segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sorry Day e a maldição da múmia (ou seria do múmio?)



Quarta-feira passada, 13 de fevereiro, Kevin Rudd, nosso primeiro-ministro, pediu desculpas ao povo aborígene pelos abusos cometidos desde a chegada do intrépido Captain Cook, em 1770, principalmente em relação à chamada “geração roubada” (veja filme homônimo do diretor Phillip Noyce – Rabbit-Proof Fence, em inglês), ocorrida nas primeiras décadas do século XX.



O australiano médio, que torce o nariz para os aborígenes, não gostou muito do pedido de desculpas, que entrou para a história como Sorry Day. Mas ele também não morre de amores pelos japoneses, coreanos, chineses, indianos, libaneses, enfim, parte da população é de fato preconceituosa, assim como acontece em praticamente todos os cantos do planeta.


Eu assisti à cerimônia e me emocionei. Num mundo sem muita esperança como o nosso, cuja figura mais poderosa atende pelo nome de Georg W. Busha, ver um homem branco, comandante de uma economia que movimenta cerca de US$ 700 bilhões por ano, tomar uma atitude como esta, é, no mínimo, confortante.



Claro, sou suspeito pra falar. Na contra-capa do meu livro é citado o povo aborígene (“nativos da Oceania” – http://www.livropablonacer.blogspot.com/), viajei 3 vezes para uma aldeia indígena xavante no Mato Grosso, fui adotado por um clã, batizado e devo muito a eles. Mas acredito que tantas outras milhões de pessoas que não necessariamente tenham alguma ligação com os povos nativos, também se emocionaram com o Sorry Day.



E falando nos primeiros a chegarem, terminou esta semana no National Maritime Museum (em Darling Harbour – Sydney), a exposição Iceman – the story of Ötzi, sobre o nosso irmão mais velho. Encontrado nos Alpes, entre a Itália e a Áustria, em 1991, o finado, delgado e congelado Ötzi é a múmia mais antiga do mundo (por que não múmio?). Ele estava no gelo há 5.300 anos e foi descoberto acidentalmente por turistas.



Além de fotos impressionantes da múmia, a exposição também trazia uma réplica em tamanho real do corpo e de como ele devia ser (barba, cor do cabelo etc), peças e objetos que reproduziam a vida do glorioso Ötzi e as possíveis causas de sua morte (em off: mataram o homem). Muito interessante! Se a exposição for para a sua cidade, não perca. Afinal, o cara não ficou 5.300 anos pelado no gelo para ser ignorado (não é à toa que existe a tal da maldição da múmia - ou seria do múmio?).

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Comédia verde e amarela em alta velocidade

Final de semana passado, graças ao novo brinquedinho de um sheik da real família do Dubai, o domingão da brasileirada foi divertido. Fomos em mais ou menos 30 pessoas (98.7% brasileiros) assistir ao Grande Prêmio de uma categoria que até então nunca ouvira falar, uma espécie de genérico da Fórmula 1 com carros muito semelhantes, pilotos não muito conhecidos e bilhões de petro-dólares investidos.

Trata-se da A1, petro-autorama criado no ano passado pelo sheik Maktoum Hasher Maktoum Al Maktoum, que já foi aprovada pela FIA e tem a pretensão de rivalizar com a Fórmula 1. Não estou entre os maiores apreciadores de carros e corridas, mas dois aspectos me chamaram a atenção nesta categoria:



1. Os carros correm com os chassis, motores e pneus dos mesmos fornecedores, o que aumenta o equilíbrio na competição.

2. As equipes são, na verdade, 23 franquias vendidas por Sua Majestade, o sheik. E cada uma delas representa um país. Ou seja, na A1 não tem Ferrari, McLaren ou Gurgel, mas Brasil, Itália, Austrália e assim por diante. Uma espécie de Copa do Mundo automobolística, com os carros correndo com a cores do país, pilotos e mecânicos de mesma nacionalidade, enfim... O Galvão Bueno não pode saber disso!

Bem, como o treino que definiria o grid de largada começaria às 11 da manhã, marcamos de sair às 9h30 de Bondi Junction, onde um ônibus estaria nos esperando. Perceberam a encrenca? Domingo, 9h30 da matina, ônibus para sair com 3 dúzias de brasileiros... É óbvio que às 11 e pouco a barca ainda estava lá, parada, uma vez que ainda tinha gente chegando. Mas sabem como é, penca de brasileiros juntos, domingo chuvoso por aqui, sábado de Carnaval no Brasil, e assim, em poucos minutos, o pessoal da Capoeira Brasil, um grupo bastante conhecido por estas bandas, sacou um surdão, uma caixa, mais alguns instrumentos e fizeram um rápido “ensaio técnico” antes da partida. Era apenas o começo da aventura.



O autódromo de Eastern Creek fica longe pra caramba. Aqui, quando alguém fala que o lugar é longe, acreditem. Em condições normais, o tempo médio é de 50 minutos. Mas como estamos falando de domingo chuvoso, dúzias de brasileiros e um motorista figuraça que, além de ter tido seus 15 minutos de fama durante as Olimpíadas de Sydney ao aparecer chacoalhando a caixa torácica para bilhões de espectadores em todo o mundo, não sabia o caminho. E, claro, o pessoal do ônibus tão pouco, apesar de que todos borrifavam “esquerda”, “direita”, “entra aí” e “não é essa” com absoluta “popriedade”. Não sei como, mas debaixo de um pé d´água colossal, muito barro no pé e lama no tornozelo, chegamos no autódromo.


Samuel, nosso motorista

Logo que nos instalamos na arquibancada e o pessoal começou a fazer um sonzinho, as figuraças começaram a aparecer. Primeiro foi a versão aussie da Vovó Mafalda, que logo caiu no samba.



Depois foi um Robert que fazia “evoluções” com um chapéu. Era o típico cara que se estivesse num estádio de futebol na Inglaterra, invadiria o campo pelado.



A festa foi esquentando e o pessoal chegando. Os torcedores indianos, que estavam em massa, nem se importaram de "sambar" ao lado dos vizinhos do Paquistão, inimigos na Caxemira, mas que na Austrália e no meio de um monte de brasileiros viram irmãos.



A sonzeira logo chamou a atenção do autódromo inteiro, incluindo os pilotos brasileiros que apareceram para agradecer o apoio. O pessoal dos camarotes também foram até as sacadas para ver e tirar umas chapas, fotógrafos e cinegrafistas vieram fazer umas imagens, enfim, só faltou o Mestre dos Magos aparecer (ops, ele apareceu!).



Virou Carnaval!



Faltando uns vinte minutos para o início da corrida, a batucada deu uma trégua e um inesperado congestionamento de Ferraris chamou a atenção na pista.



Obviamente, em poucos segundos várias modelos (e atrizes) perfilaram-se ao lado do grid, de frente para os carros. De dentro de cada um descia um piloto que, para se proteger da chuva, colava nas modelos (e atrizes).



É claro que o nosso glorioso Sérgio Jimenez, o piloto brasileiro, no melhor estilo “pricesão de Eastern Creek”, foi o primeiro a se arranjar por ali.



Ferraris de volta para o caminhão-cegonha do sheik, era hora de formar o grid de largada. Lá, entre pilotos, mecânicos, modelos (e atrizes), imprensa e meia-dúzia de vips e aspones, quem também apareceu quebrando todo o protocolo foi o nosso intrépido Samuel, o motorista, com a galera da Capoeira Brasil, que “abrasileiraram” o grid minutos antes da largada. (Definitivamente era domingo de Carnaval).



Quando o relógio apontou 3 em ponto, os carros saíram para a volta de apresentação e logo achamos que o Rubinho também estava na prova, mas foi apenas impressão.



Após a largada oficial, sem televisão, sem monitores e sem Reginaldo Leme (o irmão do Dinho) para comentar, ficou difícil acompanhar a corrida, mas, por sorte, alguém falou que o brasileiro estava em 4º, o boato se espalhou e, toda vez que se perguntava em qual lugar estava o brasileiro, a resposta era a mesma: 4º (mesmo quando estava em 3º, 5º, parado nos boxes ou em último).



E assim, sem muita escolha, nosso Sérgio Jimenez acabou a corrida em... 4º lugar, atrás do sulafricano Adrian Zaugg, do suíço Neel Jani e do britânico Robbie Kerr, 1º, 2º e 3º colocados, respectivamente. Após a festa do pódio e a comemoração pelo... 4º lugar, era hora de voltar pra realidade. Assim, em vez de Ferraris e carros do sheik, passamos ao lado de veículos mais condizentes com o nosso dia-a-dia tupiniquim...



...e voltamos para o bumbão, um velho de guerra que faz a linha daqui de Sydney e, quando fica velho e caindo aos pedaços, é alugado para brasileiros.



Mas quem tem Samuca no volante, meus amigos, “o verdadeiro sheik-man (ops, “shake-man”), chega em qualquer lugar. Mesmo que em 4º.



Dá-lhe, Samuel!!!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Descascar um abacaxi e as Grandes questões da Humanidade

Demorei 31 anos para descobrir que a expessão "descascar um abacaxi" é literal. Ontem, após o almoço e sob um sol desértico, resolvi comer umas fatias do abacaxi que comprara pela manhã.

Até aquele momento, eu só havia comido abacaxis prontos, fossem eles previamente descascados e fatiados por terceiros, ou comprados naquelas embalagens à vácuo. Mas pegá-lo em estado bruto e tirar a casca para depois fazer as famosas rodelas, foi a primeira vez (praticamente um primeiro soutien).
A grande revelação aconteceu quando eu estava perdendo preciosos minutos afiando a faca, pensando no corte, exercitando os bíceps na tentativa de atravessar a casca, vendo a sujeira que fazia, enfim, quando transpirando sobre a pobre planta monocotiledônea da família das bromeliáceas, percebi que o ato de descascá-la é, de fato, um enorme problema de proporções literárias.

Para os próximos dias, continuando o meu empenho em desvendar as grandes questões da Humanidade, vou adquirir uma jaca e inserir o pé na mesma (falando tipo elevador), para descobrir o porquê da expressão "enfiar o pé na jaca".

Importante: é evidente que a foto acima foi afanada na Internet e não retrata o péssimo serviço que fiz!

Australia Day – A origem do porre cívico

Sábado passado (26 de janeiro aqui, 25 de janeiro no Brasil), enquanto o meu coração vermelho, branco e preto comemorava os 554 anos da fundação de São Paulo, o meu lado súdito da rainha celebrava o Australia Day, o feriado mais importante destas bandas. Mas o que é o Australia Day?



Podemos dividir o brasileiro que vive na Austrália em 4 grupos: os que acham que o Australia Day é o Dia da Independência australiana (o nosso 7 de setembro); os que acham que o Australia Day é o Dia da Proclamação da República (nosso 15 de novembro); os que acham que o Australia Day é o Dia do Descobrimento (nosso 21 de abril); e os que não acham absolutamente nada. Os que não acham absolutamente nada são os que mais se aproximam da resposta correta, uma vez que no dia 26 de janeiro a Austrália não foi descoberta, não proclamou a república e muito menos declarou a independência.

No referido dia, o australiano se veste de verde e amarelo, pinta a bandeira no corpo inteiro e sai às ruas para tomar a maior quantidade possível de cerveja com o intuito de celebrar o desembarque do glorioso Capitão Arthur Phillip em Port Jackson (New South Wales), ocorrido em 26 de janeiro de 1788. Com ele, vieram da Inglaterra a primeira leva de prisioneiros, oficiais e demais tripulantes para iniciar a colonização na Austrália, à época a mais nova colônia penal britânica de férias. No total chegaram 1373 pessoas, entre homens, mulheres, crianças e namorados de flatmates (detesto namorados de flatmates).



Sim! Os primeiros não-aborígenes que nasceram em solo australiano – também conhecidos como australianos – provavelmente eram filhos de ex-prisioneiros britânicos. Já contei essa história no meu outro site, mas como o blog é meu e ninguém tem nada a ver com isso, recontarei sob a mesma forma de conto de fadas:

Há dois séculos, num velho continente distante, havia uma ilha muito muito grande. Dentre outros tesouros, lá se produziam verdadeiros patrimônios da Humanidade como o whiskie escocês e a indescritível cerveja Guiness. Mesmo vivendo com tamanha fartura e (tecnicamente) felizes para sempre, alguns moradores tentaram facilitar ainda mais as coisas se apropriando indevidamente do que não lhes pertencia. Sem escolha, George III, o rei, colocou-os nos calabouços reais.

George III por Allan Ramsay, 1762

Enquanto isso, na bela e ensolarada manhã do dia 8 de agosto de 1768, o capitão inglês James Cook deixou o porto de Plymouth em seu navio Endeavour e seguiu viagem. Ele desceu pela Ilha da Madeira, passou pela costa oeste africana e atravessou o Atlântico rumo à América do Sul, onde fez uma estratégica parada no Rio de Janeiro em 13 de novembro de 1768. Após um eletrizante Fla-Flu e uma noitada no Morro da Mangueira, Cap. Cook foi para o Pacífico Sul, permaneceu três meses no Taiti observando o planeta Vênus, seguiu para a Nova Zelândia, onde interagiu com a fascinante população maori, até que finalmente aportou na Austrália na bela e ensolarada manhã do dia 19 de abril de 1770.

Capitain Cook por Nathaniel Dance, 1775

Entre um pente e um espelho que distribuiu para os aborígenes, C.C. (Captain Cook) enviou – via Sedex – uma carta para Georginho III contando-lhe sobre as últimas na recém-descoberta terra (na verdade, a China já havia decoberto a Austrália – e quase todo o novo mundo – havia 350 anos, mas isso é assunto para outro texto).

Entusiasmado com o que lera, o visionário monarca, que enfrentava grave problema com a superlotação carcerária, “propôs” aos prisioneiros uma certa “anistia”, caso eles aceitassem viajar alguns poucos quilômetros a sudoeste. Alegres com a bondade real, os detentos embarcaram aos montes e vieram, sob o comando do Capitão Arthur Phillip para a Austrália reiniciar a vida na nova colônia penal (é importante lembrar que os Estados Unidos já eram colônia penal da Coroa Britânica).


Arthur Phillip por Francis Wheatley, 1786

E assim, após 8 meses de viagem com direito a nova parada estratégica no Rio de Janeiro, Arthur Phillip e toda a turma aportaram inicialmente em Botany Bay, em 18 de janeiro, desembarcando definitivamente em Port Jackson, em 26 de janeiro. Trinta anos depois, em 1818, o Governador Lachlan Macquarie realizou a primeira celebração oficial do desembarque que, com o passar do tempo, recebeu diferentes graças como Foundation Day, Anniversary Day, Survival Day e Invasion Day (cortesia dos aborígenes), sendo hoje chamado nacionalmente de Australia Day, o pretexto número 1 para um grande porre cívico.



Algo a ver com o Invasion Day?

Dica de vinho - Peggy's Hill Eden Valley Riesling 2007

Nome comercial: Peggy's Hill Eden Valley Riesling 2007
Produtor: Henschke
Tipo: Branco
Uva: Riesling
Ano: 2007
Região: Edden Valley (South Australia)
Álcool: 12,5%
Preço: AU$ 14,00 (http://www.danmurphys.com.au/ e http://expand.americanas.com.br/)



O Carnaval vai começar no Brasil (na verdade, começou há 508 anos), e para curtir a folia de momo (detesto esses clichês carnavalescos), nada como beber em escala industrial. Por aqui, justificando a resolução número 2 de ano novo (“Trabalhar mais” – vide texto “Happy Ney Year”), labutarei normalmente no final de semana e, na segunda de Carnaval, volto a estudar após 2 meses e meio de férias. Será, tranquilamente, a primeira quarta-feira de cinzas sóbrio e sem ressaca, desde 1991 (que a minha terapeuta não leia isso).

No Brasil, sei que não é todo mundo que vai “pular” Carnaval durante os 4, 5 10, 30 dias (dependendo da região) de folia, tomando e beijando tudo o que encontar pela frente. Para estes (e já aproveitando para colocar em prática a resolução número 4 de ano novo – “Beber menos (porém, melhor)”, segue uma ótima dica de vinho.



Trata-se do Peggy's Hill Eden Valley Riesling 2007, um dos vinhos mais em conta do simpático casal Prue e Stephen Henschke, os produtores do Hill of Grace, um dos melhores vinhos da Austrália (dizem que o Shyrah 2002 chega à perfeição – ainda checarei!). Por apenas AU$ 14 (preço de 3 cervejas num pub), é possível tomar um vinhaço branco, daqueles que ficam um tempão conversando com a gente.

Produzido no Eden Valley (sul da Austrália), em vinhedos com mais de 50 anos, o Peggy's Hill traz um aroma amplo, intenso e persistente, rico em frutas como maracujá e lima (muito comum aqui), além de florais. Time grande! Na boca é uma explosão de sabores – praticamente um furacãozinho de maracujá (usei essa expressão pois quando o tomei estávamos aguardando uma tempestade em Sydney). O vinho tem corpo médio, é macio e sedoso, muito equilibrado, possui acidez fina e ótima evolução no copo. Tá no ponto para ser tomado, mas segura bem por alguns anos. A 14 dólares australianos, é uma ótima compra.

Sei que em São Paulo está um frio lascado, o verão mais polar dos últimos 20 anos – culpa do Al Gore – mas Carnaval e fevereiro são sinônimos de calor. Portanto, no Brasil ou na Austrália, comprem este vinho, dêem uma boa gelada nele e aproveite-o acompanhado de um salmãozinho defumado, algum aperitivo com frutos do mar (quem sabe a porção de Lula à Manacá lá de Camburizinho-SP), ou mesmo solo, apenas sendo bebericado com o pé na areia.

Vamos bebendo e bom Carnaval (ou Mardi Gras) a todos!



Importante: caso não encontrem este vinho no Brasil, tentem qualquer outro deste produtor que não tem erro. Sei que a Expand trabalha com o Henschke, mas vale a pena uma pesquisada em outras importadoras. Por aqui, basta ir à qualquer loja da rede Dan Murphy´s (uma espécie de Hopi Hari pra mim).

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O problema dos shows – Planeje-se!

Show por aqui é um problema. Não o show em si, uma vez que tem aos montes e de ótima qualidade. Mas a necessidade de comprar os ingressos com muita antecedência. Toda semana são anunciadas diversas bandas, cantores e cantoras, mas em geral, para daqui há 3, 4, 6, 10 meses. Eu sou brasileiro, minha capacidade de planejamento e de imaginar o que estarei fazenda em 6 de maio, por exemplo, é mínima. Não sei se trabalharei, se estarei em Sydney, na Austrália, oxalá se estarei vivo. Portanto, não é fácil pagar $ 60, $ 90, U$ 140, $ 250 em algo que por diversas razões talvez eu não possa ir.

E o pior é que o australiano, acostumado com a economia estável e a vida bem planejada, não só compra com meses de antecedência, como de vez em quando esgota dezenas de milhars de ingressos em poucos minutos, como aconteceu com os shows do Rage Against The Machine e do Foo Fighters, em Sydney. No caso da primeira banda, que voltou a tocar depois de longo inverno, o cara que não acordou cedo e, às 9 em ponto, não entrou no site da Ticketmaster, dançou. É sério!



Tenho um grande amigo em São Paulo, Dorlan Jr., o popular Juninho, que se daria bem por estas bandas. Ele é uma máquina de comprar ingressos e ir a shows. Desde o final da década de 80, quando o Metallica foi pela primeira vez para o Brasil, até hoje, o cara não só vai em quase todos, como se tornou referência para os amigos e conhecidos. É comum o diálogo:

- Você vai no show tal?
- Eu não, mas o Ju vai. (Muitas vezes sem saber se ele realmente vai).

Mais! Na maior boa vontade, ele passa todas as informações sobre preço, horário, local e cerveja que estará à venda, tira dúvidas e ainda se oferece para comprar os tickets. Gênio! Juninho foi tanto a show nas últimas duas décadas que, cansados de fazê-lo se deslocar para o antigo Palace, Via Funchal, Tom Brasil do Itaim, Estádio do Morumbi, Parque Antarctica, Anhembi etc, resolveram construir duas ótimas casas do lado da casa dele. A primeira foi o Credicard Hall, a menos de 1 km, e a segunda foi o Tom Brasil Nações Unidas, na própria rua do homem. Mais do que merecido! Bem, pra vocês que vivem na Austrália ou estão vindo pra cá, dêem uma olhada em alguns dos próximos shows e planejem-se!

Iron Maiden
A banda que sempre gostei mas não faço a menor idéia de como está atualmente, vem para uma série de 6 shows após 15 anos sem tocar por estas bandas. Curiosidade: o Iron já não tem mais aquela coisa de banda, um por todos, todos por um. Há anos a marca Iron Maiden pertence ao baixista Steve Harris e ele é o dono da “firrrma”. Harris não só decide tudo, como também paga o salário de todos (e que salário!).

Feb 4 Perth - Burswood Dome
Feb 6 Melbourne - Rod Laver Arena (esgotado)
Feb 7 Melbourne - Rod Laver Arena
Feb 9 Sydney - Acer Arena (esgotado)
Feb 10 Sydney - Acer Arena
Feb 12 Brisbane - Entertainment Centre

Como sou legal, seguem as datas do Brasil:

March 2 São Paulo - Palmeiras Stadium
March 4 Curitiba - Pedreira
March 5 Porto Alegre - Gigantinho



Santana
Carlos Santana, o grande guitarrista mexicano que a cada ano fica mais parecido com o Seu Madruga, fará 6 apresentações na Austrália sendo que uma delas, em particular, tenho certeza de que será especial: a de 1º de março, no Hunter Valley. Já imaginaram ver e ouvir Santana, mestre da guitarra tocando em um dos paraísos do vinho australiano? Cassio Britto, pegue um avião!

Feb 21 Perth - Burswood Dome
Feb 24 Adelaide - CBC Oval, Clipsal 500
Feb 26 Melbourne - Rod Laver Arena
Feb 28 Sydney - Acer Arena
Mar 1 Newcastle - Tempus Two Winery
Mar 2 Brisbane - Entertainment Centre



Jack Johnson

Os amigos que foram ao show dele no Brasil, acho que em 2007 ou 2006, não me lembro bem, não gostaram muito. Acharam o cara devagar demais, sem muita pegada pra levar o público. Uma amiga chegou a dormir. Mas não é justo julgar a performance dele por apenas um show. Vai ver que o homem se entopiu de feijoada no almoço, passou a tarde comendo vatapá e acarajé e, claro, a última coisa que faria à noite seria agitar 30 mil pessoas. Vamos dar uma chance!

Mar 13 Wollongong - WIN Entertainment Centre
Mar 15 Sydney - Centennial Park
Mar 16 Brisbane - Riverstage (esgotado)
Mar 25 Melbourne - Sidney Myer Music Bowl (esgotado)
Mar 26 Melbourne - Sidney Myer Music Bowl
Mar 27 Adelaide - Memorial Drive
Mar 29 Perth - Members Equity Stadium



Kiss

You wanted the best, You got the best! O Kiss é, talvez e disparado, a banda mais canalha de todos os tempos – o que é um grande elogio. Já fui em show com eles usando máscara, outro sem máscara, e posso dizer que é sempre a mesma ótima palhaçada. Os caras são tão canalhas que até rótulo de vinho já viraram. É verdade que o Bell do Chiclete com Banana também tem a sua linha de vinhos (são bons mas não justificam o alto preço), mas Kiss é Kiss. Acho difícil eu encontrar os vinhos por aqui, mas caso eu descole umas botejinhas, prometo resenha completa sobre a degustação pra vocês. Curiosidade: o show de 16 de março, em Melbourne, vai ser o fechamento do GP de Fórmula 1 da Austrália. É ou não é canalhice total?

Mar 16 Melbourne - F1 Grand Prix
Mar 18 Brisbane - Entertainment Center
Mar 20 Sydney - Acer Arena



Bunny Wailer & the Solomonic Reggaestra
Bunny Wailer é um dos remanescentes da formação original dos The Wailers, banda que contava também com ninguém menos do que Bob Marley e Peter Tosh. Não preciso falar mais nada! Ele, presença obrigatória no meu Ipod, volta à Austrália aos 60 anos para realizar 3 shows acompanhado da ótima Solominic Reggaestra.

Mar 18 Melbourne - Palace Theatre
Mar 19 Sydney - Luna Park
Mar 20 Brothers Leagues Club - Cairns



Vocês encontram ingressos para estes shows e tantos outros (incluindo The Black Crows e Foo Fighters) nos sites:
http://mytickets.com.au/
http://premier.ticketek.com.au/
http://www.ticketmaster.com.au/

Mas não é só! Neste verão vão rolar e estão rolando diversos festivais como Big Day Out, Good Vibrations e V Festival. Para maiores informações, visite o site da Ozzy Study Brazil, agência de intercâmbio de estudantes (Brasil-Austrália) para qual também escrevo: www.ozzystudy.com.au/

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Sabedoria momesca

Desde que cheguei na Austrália, em agosto do ano passado, tenho aprendido, vivido e descoberto muita coisa. Mas nada, nada que aprendi, vivi e descobri me chamou tanta a atenção e causou tamanha surpresa quanto uma palavra nova que li esta semana em uma matéria sobre o carnaval baiano. NADA!!!

Nestes 5 meses e meio, descobri, por exemplo, que na Coréia do Sul os homens saem do trabalho e não vão pra casa. De segunda a sexta eles seguem para os karaokês da vida onde cantam e tomam cerveja e soju (a cachaça local) até altas da madrugada. Para compensar, nos finais de semana passam o dia com as famílias nos parques, praças e praias fazendo picnic.



Descobri também que na Suíça falam, pelo menos, 4 línguas diferentes: alemão, francês, italiano e romanche, de acordo com a região. Sendo assim, ao ser apresentado a um suíço e, principalmente, a uma suíça, é aconselhável identificar o quanto antes se a pessoa é suíça-alemã, suíça-francesa, suíça-italiana ou suíça-romanche (Any, Carol, Ruben e Stefano, cheers! - um amigo de cada).

Descobri que a seleção colombiana viveu um dos maiores dilemas da história do futebol durante a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. Eles tinham um timaço com jogadores como Valderrama, Higuita, Asprilla, Rincón e Valência, e chegaram com status de que poderiam disputar o títular. Mas não passaram da primeira fase. Motivo? Era o auge da guerra do narcotráfico entre os cartéis de Cáli e Medellín e, no melhor estilo “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, um dos cartéis falou que se fossem bem, morreriam; enquanto o outro falou que se fossem mal, morreriam (claro, simplifiquei ao máximo a questão).



Resultado: sem saber se chutavam no gol ou se tocavam pro lado, eles fizeram uma campanha medíocre, não passaram da primeira fase e quem pagou o pato foi o zagueiro Andrés Escobar, que durante a Copa fez um gol contra na derrota que eliminou a Colômbia e, 10 dias depois, foi assassinado na frente de uma discoteca em Medellín.

Com o intuito de me engraçar com uma polonesa, aprendi a contar até 10 em polonês: 1. Jeden 2. Dwa 3. Trzy 4. Cztery 5. Piec´ 6. Szes´ 7. Siedem 8. Osiem 9. Dziewiec´ 10. Dziesiec´

Aprendi que ao brindar com certos povos do leste europeu, além de falar “na zdorovye” (russo) ou “na zdravi” (checo), por exemplo, é preciso encarar a pessoa nos olhos com uma certa fúria no olhar.

Descobri que o japonês não pode ver algo diferente que logo grita “take a picture”, saca um canhãozinho fotográfico de última geração e bate dezenas de chapas. E sempre que está do lado oposto, ou seja, posando pra foto, mostra os dedos indicador e médio para a câmera. No caso das japonesas mais tímidas, enquanto mostram os dedos indicador e médio para a câmera, com a outra tapam o sorriso (não é o caso abaixo - por sinal, este é Shinji, grande amigo e irmão, com a respectiva primeira-dama).



Descobri que um dos principais problemas de viver na Austrália atende pelo nome de flatmate. Não tem jeito, dividir apartamento, casa, quarto, beliche, cama, edredon ou seja lá o que for, com ex-estranhos, sempre vai dar problema. Mas há uma espécie ainda pior do que flatmate: namorado ou namorada de flatmate. Meu Deus!!!!! TIreM esse cara daqui (mensagem subliminar, se alguém descobrir o nome da fera, ganha um vinho)!!!

Descobri que o brasileiro é o povo mais limpo (em termos higiênicos) do planeta.

Enfim, o aprendizado tem sido grande, a vivência muita rica, mas quando abri a Internet e li a referida manchete, não entendi:

"Rei Momo magro é destronado do Carnaval de Salvador"

Ao mesmo tempo curioso e triste com a minha ignorância, cliquei para tentar entender do que se tratava:

"Reviravolta no reinado momesco de Salvador. A juíza substituta da 5ª Vara de Fazenda Pública, Aidê Ouais, anulou a eleição de Clarindo Silva, o rei Momo de 58kg do Carnaval baiano. "



Foi então que caiu a ficha de que “destronado” vem da palavra “trono”, o que faz total sentido uma vez que estamos falando do “reinado momesmo de Salvador". Coisa séria! Juro que nunca ouvira essa palavra, nem nas aulas de história, muito menos nas de português, quando jamais conjuguei "eu destrono, tu destronas, ele destrona, nós destronamos, vós destronais, eles destronam" (seria isso?).

Tem coisas que só a Internet faz por você!

Mas o importante é que aprendi um novo verbo e imagino que "destronar" também valha para o ato de deixar o "trono" do banheiro. E, se realmente valer, peço um favor: se alguém souber a tradução em inglês, por gentileza, me escreva, pois "destronar" diariamente in english vai ser ainda mais divertido e dará um grande improve no meu inglês.

É a Bahia, como sempre, me dando régua e compaço (mais textos sobre a Bahia no meu outro site: www.pensamentododia.com/pensamento_do_dia.asp?codigo_pensamento_atual=161&codigo_pensamento=145
e
www.pensamentododia.com/pensamento_do_dia.asp?codigo_pensamento_atual=161&codigo_pensamento=110)!