domingo, 16 de março de 2008

Queen Victoria em Sydney



Há dois domingos a Rainha Vitória esteve em Sydney. Obviamente não estou falando da gloriosa Vitória do Reino Unido (1819-1901), também conhecida como Imperatriz da Índia, a filha do príncipe Eduardo, o Duque de Kent, e neta do rei Jorge III, o Jorginho, que apaixonou-se por seu primo-irmão, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, e casou-se com ele por... amor (prática absolutamente incomum nas rodinhas imperiais da época).



Vitória teve o reinado mais longo do Reino Unido (1837-1901) e, até hoje, influencia não só a Inglaterra e todo o Reino Unido, como também as ex-colônias penais Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, entre tantas outras (especialmente na arquitetura – somos vitorianos em estado bruto, meus amigos).



Mas voltando ao foco central deste texto, há dois domingos esteve em Sydney o Queen Victoria, o segundo maior navio turístico do mundo. Batizado em 11 de dezembro de 2007 em homenagem à Vossa Majestade, nosso Queen Victoria pesa 90 mil toneladas, possui 294 metros de comprimento, 36 de largura e 62,5 de altura. Ele navega a aproximadamente 24 nós (ou 44 km/h – é praticamente uma mobilete), transporta 2014 passageiros (com 2015 ele afunda), 900 tripulantes e custou cerca de UK£ 270 milhões.



Infelizmente não pude vê-lo, mas minha amiga fotógrafa Claudia Marquezi esteve na Baía de Sydney e fez essas belas chapas!

Portentoso, não??? (Como diriam as bichinhas asiáticas da minha classe).




terça-feira, 4 de março de 2008

Princesão do cricket - As perguntas que não querem calar



Esta noite não foi das melhores para a seleção australiana de cricket. Em mais uma partida da polêmica temporada 2007/2008 (ver O tal do cricket), a Austrália perdeu para os indianos num final eletrizante. Mas como brasileiro não está nem aí pra cricket – eu só acompanho por ofício, uma vez que convivo diariamente com australianos, nepaleses e bengaleses, todos apaixonados pelo esporte – vou parar por aqui e seguirei direto para o que interessa.

Vejam a ombrada que o nosso glorioso Andrew Symonds, um dos pivôs de toda a polêmica da temporada, deu no invasor australiano que mais parecia um queijo minas em má fase. Sen-sa-cio-nal! Mas vamos às perguntas que não querem calar:



Primeiro:
por que gringo (especialmente europeu no inverno) adora invadir praças esportivas completamente nu?

Segundo: o que leva uma pessoa a invadir uma praça esportiva completamente nua?

Terceiro: o que leva uma pessoa a invadir uma praça esportiva completamente nua, sabendo que terá que pagar 5 mil dólares australianos de multa? Isso mesmo! Cinco pau (sem trocadilho) e ainda levará umas bordoadas, seja dos atletas (na verdade, estes não podem, Symonds provavelmente será punido), ou dos tiras!

Quarto (e não menos importante): o que leva uma pessoa a invadir uma praça esportiva completamente nua, sabendo que será ridicularizada por milhares de espectadores no estádio, por milhões que assistem pela TV e pelo resto da vida na Internet?



Eu não entendo! Mas vejam a sequência da ombrada que o princesão do cricket levou!


terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Water - um grande problema



Não é novidade pra ninguém o sério problema relacionado à água que enfrentamos no planeta. Por aqui, a questão é ainda mais grave. Não que esteja faltando no momento, muito menos que vivemos em meio a constantes racionamentos, mas o problema é acentuadamente linguístico.

A Austrália abriga gente do mundo inteiro. Assim, diariamente convivemos não só com diferentes línguas e culturas, mas diferentes sotaques em torno do inglês (praticamente variações sobre o mesmo tema). Por exemplo, nós, brasileiros, falamos o inglês “the book is on the table”, os italianos um inglês absolutamente “macarrônico”, os orientais o inglês “sénkio, I’m shy”, os latinos-hispânicos o inglês “speedy gonzales”, os franceses o inglês “vive la révolution”, os ingleses o inglês “pommy” (Proud of Mother England or something like that), o pessoal do leste europeu o inglês “na zdravi” e assim por diante.



Pois bem, como sabem, trabalho como garçom num restaurante mexicano. E uma das primeiras ações que faço quando chega novos clientes é correr com uma simpática, gelada e colorida garrafa de água. Opções de cores não faltam, mas este não é o ponto do texto. A questão é a pronúncia que devo escolher na hora de oferecer:

- Would you like a glass of water?

Perceberam a encrenca? Qual é a correta pronúncia de water? “Uóra“? “Uóta“? “Uórer“?“Uóter“ (com “t” mudo e sem “t” mudo)?



Cada cliente tem um sotaque absolutamente diferente, e eu preciso fazer um exercício mental de adivinhação para tentar identificar a origem da pessoa e qual o sotaque mais apropriado que devo usar para oferecer a simpática, gelada e colorida garrafa de água, de modo que ele não olhe para a minha cara com o maior desprezo do planeta, e pergunte:

- Whaaaaat? (Leia-se “Uóóóóóóóóóóóóót“?)

Assim, no melhor estilo “the water is almost on the table”, trabalho algumas faculdades mentais de projeção geográfica, outras de pronunciation, e tudo para oferecer uma simpática, gelada e colorida garrafa de água e não tomar um sonoro “uóóóóóóóóóót“ na cara. Especialmente quando se trata de um pommy (o britânico da Inglaterra), o discípulo mais próximo de Vossa Majestade, que é, disparado, o mais arrogante quando o assunto é língua inglesa. Mesmo aqui em terras australis, cujo povo local fala o inglês “outback-mate”.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Mop – O melhor amigo do brasileiro



Não tem jeito, ao decidir se mudar para a Austrália, o brasileiro passa a ter duas certezas: que a Globo continuará passando o Especial do Rei no final do ano; e que, ao chegar aqui, mais cedo ou mais tarde vai pegar num mop.


Mop, para quem não sabe, é aquela anglo-saxônica vassoura high-tech não muito comum no Brasil, que apresenta um incrível sistema de secagem. Ao “chuchá-la” num balde com água e alguns produtos químicos, o moper (pessoa que está no comando do mop) tem a opção de usá-lo enxarcado, molhado, molhado quase seco, sequinho, enfim, é um infindável leque de opções para escolher, de acordo com a necessidade de cada trabalho. Mas não é só. Acionando (sempre manualmente com os pés) o sistema de secagem, ele faz a operação inversa. Isso mesmo! Se o piso está molhado, é possível usar o mop para secá-lo. Absolutamente sen-sa-cio-nal!



Com exceção do Juninho Paulista, que veio pra Austrália para jogar futebol – e mais uma meia dúzia de quatro ou cinco brasileiros, o restante pegará no mop, seja domesticamente, quando dará um tapa na casa, ou profissionalmente, em uma cozinha de restaurante, num quarto de hotel, num banheiro de escritório, num buffet às 2 da manhã, enfim, pisou na Austrália, mop à vista (esta foi uma das primeiras frases do Captain Cook, em 1770).

E o mop é um sinal de prosperidade. Bem, na verdade não a prosperidade em si, não ela em estado bruto, mas o início, talvez o primeiro grãozinho do que um dia virá a ser chamado de prosperidade, pois se um brasileiro está fora de casa com um mop na mão, significa que ele está recebendo por isso. Dez dólares australianos por hora, douze dólares, quatorze, vinte, não importa, mop na mão é dinheiro no bolso (TCHU-TCHIM!).









segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sorry Day e a maldição da múmia (ou seria do múmio?)



Quarta-feira passada, 13 de fevereiro, Kevin Rudd, nosso primeiro-ministro, pediu desculpas ao povo aborígene pelos abusos cometidos desde a chegada do intrépido Captain Cook, em 1770, principalmente em relação à chamada “geração roubada” (veja filme homônimo do diretor Phillip Noyce – Rabbit-Proof Fence, em inglês), ocorrida nas primeiras décadas do século XX.



O australiano médio, que torce o nariz para os aborígenes, não gostou muito do pedido de desculpas, que entrou para a história como Sorry Day. Mas ele também não morre de amores pelos japoneses, coreanos, chineses, indianos, libaneses, enfim, parte da população é de fato preconceituosa, assim como acontece em praticamente todos os cantos do planeta.


Eu assisti à cerimônia e me emocionei. Num mundo sem muita esperança como o nosso, cuja figura mais poderosa atende pelo nome de Georg W. Busha, ver um homem branco, comandante de uma economia que movimenta cerca de US$ 700 bilhões por ano, tomar uma atitude como esta, é, no mínimo, confortante.



Claro, sou suspeito pra falar. Na contra-capa do meu livro é citado o povo aborígene (“nativos da Oceania” – http://www.livropablonacer.blogspot.com/), viajei 3 vezes para uma aldeia indígena xavante no Mato Grosso, fui adotado por um clã, batizado e devo muito a eles. Mas acredito que tantas outras milhões de pessoas que não necessariamente tenham alguma ligação com os povos nativos, também se emocionaram com o Sorry Day.



E falando nos primeiros a chegarem, terminou esta semana no National Maritime Museum (em Darling Harbour – Sydney), a exposição Iceman – the story of Ötzi, sobre o nosso irmão mais velho. Encontrado nos Alpes, entre a Itália e a Áustria, em 1991, o finado, delgado e congelado Ötzi é a múmia mais antiga do mundo (por que não múmio?). Ele estava no gelo há 5.300 anos e foi descoberto acidentalmente por turistas.



Além de fotos impressionantes da múmia, a exposição também trazia uma réplica em tamanho real do corpo e de como ele devia ser (barba, cor do cabelo etc), peças e objetos que reproduziam a vida do glorioso Ötzi e as possíveis causas de sua morte (em off: mataram o homem). Muito interessante! Se a exposição for para a sua cidade, não perca. Afinal, o cara não ficou 5.300 anos pelado no gelo para ser ignorado (não é à toa que existe a tal da maldição da múmia - ou seria do múmio?).

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Comédia verde e amarela em alta velocidade

Final de semana passado, graças ao novo brinquedinho de um sheik da real família do Dubai, o domingão da brasileirada foi divertido. Fomos em mais ou menos 30 pessoas (98.7% brasileiros) assistir ao Grande Prêmio de uma categoria que até então nunca ouvira falar, uma espécie de genérico da Fórmula 1 com carros muito semelhantes, pilotos não muito conhecidos e bilhões de petro-dólares investidos.

Trata-se da A1, petro-autorama criado no ano passado pelo sheik Maktoum Hasher Maktoum Al Maktoum, que já foi aprovada pela FIA e tem a pretensão de rivalizar com a Fórmula 1. Não estou entre os maiores apreciadores de carros e corridas, mas dois aspectos me chamaram a atenção nesta categoria:



1. Os carros correm com os chassis, motores e pneus dos mesmos fornecedores, o que aumenta o equilíbrio na competição.

2. As equipes são, na verdade, 23 franquias vendidas por Sua Majestade, o sheik. E cada uma delas representa um país. Ou seja, na A1 não tem Ferrari, McLaren ou Gurgel, mas Brasil, Itália, Austrália e assim por diante. Uma espécie de Copa do Mundo automobolística, com os carros correndo com a cores do país, pilotos e mecânicos de mesma nacionalidade, enfim... O Galvão Bueno não pode saber disso!

Bem, como o treino que definiria o grid de largada começaria às 11 da manhã, marcamos de sair às 9h30 de Bondi Junction, onde um ônibus estaria nos esperando. Perceberam a encrenca? Domingo, 9h30 da matina, ônibus para sair com 3 dúzias de brasileiros... É óbvio que às 11 e pouco a barca ainda estava lá, parada, uma vez que ainda tinha gente chegando. Mas sabem como é, penca de brasileiros juntos, domingo chuvoso por aqui, sábado de Carnaval no Brasil, e assim, em poucos minutos, o pessoal da Capoeira Brasil, um grupo bastante conhecido por estas bandas, sacou um surdão, uma caixa, mais alguns instrumentos e fizeram um rápido “ensaio técnico” antes da partida. Era apenas o começo da aventura.



O autódromo de Eastern Creek fica longe pra caramba. Aqui, quando alguém fala que o lugar é longe, acreditem. Em condições normais, o tempo médio é de 50 minutos. Mas como estamos falando de domingo chuvoso, dúzias de brasileiros e um motorista figuraça que, além de ter tido seus 15 minutos de fama durante as Olimpíadas de Sydney ao aparecer chacoalhando a caixa torácica para bilhões de espectadores em todo o mundo, não sabia o caminho. E, claro, o pessoal do ônibus tão pouco, apesar de que todos borrifavam “esquerda”, “direita”, “entra aí” e “não é essa” com absoluta “popriedade”. Não sei como, mas debaixo de um pé d´água colossal, muito barro no pé e lama no tornozelo, chegamos no autódromo.


Samuel, nosso motorista

Logo que nos instalamos na arquibancada e o pessoal começou a fazer um sonzinho, as figuraças começaram a aparecer. Primeiro foi a versão aussie da Vovó Mafalda, que logo caiu no samba.



Depois foi um Robert que fazia “evoluções” com um chapéu. Era o típico cara que se estivesse num estádio de futebol na Inglaterra, invadiria o campo pelado.



A festa foi esquentando e o pessoal chegando. Os torcedores indianos, que estavam em massa, nem se importaram de "sambar" ao lado dos vizinhos do Paquistão, inimigos na Caxemira, mas que na Austrália e no meio de um monte de brasileiros viram irmãos.



A sonzeira logo chamou a atenção do autódromo inteiro, incluindo os pilotos brasileiros que apareceram para agradecer o apoio. O pessoal dos camarotes também foram até as sacadas para ver e tirar umas chapas, fotógrafos e cinegrafistas vieram fazer umas imagens, enfim, só faltou o Mestre dos Magos aparecer (ops, ele apareceu!).



Virou Carnaval!



Faltando uns vinte minutos para o início da corrida, a batucada deu uma trégua e um inesperado congestionamento de Ferraris chamou a atenção na pista.



Obviamente, em poucos segundos várias modelos (e atrizes) perfilaram-se ao lado do grid, de frente para os carros. De dentro de cada um descia um piloto que, para se proteger da chuva, colava nas modelos (e atrizes).



É claro que o nosso glorioso Sérgio Jimenez, o piloto brasileiro, no melhor estilo “pricesão de Eastern Creek”, foi o primeiro a se arranjar por ali.



Ferraris de volta para o caminhão-cegonha do sheik, era hora de formar o grid de largada. Lá, entre pilotos, mecânicos, modelos (e atrizes), imprensa e meia-dúzia de vips e aspones, quem também apareceu quebrando todo o protocolo foi o nosso intrépido Samuel, o motorista, com a galera da Capoeira Brasil, que “abrasileiraram” o grid minutos antes da largada. (Definitivamente era domingo de Carnaval).



Quando o relógio apontou 3 em ponto, os carros saíram para a volta de apresentação e logo achamos que o Rubinho também estava na prova, mas foi apenas impressão.



Após a largada oficial, sem televisão, sem monitores e sem Reginaldo Leme (o irmão do Dinho) para comentar, ficou difícil acompanhar a corrida, mas, por sorte, alguém falou que o brasileiro estava em 4º, o boato se espalhou e, toda vez que se perguntava em qual lugar estava o brasileiro, a resposta era a mesma: 4º (mesmo quando estava em 3º, 5º, parado nos boxes ou em último).



E assim, sem muita escolha, nosso Sérgio Jimenez acabou a corrida em... 4º lugar, atrás do sulafricano Adrian Zaugg, do suíço Neel Jani e do britânico Robbie Kerr, 1º, 2º e 3º colocados, respectivamente. Após a festa do pódio e a comemoração pelo... 4º lugar, era hora de voltar pra realidade. Assim, em vez de Ferraris e carros do sheik, passamos ao lado de veículos mais condizentes com o nosso dia-a-dia tupiniquim...



...e voltamos para o bumbão, um velho de guerra que faz a linha daqui de Sydney e, quando fica velho e caindo aos pedaços, é alugado para brasileiros.



Mas quem tem Samuca no volante, meus amigos, “o verdadeiro sheik-man (ops, “shake-man”), chega em qualquer lugar. Mesmo que em 4º.



Dá-lhe, Samuel!!!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Descascar um abacaxi e as Grandes questões da Humanidade

Demorei 31 anos para descobrir que a expessão "descascar um abacaxi" é literal. Ontem, após o almoço e sob um sol desértico, resolvi comer umas fatias do abacaxi que comprara pela manhã.

Até aquele momento, eu só havia comido abacaxis prontos, fossem eles previamente descascados e fatiados por terceiros, ou comprados naquelas embalagens à vácuo. Mas pegá-lo em estado bruto e tirar a casca para depois fazer as famosas rodelas, foi a primeira vez (praticamente um primeiro soutien).
A grande revelação aconteceu quando eu estava perdendo preciosos minutos afiando a faca, pensando no corte, exercitando os bíceps na tentativa de atravessar a casca, vendo a sujeira que fazia, enfim, quando transpirando sobre a pobre planta monocotiledônea da família das bromeliáceas, percebi que o ato de descascá-la é, de fato, um enorme problema de proporções literárias.

Para os próximos dias, continuando o meu empenho em desvendar as grandes questões da Humanidade, vou adquirir uma jaca e inserir o pé na mesma (falando tipo elevador), para descobrir o porquê da expressão "enfiar o pé na jaca".

Importante: é evidente que a foto acima foi afanada na Internet e não retrata o péssimo serviço que fiz!