sexta-feira, 17 de abril de 2009

Camarada Pablo



Ontem, pela primeira vez desde que cheguei na Austrália, trabalhei como peão. É verdade! Por aqui, estudante internacional só pode labutar legalmente até 20 horas por semana, exceto nos períodos de férias, quando é ilimitado. Como temos algumas semaninhas de pausa a cada três meses, é hora de aproveitar para faturar. Ainda mais em tempos de crise mundial, quando só não vale vender o corpinho.

Fui a uma mansãozinha em Rose Bay como assistente do meu amigo de décadas Cadinho, que por sua vez era assistente de um russo gente fina especializado em reformas. O caso era simples. O barão, o dono da mansãozinha, deixou umas caixas armazenadas na garagem, em cima de uma bancada alta de madeira. Como estavam próximas das luminárias, numa certa noite as caixas esquentaram demais e pegaram fogo. Por sorte, as duas BMWs e uma terceira nave não-identificável não foram atingidas, mas o forro, o teto e as paredes ficaram totalmente flambadas.

Nossa missão era destruir o resto do forro, limpar o tostado das paredes e colocar um novo teto. Coisa simples! Principalmente sob o comando dos “ingenheiros” (falando estilo Didi Mocó) russos, espécies de Kasparovs da construção civil com lampejos de Sputnik.



O problema de trabalhar com russos, é o fato de que quando eles conversam entre eles – obviamente em russo – não se sabe se estão brigando, xingando as respectivas mães, discutindo se o comunismo ainda é o melhor sistema, quais os melhores rumos para o partidão ou conspirando para assassinar o nosso primeiro-ministro. É sério! Por sorte, não faço a barba há umas semanas e assim eu era uma espécie de companheiro Pablo versão camarada de Cuba (quase um sobrinho do Fidel), o que ajudou a me ambientar por lá.



E fiquei ainda mais em casa quando chegou um dos eletricistas. O cara era igualzinho ao Ritchie (aquele mesmo, do clássico Menina Veneno). Como grande oitentista que sou, comecei a lembrar do Gorbachev, da Perestroika, guerra fria, Ronald Reagan, Colosso do Playcenter e, quando me dei conta, a mansãozinha de Rose Bay já havia ganho um forro novo, e eu, graças ao bom Deus vivendo na Austrália, estava indo pra casa com 100 doletinhas no bolso e a dúvida se tomava um shotzinho de vodka ou rum.

Hay que faturar sin perder la ternura jamás!


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