, me prendendo mais no conteúdo do que na maneira de dizer, o que é um erro quase fatal.
No speaking do IELTS, o examinador não está nem aí para o que você pensa, qual é o seu ponto de vista sobre a situação política do Egito ou da Irlanda do Norte, ele só quer avaliar a sua fluência no inglês e o seu vocabulário. Se precisar mentir, matar irmão, cunhada, falar que é filho do Bill Gates, não tem problema, desde que o faça pronunciando claramente e com uma gramática minimamente aceitável.
O assunto no final foi pra religião, eu me empolguei, comecei a falar um monte de abobrinha, depois fiquei preocupado se estava ofendendo as convicções religiosas da examinadora, tentei recuar, perdi o fio da meada, travei, precisei parar, recomeçar, enfim... senti que a vaca poderia ir para o brejo.
Mas graças ao bom Deus e a todos os citados durante o meu infrutífero discurso religioso, agora a pouco peguei o resultado e ela me deu 6.0, meio ponto abaixo do anterior, mas nota suficiente para tornar o capítulo IELTS na Austrália coisa do passado (pelo menos por ora, já que tem prazo de validade).
Para verem as 10 dicas anteriores, cliquem aqui, para verem a dica 11, cliquem aqui, e para quem vai fazer a prova, de coração, boa sorte!
Um comentário:
Nossa! Que medo! Se eu for morar aí vou precisar de "tudo isso"?
Que stress ... rsrsrss
Parabéns à você.
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