sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Australia Day – A origem do porre cívico

Sábado passado (26 de janeiro aqui, 25 de janeiro no Brasil), enquanto o meu coração vermelho, branco e preto comemorava os 554 anos da fundação de São Paulo, o meu lado súdito da rainha celebrava o Australia Day, o feriado mais importante destas bandas. Mas o que é o Australia Day?



Podemos dividir o brasileiro que vive na Austrália em 4 grupos: os que acham que o Australia Day é o Dia da Independência australiana (o nosso 7 de setembro); os que acham que o Australia Day é o Dia da Proclamação da República (nosso 15 de novembro); os que acham que o Australia Day é o Dia do Descobrimento (nosso 21 de abril); e os que não acham absolutamente nada. Os que não acham absolutamente nada são os que mais se aproximam da resposta correta, uma vez que no dia 26 de janeiro a Austrália não foi descoberta, não proclamou a república e muito menos declarou a independência.

No referido dia, o australiano se veste de verde e amarelo, pinta a bandeira no corpo inteiro e sai às ruas para tomar a maior quantidade possível de cerveja com o intuito de celebrar o desembarque do glorioso Capitão Arthur Phillip em Port Jackson (New South Wales), ocorrido em 26 de janeiro de 1788. Com ele, vieram da Inglaterra a primeira leva de prisioneiros, oficiais e demais tripulantes para iniciar a colonização na Austrália, à época a mais nova colônia penal britânica de férias. No total chegaram 1373 pessoas, entre homens, mulheres, crianças e namorados de flatmates (detesto namorados de flatmates).



Sim! Os primeiros não-aborígenes que nasceram em solo australiano – também conhecidos como australianos – provavelmente eram filhos de ex-prisioneiros britânicos. Já contei essa história no meu outro site, mas como o blog é meu e ninguém tem nada a ver com isso, recontarei sob a mesma forma de conto de fadas:

Há dois séculos, num velho continente distante, havia uma ilha muito muito grande. Dentre outros tesouros, lá se produziam verdadeiros patrimônios da Humanidade como o whiskie escocês e a indescritível cerveja Guiness. Mesmo vivendo com tamanha fartura e (tecnicamente) felizes para sempre, alguns moradores tentaram facilitar ainda mais as coisas se apropriando indevidamente do que não lhes pertencia. Sem escolha, George III, o rei, colocou-os nos calabouços reais.

George III por Allan Ramsay, 1762

Enquanto isso, na bela e ensolarada manhã do dia 8 de agosto de 1768, o capitão inglês James Cook deixou o porto de Plymouth em seu navio Endeavour e seguiu viagem. Ele desceu pela Ilha da Madeira, passou pela costa oeste africana e atravessou o Atlântico rumo à América do Sul, onde fez uma estratégica parada no Rio de Janeiro em 13 de novembro de 1768. Após um eletrizante Fla-Flu e uma noitada no Morro da Mangueira, Cap. Cook foi para o Pacífico Sul, permaneceu três meses no Taiti observando o planeta Vênus, seguiu para a Nova Zelândia, onde interagiu com a fascinante população maori, até que finalmente aportou na Austrália na bela e ensolarada manhã do dia 19 de abril de 1770.

Capitain Cook por Nathaniel Dance, 1775

Entre um pente e um espelho que distribuiu para os aborígenes, C.C. (Captain Cook) enviou – via Sedex – uma carta para Georginho III contando-lhe sobre as últimas na recém-descoberta terra (na verdade, a China já havia decoberto a Austrália – e quase todo o novo mundo – havia 350 anos, mas isso é assunto para outro texto).

Entusiasmado com o que lera, o visionário monarca, que enfrentava grave problema com a superlotação carcerária, “propôs” aos prisioneiros uma certa “anistia”, caso eles aceitassem viajar alguns poucos quilômetros a sudoeste. Alegres com a bondade real, os detentos embarcaram aos montes e vieram, sob o comando do Capitão Arthur Phillip para a Austrália reiniciar a vida na nova colônia penal (é importante lembrar que os Estados Unidos já eram colônia penal da Coroa Britânica).


Arthur Phillip por Francis Wheatley, 1786

E assim, após 8 meses de viagem com direito a nova parada estratégica no Rio de Janeiro, Arthur Phillip e toda a turma aportaram inicialmente em Botany Bay, em 18 de janeiro, desembarcando definitivamente em Port Jackson, em 26 de janeiro. Trinta anos depois, em 1818, o Governador Lachlan Macquarie realizou a primeira celebração oficial do desembarque que, com o passar do tempo, recebeu diferentes graças como Foundation Day, Anniversary Day, Survival Day e Invasion Day (cortesia dos aborígenes), sendo hoje chamado nacionalmente de Australia Day, o pretexto número 1 para um grande porre cívico.



Algo a ver com o Invasion Day?

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