Alguém viu a blitz que rolou na estação de Bondi Junction essa manhã? Os policiais estavam espalhados por todos os lados, da saída dos ônibus - bloqueando as duas portas de cada - à todas as catracas dos trens. Esquema grande. Só faltaram os simpáticos cães farejadores, mas como o foco da operação era pegar pessageiros com bilhete, digamos, errado (ou sem bilhete) e não drogas, Totó, Rex e cia ganharam
day-off.
O sistema funciona mais ou menos assim. Burlar o transporte público na Austrália é fácil, mas se a pessoa é pega, paga multa de $350. Aqui em New South Wales, a viagem mais barata de ônibus custa por volta de $2, de trem talvez pouco mais, um bilhete que dá direito a dez viagens sai em torno de $26, o semanal, que integra trem, ônibus e ferry em uma zona que vai além das fronteiras de Sydney sai por $41 e o mais caro de todos, a versão deste semanal que permite rodar o estado inteiro sai por $57. Lembrando: a multa é $350.
Acredito que uma das motivações que trazem boa parte dos brasileiros para a Austrália é justamente morar num país civilizado, de primeiro-mundo, onde as coisas funcionam, as leis são respeitadas e o mesmo se espera de cada cidadão. Quem procura fazer a coisa certa por aqui, tem o sistema totalmente a seu favor. Mesmo assim, ainda há muito brasileiro que desembarca com o best-seller favorito do país - Os 10 Mandamentos de Gérson - no bolso.
Só para citar um exempo, há dois anos eu trabalhava com uma brasiliense que se gabava de pagar uma ninharia por semana em transporte público. Um dia, perguntei se ela não se sentia mal ou se não tinha medo, a resposta, com aquele ar de esperteza que só os discípulos de Gérson têm, foi fiz a conta com as minhas amigas e mesmo se a gente for pega, o que economizamos compensa os $350. Felizmente, ela já voltou em definitivo para o Brasil.
Semana passada, dois brasileiros que moram perto de casa, mas que não os conheço, se aproximaram correndo para pegar o mesmo ônibus. Era o 333, que só aceita bilhete, e o esperto número 2 comentou com o esperto número 1 que não poderia embarcar, pois não tinha bilhete e não teria tempo de comprar. O esperto número 1 falou entra junto comigo, vou colocar o meu na máquina e deixar lá, você só passa ele novamente.
Como se tratava do semanal, a operação era absolutamente ilegal. Mas ambos fizeram sem nenhum constrangimento e, com a expressão típica de mais uma vez a esperteza e o jeitinho brasileiros venceram a caretice e a ingenuidade australianas, viajaram felizes para sempre. Bem, não para sempre...
Espaço para filosofia cósmica e acerto de contas Divino
Como todos nós sabemos, os movimentos de rotação e translação são os dois preferidos do planeta, o que significa que não importa o que aconteça, o mundo sempre dá voltas. E hoje cedo, durante a referida blitz, no mesmo cabalístico 333, não é que o esperto número 1 foi agraciado? Mesmo sem conhecê-lo, sei que o campeão estuda em Bondi Junction, onde quase toda manhã ele desce com mochila da Fitness First nas costas, boné de marca, bermuda transada, geralmente regata e meia branca para estudar. Hoje, contudo, ele certamente chegou atrasado.
Ao ver o grande contingente de tiras do lado de fora, o esperto número 1 se assustou, não sabia se descia ou se ficava, se descia ou ficava, até que optou por ficar. Evitou os homens, os $350 e só pôde descer no ponto da Junction próximo do Centennial Park, de onde teve que andar um bocado para retornar à escola, que fica do lado da estação.
Claro, para os amigos ele vai contar o quão esperto foi ao, mais uma vez, burlar não só o sistema de transporte público mas a polícia da cidade, porém, aquela expressão que vi - praticamente em
slow motion - de mãe, cadê você? acho que agora eu vou rodar aqui do outro lado do mundo, foi inesquecível!
Como diria a minha mãe: que sirva de lição!