Pra comemorar 2 anos na Ozzyland, completados na última sexta-feira, 7 de agosto, passei por uma das maiores provas de fogo para medir se o estrangeiro está se integrando ou não à cultura local: o famoso teste do VE-GE-MI-TE.
Quando cheguei na Austrália, eu sabia que existia um tal de Vegemite, mas não fazia a menor idéia do que se tratava. Nas primeiras semanas na escola de inglês, volta e meia um professor comentava e os amigos japoneses, coreanos e colombianos faziam cara feia e torciam o nariz. Eu não entendia, mas ria.
Até que um belo dia, ao abrir o armário de casa, me deparei com um pote de Vegemite. Na verdade, ele sempre esteve lá, mas eu jamais reparara. Porém, naquela bela e ensolarada tarde, ele sorriu pra mim e não tive dúvida.
Sem saber que é uma pasta feita a partir do extrato da levedura da cerveja, quando abri, gostei do que vi. Com coloração escura de chocolate, ele lembrava o finado “Ioiô Crem”. Me empolguei! Eu, enquanto grande tomador de vinho, aproximei-o do nariz e a empolgação imediatamente baixou. Mas àquela altura eu já havia ido longe demais e, retroceder, jamais.
Com certa timidez, mas sempre em nome do jornalismo, peguei uma pequena quantidade com a faca e passei no pão. A cor estava bonita, e eu ainda nutria certa esperança de que haveria algo de chocolate. Mas quando comi, descobri que eu falava muito mais palavrões em inglês do que imaginava. Aquilo foi uma das piores coisas que eu havia espalhado em um pão em toda a minha vida.
O tempo passou, obviamente não mais comi, e sempre que alguém comentava, eu cornetava. Até que um dia, uma professora australiana, ao ouvir eu desfilar uma tese de 5 minutos sobre o quão horroroso era, me explicou que em geral não se come diretamente no pão, o ideal é passar uma camada de manteiga antes, e depois sim espalhar o Vegemite. Apesar do trauma, aquilo fez sentido, mas não a ponto de me sensibilizar a um novo teste-drive. Isso foi até a sexta passada.
Como eu estava na casa do
meu brother-in-law (ele é gente fina demais pra ser chamado de cunhado), australiano em estado bruto, algo me disse que chegara a hora. Afinal, eu completava dois anos no país e precisava saber na escala Vegemite como estava a minha integração com a cultura local. Já tenho as minhas cervejas australianas preferidas, os meus vinhos, os meus parques, praias,
stakes, jornal, time de rugby, jogadores de cricket,
fish and chips,
coffee shops e, principalmente, musas (a atual é polonesa). Mas nada teria valor se eu, mais uma vez, rejeitasse o “Vegê”.
Para o grande teste, contei com a colaboração de um profissional. E com a maior boa vontade, Rob, o
brother-in-law, fez as vezes da casa. Primeiro, tostou o pão. Na sequência, sapecou manteiga. E, completando o ritual, espalhou o Vegemite. Arte pura!
Nervoso, peguei uma fatia. A mão não parava de tremer. Ao aproximar do nariz, um flash-back de dois anos de Austrália veio como uma pasta feita de extrato de cerveja. Lembrei de todas as fases que passei até aqui: Chegada, Fanfarra, Falência número 1, Subindo, Abrasileirando, Brincando de escritor falido, Rompimento com a zona de conforto, Falência número 2, Imersão, Volta, Chamando o escritor e Jornalista na Ozzyland.
Falar que o Vegemite é a coisa mais gostosa do mundo, é mentira. Mas que dá uma amaciada com a manteiga e é totalmente comestível duas vezes por semana, pela manhã, é. Ainda mais seguida por uma ampolinha de 750 ml de VB. Tremendo café da manhã.
E o melhor mesmo, é comer ao lado das duas coisas (sim, são coisinhas) mais sensacionais que vi acontecer nestes dois anos de Austrália, Georgia e Patrick, os dois maiores criadores de anti-corpos do planeta e futuros grandes comedores de Vegemite.
Em homenagem, um pouco de "Vegê" com o
Men at Work:
Buying bread from a man in brussels
He was six foot four and full of muscles
I said, do you speak-a my language?
He just smiled and gave me a VEGEMITE sandwich
And he said,
I come from a land down under
Where beer does flow and men chunder
Cant you hear, cant you hear the thunder?
You better run, you better take cover.