sexta-feira, 7 de maio de 2010

Risoto com redução de... (preço)

Aqui na Austrália é assim. Em certos horários, você sempre encontra produtos com preços reduzidos (e ainda frescos, claro). Isso ocorre principalmente à noite, mas é possível achar a qualquer hora.



Após uma degustação monstra de Pinot Noir na terça (pra eu falar monstra, podem ter certeza, foi), e uma excelente noite na quarta ao som do Abuka Trio, ontem, a única coisa que eu queria era ficar em casa. E, já terminado todos os textos do dia por volta das 17h47, por que não preparar um jantar um pouco mais, digamos, princeso?

Abri o armário da cozinha (o meu) para ver o que tinha. A cena não era das mais animadoras: café Pilão, pão de fôrma no final, arroz, chás, Vegemite (si, me gusta), Weet-Bix (o cereal matinal oficial dos Socceroos) e meio pacote de arroz arbório, o que foi uma luz no fim do túnel. Peguei.



Tendo um potencial risoto em mãos, a grande questão era: do quê?

Abri a geladeira e a situação também não estava nada animadora. Sendo hoje o dia de receber, ela não apresentava muita opção além do trivial do dia-a-dia. Abri o freezer. Ops, outra luz. Cinco duplas de chorizo do meu supplier oficial, a Barbiecrew. Passei a ter um potencial risoto de chorizo. Mais! Como havia feito a outra metade do arbório há uns dias, sobraram dois containers com o stock, o famoso caldo. Ou seja, praticamente o goleiro, a zaga e o centroavante. Faltava apenas o meio-cancha para dar a liga. E é aí que entra em campo o supermercado com preços reduzidos.

Subi para Bondi Junction como um franco atirador. A ideia era simples: achar alguma delicinha que desse liga gastando o menos possível. Afinal, na volta para casa teria uma parada estratégica em um bottle shop.

Tendo o chorizo como atacante, arisco, nervoso, precisava de um meio-cancha mais técnico, classudo, que cadencie o jogo, desses jaquetas 10 que não se têm mais atualmente. Bem, o Corinthians tem, o Danilo, mas o Mano não sabe usá-lo. Enfim, fui direto para os queijos, pois estava com a sensação de que era ali que eu acharia a peça que faltava. E não deu outra!

Na Austrália, temos o gorgonzola, mas é muito mais comum encontrarmos o blue cheese. É ele que usamos para subtituir o gorgô. Já o brie é o brie. Eu não misturaria um gorgonzola com um chorizo, principalmente tratando-se de um risoto, mas quando vi um blue brie, achei interessante. O brie por si só seria perfeito, daria aquela liga para o chorizo, bem ao estilo Danilo, mas o brie puxado para o blue, que eu nunca tinha visto, me pareceu uma espécie de Zidane, que além de distribuir o jogo, chega com tudo no ataque e ainda faz golaços. Levei!



No caminho, comprei o Shiraz/Grenache Art Series 2008 do nosso amigo Peter Lehmann, ícone do vinho australiano, especialmente na região do Barossa. O Shiraz pensando no chorizo e a Granache pra harmonizar com o queijo. Essa linha, a $11.60, é uma das mais em conta, mas sabia que era boa pois, sendo um ótimo produtor, a chance de errar é bem pequena.



O risoto não teve mistério. Apesar da foto horrorosa, fiz do jeito de sempre, a combinação do chorizo com o blue brie ficou perfeita, o vinho estava redondo enquanto eu cozinhava, mas depois ficou um pouco abaixo, pois faltou estrutura para segurar o chorizo e, principalmente, o cayenne pepper.



Sim, meus amigos, o meu armário estava vazio, porém, o armário coletivo aqui do Château Elle Macpherson mais parecia a Ilha das Molucas, de tanta especiaria. A princípio eu queria usar um açafrão-da-terra, mas na falta, sapequei o tal do cayanne, que nem sei o equivalente em português, mas levantou ainda mais o sabor da comida, sobrecarregando o vinho.

Sem problema! A botella já estava quase no fim, pois também havia usado para redução do arbório. Porém, a grande redução da noite foi mesmo a do blue brie, no caso, redução de 33% do valor, custando apenas $2.94 (e ainda bem fresco).



E tudo ao som da minha amiga Carlotta Centanni, gata italiana de voz potente e entusiasta da música brasileira que me presenteou com seu belo CD, Respiro. Salute!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Aos amigos corintianos da Austrália

A primeira torcida oficial de um time de futebol nos Eastern Suburbs - exclusiva para jogos da Libertadores da América - nasceu em 22 de maio de 2008, no Coogee Bay Hotel. Nome? Setanta Tricolor. Na ocasião, fomos eliminados pelo Fluminense com um gol do Washington no último lance do jogo. Nossa esperança de gol naquela partida? Adriano.



Hoje de manhã, houve uma tentativa semelhante. Alguns corintianos tentaram formar a Gaviões da Fiel Eastern Suburbs. Fizeram um estardalhaço na véspera, falaram que invadiriam os principais local pubs da área, mas não foi o que aconteceu. Como um entusiasta da Libertadores, juntei-me aos 4 corintianos para acompanhar a partida. Isso mesmo, invasão de 4! A maior esperança de gols contra o Corinthians? Adriano, mais uma vez.

Obviamente não ficarei aqui fazendo chacota e pilherices com a desgraça alheia, mas vendo o sofrimento dos amigos, imaginando a dor de tantos outros corintianos que vivem na Austrália como, por exemplo, o ícone maior Roberto Banana, figuras como Alexandre Rubial, Balu e Gustavo Durasi, entre tantos outros bravos torcedores, fica aqui o meu apoio e uma dica.

Não percam amanhã o tradicional VB Test Match de Rugby League, envolvendo Austrália x Nova Zelândia, ao vivo, a partir das 20h, no Channel 9. Vai ser um jogaço! O escrete aussie entrará com craques como Billy Slater, Brett Morris, Greg Inglis, Jarryd Hayne Winger, Darren Lockyer e Cameron Smith. Já os kiwis vêm com niguém menos do que Benji Marshall, Adam Blair, Kieran Foran, Issac Luke, Sika Manu e Steve Matai. Imperdível!


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Duas boas novas e uma má



Começando pelas boas, hoje, a partir das 20h, tem Abuka Trio, o melhor trio de bossa nova/mpb de Sydney, no Robin Hood, o melhor local pub de Bronte. Para quem não os conhece, vale muito a pena. O Robin Hood está na 203 Bronte Rd, pertinho de Bondi Junction.

A segunda boa é que no domingo tem Tropical Jam, a banda do nosso glorioso Jam Leia (ou simplesmente Geleia), no Beach Road. O show é parte do Cultura Bondi, e Geleia (sem acento mesmo, respeitando a última revisão gramatical) estará acompanhado do Marcelo Maio, o tecladista do Abuka Trio, do Rogério Pulga no baixo, entre outros ótimos músicos. Os dois eventos são imperdíveis.



A má notícia fica por conta do World Sailing Speed Record Council, que quer jogar água no chope da Jessica Watson (no caso, na limonada). É verdade! Eles afirmaram que o feito dela será importante, blá, blá, blá, mas que não valerá para efeito de recorde mundial. Os "oceanocratas" levantam alguns pontos como a necessidade de navegar mais de 21.600 milhas naúticas, de ir mais a norte do que ela foi quando cruzou a Linha do Equador, entre outros. Resumindo: querem boicotar a Jess! Desde o começo ela e os pais foram muito criticados, imprensa e "especialistas" viam a jornada com grande desconfiança, enfim, estão com inveja por não ser o filho deles, por não ser um homem e por ela ser menor de idade. #prontofalei

terça-feira, 4 de maio de 2010

Novidade - Braussieleiro Web TV

Cornetar brasileiro pelas presepadas é fácil. O blog poderia ficar só contando causos que jamais faltaria assunto. Mas como também tem muito cara talentoso lutando para conquistar seu espaço, nada melhor do que divulgar e ajudar a valorizá-los.

Raphael Pires é um deles. Carioca da Zona Norte e jornalista especializado em TV, o homem viveu alguns anos nos Estados Unidos, está há um ano e sete meses na Austrália e é desses que ralam muito não só para sobreviver aqui mas, principalmente, para viver fazendo o que ama.

Um dos resultados foi lançado semana passada e atende pelo nome de Braussieleiro Web TV. Traduzindo: BR-AUSSIE-LEIRO, programa que vai ao ar a cada duas semanas mostrando lugares, histórias e curiosidades sobre a Austrália e o modo de vida de aussies e brasileiros.

Ou seja, é uma ótima oportunidade para quem está no Brasil e nas outras filiais tupiniquins pelo mundo de ter uma ideia de como as coisas funcionam no terceiro continente à sua escolha; e também para o brasileiro que vive na Austrália, o braussieleiro, de saber um pouco mais sobre o país que escolheu para amarrar o burro (no caso, o canguru).

No programa, Raphael apresenta, escreve, produz, dirige, bate escanteio, corre pra área, cabeceia, enfim, faz praticamente tudo. Os episódios serão lançados no blog http://www.raphaelpires.blogspot.com/ e o primeiro você pode ver abaixo. Aproveitem!



Parabéns, Rapha!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Jessica Watson - Agora vai!

Continuando o post anterior...

As condições climáticas não estavam tão ruins quanto se esperava, apesar das rajadas de vento de aproximadamente 40 nós. Com isso, Jessica Watson, nossa Amyr Klink de saias, conseguiu contornar o último cabo da jornada, o Cape of Tasmania (ou seja, passou por todos do hemisfério sul), e agora, com ventos de 25 nós e ondas cada vez menores, sobe serelepe a costa da Tasmania rumo a Sydney.

Já são mais de meio ano desde que partiu da Sydney Harbour, em outubro do ano passado, e o feito nunca esteve tão próximo. Principalmente agora que navega em "águas familiares", segundo escreveu no blog.

A mil milhas náuticas de casa, o negócio é manter a concentração, segurar a ansiedade por um banho quente e torcer por condições cada vez melhores de navegação. O resto é história!

Esses dias, visitando o ótimo blog que o amigo Rafael Cury tem com outros 6 escribas, 0 7 Cronistas Crônicos , li o primeiro parágrafo de um texto que não apenas traduz o que tenho como ideal de vida (na verdade, o oposto disso), como também a imensa admiração que sinto pela Jessica Watson.

O parágrafo foi extraído do texto Menos um, de Leandro Afonso Guimarães.

Uma boa parte (ou talvez até a maioria) das pessoas que conheço faz basicamente duas coisas: sair de casa, trabalhar, voltar para casa e dormir. Nos finais de semana e feriados, na maior parte deles, elas descansam, cada uma à sua maneira – e, se sobrar tempo, se entregam a algum tipo de repouso. A desculpa é o cansaço. Investem no sono e na rentável ocupação de oito ou mais horas diárias não para (sobre)viver, mas porque não fariam nada de interessante caso tivessem mais tempo. Não sei se sou privilegiado por conhecer pessoas tão sedutoras em escala industrial, mas acho no mínimo interessante a maneira como elas lidam com a existência.

domingo, 2 de maio de 2010

Jessica Watson - O pior ficou para o fim (mas vai passar)



A situação é a seguinte. Jessica Watson, a adolescente australiana que está prestes a se tornar a pessoa mais jovem do mundo a circunavegar o planeta sozinha, sem parar e sem assistência, poderia estar muito mais próxima de Sydney. Poderia, pois é justamente nas milhas náuticas finais que a jornada está mais complicada.



Conforme escrevi no último post sobre a nossa Amyr Klink de saias, após entrar em águas australianas, Jessica seguiria pela Great Australian Bight, entre os estados de Western Australia e South Australia, depois, em vez de "ir reto" e atravessar o Bass Strait, entre Victoria e Tasmania, ela desceria a sudeste, navegaria ao sul da Tasmania, contornaria o estado-ilha e depois subiria para Sydney. Tudo isso para evitar o Bass Strait, que além das más condições climáticas, é repleto de barcos e ilhas.



Porém, já faz uma semana que o caminho pela Tasmania também está complicado devido a um sistema de baixa pressão (pra facilitar: péssimo tempo), que a obrigou a praticamente ficar parada aguardando melhora na previsão. Mas como estamos falando de mar e não de rodovia, "parada" não é exatamente o termo correto, principalmente porque onde ela se encontra, o tempo também está deplorável, com ventos que passam dos 35 nós e ondas de 10 metros, como essa segunda na foto acima. Não preciso dizer que o Ella's Pink Lady capotou recentemente (mais de uma vez), e ela está com alguns hematomas.



Bem, o negócio é ter paciência, não deixar que a ansiedade de abraçar os pais e tomar um banho quente atrapalhe e esperar por dias e ventos melhores. Que certamente virão, não só no mar, mas principalmente em terra firme após tamanho feito.

Anotem aí: próximo 26 de janeiro - Jessica Watson - Australian of the Year!

Fotos: Jessica Watson
Blog oficial da aventura: http://jessicawatson.com.au/_blog/Official_Jessica_Watson_Blog/

sábado, 1 de maio de 2010

Blog Paulinho Martins

Paulinho Martins é um chef paulistano radicado na Bahia que conheço há 21 anos. Ele teve participação direta em algumas passagens importantes da minha vida, quando, por exemplo, eu estava para tomar bomba no primeiro colegial e ele falou: "Vem pro Objetivo que não tem erro". Não deu outra, foram os 2 anos e meio mais divertidos dentro de uma escola (e sem repetir, claro).

No final dos anos 1990, eu sabia que adorava comida, gastronomia, mas ainda não havia verbalizado a coisa. Até comecei a estudar francês. Vivíamos em cidades diferentes e fiquei sabendo que ele havia largado a advocacia para virar cozinheiro. Meio mundo caiu matando, desde o início achei ótimo.



Anos se passaram, nunca mais vivemos na mesma cidade, mas sempre que nos encontrávamos, ou ele me levava para intermináveis degustações de vinho ou tomávamos quantidades industriais de cerveja conversando sobre gastronomia, mulher, política (naquela época eu ainda falava sobre política) e futebol (não necessariamente nessa ordem).

Em 2005, durante viagem a Camburi, fomos ao Manacá, restaurante do mestre Edinho Engel onde Paulinho trabalhou por anos. Chegamos no meio da tarde, Edinho estava com a mulher Wanda e alguns amigos. Não os conhecia, sentamos e passamos a tarde tomando vinho e experimentando alguns queijos.

Tudo ia bem até que fechamos com um vinho do Porto. Aquilo foi uma porrada na minha cabeça, de tão complexo e sedutor. À noite voltamos ao Manacá, baita jantar, noitada sem fim com a brigada do restaurante, mas depois, ao retornar para São Paulo, o Porto não saía da cabeça. Ele ficou durante uma semana conversando comigo, até que tomei uma decisão: estudar vinho.

Me inscrevi no curso básico para iniciantes do SENAC (recomendo para qualquer um que queira iniciar na enologia), passei a frequentar tudo quanto era degustação, ler todas as revistas e livros que passavam na minha frente, conheci gente da área e mais importante (e prazeroso): tomei o máximo que o bolso e o fígado permitiam (o primeiro atrapalhava mais do que o segundo, que era um verdadeiro tanquinho de tanto que o treinava).


Na Bahia com Sandrinha.

Tentando direcionar o jornalismo para esse lado, mais tarde fui convidado para editar uma revista de enogastronomia. Por detalhes, o projeto não aconteceu, mas virei editor de uma publicação de culinária. Após um ano, saí e passei um mês sabático na Bahia, hospedado na casa de Paulinho (com sotaque), vivendo enogastronomia em tempo integral. De volta a São Paulo, fiz curso de 6 a 8 semanas (não me lembro exatamente) na Wilma Kovesi - indicação dele mesmo, que havia começado lá -, e decidi, motivado pelo vinho e pela gastronomia (além da corrupção e da violência do país), vir para a Austrália.

Bem, falei tudo isso porque o Paulinho está começando um blog muito bacana, com ótimos textos e tenho certeza de que vão gostar. Um deles, em especial, está fantástico, que é a saborosa simplicidade de um bolo de bolo da Bahia. É só clicar!

Aproveitem, pois além de cozinhar muito, o homem também escreve um bocado!

Saúde, meu chapa! Ou cheers, já que o senhor ainda virá cozinhar aqui e será um paulistano-soterozzytano.

www.paulinhomartinscsg.blogspot.com