quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Pablito in China (town)



A partir de hoje, começo a minha heróica e confuciana cobertura dos Jogos Olímpicos direto de China (leia-se Tchaina, in english). Na verdade, de Chinatown, o bairro onde estudo aqui na Austrália (lá é praticamente um genericão de Beijing – sem muralha).



Em Chinatown é assim: chineses por tudo quanto é lado, lojas, lojinhas e mais lojinhas amontoadas em todos os cantos, patos avermelhados pendurados nas vitrines, cheiro de simpáticos quitutes como o “sonho do imperador” misturados com o aroma de incensos e produtos da milenar medicina local, além das melhores grifes do planeta – com ótimos preços – na versão Made in China.



E aproveitando que em Sydney tem gente do mundo inteiro (mas do mundo inteiro mesmo, incluindo lugares nanicos e longínquos como Liechtenstein, Granada e Acre), tentarei (sempre que possível, por questão de tempo) acompanhar as competições em um dos 2.467 pubs da cidade, ao lado das mais diferentes torcidas, tomando quantidades industriais de cerveja, tirando várias chapas e relatando para vocês. Tudo, claro, em nome do jornalismo pubiano (que usa os pubs como matéria-prima).



Que comecem os XXIX Jogos Olímpicos da Era Moderna, e que o espírito do Barão de Coubertin não venha dar o ar da graça, pois se o importante não é vencer, mas competir, então que fique em casa e não vai fazer feio no país do nosso saudoso Zheng He – o imperador.



Viva Chinatown!

domingo, 3 de agosto de 2008

Mini Guia Pablito na Ozzyland de Café



O café é uma mania na Austrália. Toda hora, em qualquer lugar, tem sempre alguém com um copo descartável na mão (ou vários). Eu, claro, entrei na onda e tomo religiosamente todos os dias, basicamente por 3 motivos:

1. Amo café (leia-se sou viciado).
2. Não é possível iniciar o dia sem café.
3. Tenho a minha própria grife e bebo personalizadamente (as mulheres gostam disso).



Mas não é fácil para o brasileiro que acaba de chegar tomar os seus primeiros cafés. Além de desconhecer a maioria das marcas, não dispomos do tradicional bule e do 102 da Walita. Assim, café caseiro é sempre um risco (e no caso do meu, não sei o motivo mas tem um efeito devastador que, no plural, me leva a chamá-los de cafézes).

Outro problema na hora da compra são os nomes em inglês. Claro, se o cara for tomar um Cappuccino ou um Moka, é fácil, pois no Brasil os nomes são os mesmos, mas se o cara sorrir para a atendente e soltar um: Can I please have a Pingado - o impasse será grande.



Para evitar situações constrangedoras, criei, com a ajuda da minha amiga Mari Garotinha, o Mini Guia Pablito na Ozzyland de Café com os tipos mais comuns encontrados por aqui e os correspondentes nas padocas e botecos do Brasil (na verdade, de São Paulo, pois lá os nomes mudam de região para região).

Apreciem sem moderação!



Ristretto = Curto (15 segundos de shot)
Short black = Espresso (20 segundos de shot)
Picollo = 3/4 (3/4 de leite)
Long black = Carioca (diluído na água quente)
Flat white = Pingado ou café com leite
Latte = Pingado ou café com leite com colarinho (na verdade, acho que não temos um similar do Latte, por isso essa viadagem do colarinho)
Machiatto é Machiatto (café curto com leite)
Mocha é Mocha (café com leite e chocolate)
Cappuccino é Cappuccino (café com leite mais chocolate e espuminha de leite por cima – macho, não?)

domingo, 13 de julho de 2008

10 coisas que mais sinto falta da Ozzyland

Hoje faz 20 dias que estou de passagem pelo Brasil. Se por um lado o jet lag (efeitos do fuso horário) já não tira mais o meu sono – e nem o traz no meio da tarde – por outro, ainda sinto um certo choque. Mesmo sendo paulistano da gema e tendo morado a vida inteira no país, os 10 primeiros meses de Austrália me desabilitaram a, tão cedo, pensar em voltar a viver no Brasil. Abaixo, as 10 coisas que mais sinto falta da Ozzyland:



- As mulheres bonitas a toda hora e em todo lugar.

- Os cliffs e a vida outdoor emoldurados pela incrível dupla mar e céu azuis.



- O ar puro.



- O café take away de todo dia.



- As ruas e calçadas retas, sem armadilhas.

- A liberdade de usar um tênis velho, furado e sujo sem que ninguém repare e me julgue por usar um tênis velho, furado e sujo.

- Os pubs que, além de não cobrarem entrada, não têm comanda ou consumação, não têm fila para pagar e ainda servem cervejas não aguadas.



- Sair a hora que for de um pub após várias cervejas não aguadas e pegar um ônibus com total segurança.



- Medo? Apenas de seres como aranhas, jellyfishes e tubarões, mas não de humanos (e olha que não é aquele meeeeeeedo, mas um receiozinho).



- Aquele sensacional contingente de pessoas vindas de todos os cantos do planeta que falam centenas de idiomas diferentes.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Lei da Tolerância Zero (acho que é pessoal)

Trezentos e vinte e um dia após ter deixado o Brasil rumo à Austrália, volto ao país para cinco semaninhas de férias/trabalho. Sim! Estou em São Paulo, com frio e em clima de tolerância zero, a expressão da moda por estas bandas.


Para vocês que estão na Austrália, a coisa é mais ou menos assim. Sabe aquele pavor que temos de tomar umas cervejas no pub e dirigir? Pois bem, parece que aqui será igual. Nesta semana, entrou em vigor a tal da lei da tolerância zero, que prevê multa de quase mil reais, suspensão da carteira e até cadeia para o motorista que for flagrado com no mínimo 0.2 g/l de álcool no sangue (se não me engano na Austrália é 0.5). Eu, que desde 1991 tenho 0.2 de sangue no meu álcool, não posso nem pensar em sentar no banco do motorista. E o fato desta lei ter entrado em vigor justamente na semana em que pisei em solo nacional, me faz pensar que é pessoal.



Como trata-se de Brasil, sabemos que inicialmente haverá intensa fiscalização, os jornais mostrarão diversos flagras e prisões em todo o país mas, com o passar dos dias e semanas, alguns advogados acharão brechas na legislação, alguém denunciará superfaturamento na compra dos bafômetros, a fiscalização será afrouxada por falta de recursos (dinheiro não faltará, o problema é que sumirá no caminho), enfim, em poucos meses tudo voltará a ser como era e a tal da tolerância zero entrará no célebre rol das leis que não pegaram.



Brasil-sil-sil!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Mudança de Château



Após 9 meses morando no Château Las Palomas, em Coogee, com a minha irmã e outras flatmates que por lá passaram – entre elas Aline Brognoli, a melhor flatmate do mundo; e Ciara e Cara, respectivamente irlandesa e escocesa que, acreditem, bebem mais do que eu – mudei de chateâu.



Desde maio estou no Château Lecon, na incrível North Bondi, em frente a um campo de golfe onde o vento literalmente sobe do mar, faz a curva, passa pelos buracos sete, douze e quatorze e congela absolutamente tudo o que tem pela frente, incluindo narinas, orelhas e formas orgânicas redondas provenientes das partes baixas.



A nova vida no Château é fácil. Fácil porque moro com o meu amigo de mais de década e meia Alexandre “Lecão” Rubial; com Filippo Latella, o único italiano overseas que torce para o Torino; e porque nossa Carta Magna é regida por um simples artigo: sem vinho, não entra.



É verdade! Os amigos, conhecidos e convivas em geral que querem entrar, podem trazer cerveja, vodka, tequila, o que for, mas sem uma botejinha, não passam da porta (eno-tolerância zero, apesar de que sempre tem uns que ludibriam a Imigração e cruzam a fronteira desprovidos de boteja)!

Bem, para celebrar a primeira semana no novo château, fizemos um jantar. A idéia era uma noite romântica: eu, minha ex-namorada eslovaca de um dia, mais Alê e a namorada Mari Garotinha. Mas tivemos alguns problemas. Primeiro: o telefone do Alê não pára de tocar. Segundo: todos que ligavam automaticamente descobriam a senha para entrar no Chatêau.

Assim, o que era para ser um nhoque romântico com poucas botejas, tornou-se a I Festa Anual do Nhoque de North Bondi, com direito a 13 pessoas, 17 vinhos, uma caixa e meia de cerveja (daquelas grandes de 32 garrafas), violão e batucada a partir da meia-noite comandada pelo Mestre Cadinho, assalto aos chocolates do flatmate italiano que trabalha na Ferrero Rocher, assassinato da planta de dois anos do flatmate italiano que trabalha na Ferrero Rocher e uma ex-namorada eslovaca de um dia.



Ou seja, tecnicamente não foi um bom começo, mas em termos de diversão, não poderia ter sido melhor. Por isso, se você quiser nos visitar, seja bem-vindo (a). Já tivemos grandes presenças por aqui e o Château está quase sempre aberto para todos. Mas, por favor, nem pense em nos visitar sem uma botejinha.


Em caso de real esquecimento, na chapa acima temos a bottle shop mais perto de casa e, na chapa abaixo, o ponto final de diversos ônibus que páram na frente. Não tem erro, não dói e não me venha com desculpas.

Um brinde ao Château!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Quinta-feira, 12 de junho - 10 e pouco da manhã



Sydney's Paddy's Markets à esquerda e Darling Harbour ao fundo.
Chinatown

terça-feira, 3 de junho de 2008

A Festa na Mansão de Bellevue Hill – Parte 2

Importante: antes de ler este texto, leia a 1a parte que está abaixo!

Sábado foi o grande dia. Conforme escrevi no último parágrafo da primeira parte deste texto, o “top room”, após dezesseis tentativas para encontrar a “proposta” perfeita, estava na décima sétima (a definitiva). Era apenas o início da minha jornada de douze horas que começou com a “fase final da pré-produção” e foi até a “festa em si”.

Na fase final da pré-produção, basicamente, perambulei por todos os cantos da mansão (atrás da minha chefa, claro) para checar se tudo estava nos conformes (o que num português sem rodeios significa que não fiz absolutamente nada – um misto de papagaio de pirata com aspone).

Isso foi até pouco antes das 17 horas, quando o cronograma oficial indicava que o Pablo’s Team entraria em campo. Neste momento comecei a mentalizar o meu trabalho (coisa de líder). Confesso que não levou mais de douze segundos, uma vez que eu e o meu time, em termos práticos, somente deveríamos manter duas lareiras acesas dentro da casa, dois aquecedores no lounge externo e dois braseiros na entrada da festa. Esta era a parte pirotécnica do Pablo’s Team. Também teríamos que, após o jantar com a jazz band, limpar a área em poucos minutos para montar o cassino e a pista de dança. Com “tudo isso” em mente, iniciei os trabalhos.



Xavante por adoção (para quem não leu o meu livro, leia), recebi as tarefas com muita “popriedade”. Assim, em poucos minutos preparei os dois braseiros, que deveriam ficar na entrada da festa, em frente ao trio de jazz. Utilizando todo o meu conhecimento adquirido na aldeia indígena, sapequei algumas folhas secas, coloquei entre os carvões e pronto. Posicionei os braseiros no lugar correto e aguardei a hora de acendê-los.

Ainda esbanjando técnicas pirotécnicas xavante, segui para as duas lareiras e preparei a base com mais folhas secas e muitas lenhas. Trabalho da melhor qualidade que me lembrou as grandes fogueiras de São João. Os aquecedores do lounge seriam fáceis, bastaria colocar o querosene no lugar certo, atear fogo e controlar a intensidade da chama. Como esta é uma tarefa muito urbana pra mim, deixei para o meu time.



O Pablo’s Team era composto por três pessoas: Diogo, um amigo são-paulino, Nathan, um australiano que estava trabalhando na festa, e eu. Éramos o que no meio musical "chamamos" de power trio, uma espécie de RUSH (a banda) versão Maria Clara Diniz.



Nossa primeira tarefa foi acender os braseiros. Ventava um bocado e a combinação vento/brasa/folha seca resultou em uma incrível fumaceira que foi direto na cara dos músicos que afinavam os instrumentos. Ou seja, defumamos o trio de jazz. Após justas reclamações, abortamos a idéia dos braseiros e partimos para as lareiras. Agora, porém, com a lição aprendida.

Ao colocar as folhas secas nos braseiros, como fazia na aldeia xavante, não passou pela minha cabeça que lá no Mato Grosso o objetivo era justamente fazer muita fumaça para espantar os insetos, e que estávamos numa reserva indígena de 328 mil hectares, no meio do nada (e não dentro de uma mansão a poucos minutos do aniversário de 40 anos da mulher de um milionário). Sendo assim, rapidamente retirei todas as folhas e joguei de volta no jardim.

Por volta das 7 horas, quando os convidados começaram a chegar, vimos que realmente tratava-se de festa de barão. Na porta, a baroa (a mulher do barão), mais o marido e os dois pimpolhos recebiam os convivas ao som do defumado trio de jazz. Para vocês terem uma idéia, tinha embaixadores, donos de banco e militares do mais alto escalão devidamente uniformizados. Destaque para um senhor escocês que trajava o tradicional kilt. Príncipe Charles em estado bruto!

Após uma hora beliscando e bebericando (sim, rico beberica) na “smoked room” e no lounge, Monica-não-sei-das-quantas, famosa cantora da noite “sydnense”, anunciou o jantar, revelando o salão principal. Ohhhhhhhhhhhhh! Surpresa total! Nas duas horas seguintes, o nosso trabalho se limitou a manter as lareiras e os aquecedores acesos. E mesmo assim...

Enquanto o jantar rolava solto ao som de muito Sinatra na voz da cantora, passamos um tempo no “top room” (aquele mesmo que foi alterado 17 vezes). E para a nossa total surpresa, notamos que ele só seria usado por duas mulheres (a cabelereira da baroa e a assistente da cabelereira da baroa), duas gordinhas que ficaram a noite inteira sentadas assistindo ao filme Casablanca que passava na nababesca tela de plasma. Nenhum convidado sequer viu ou passou pela sala. E para quebrar o gelo, Diogo, piadista, ao ver uma cena do filme em que uns barões bebericavam alguns drinks, perguntou se estavam transmitindo a festa ao vivo. Gênio!



Voltando para a “smoked room”, vimos que a casa litaralmente começou a cair. Na verdade, a descascar. Não sabíamos que a lareira era apenas decorativa e que nunca havia sido usada. Num primeiro momento ela começou a ficar queimada. Normal. Mas em pouco tempo surgiram as primeiras bolhas, depois bolhas maiores, até que a parede estufou. Rapidamente ela já estava descascando e alguns pedaços caíram sobre o fogo. Pior! Num erro primário, colocamos um pedaço muito grande de madeira sobre a chama, que resultou em uma fumaceira 20 vezes pior do que a dos braseiros. Detalhe: estávamos dentro da casa, ao lado do salão de jantar e com ligação direta para o andar de cima, onde pessoas jantavam.



Conseguimos, não só destruir a parede da lareira, como defumar a “smoked room” (por isso o apelido) e as mesas de cima. Não contentes, ainda tivemos que ver o escocês de saia no alto da escada reclamar da fumaça (homens de saia não podem ficar em andares superiores, já que nos obriga a ver coisas que definitivamente não queremos). Mas vimos! E tomamos um cordial espourro.



Com a parede destruída e a sala defumada, tínhamos um terceiro problema: o jantar terminaria em poucos minutos e todos viriam justamente para a “smoked room” e para o lounge. Corremos! Abrimos todas as janelas. Deixamos ventilar. Fechamos tudo! Diogo passou uma cafezinho. E não sei como, no final das contas, deu tudo certo. A fumaceira se foi, o cafezinho estava excelente e conseguimos não matar ninguém asfixiado. Mais! Desmontamos o salão do jantar, montamos o cassino, um bar ao lado, abrimos espaço para a pista de dança e a festa transcorreu normalmente, com uma farta distribuição de Cohiba no final e sem mortos e feridos.



No dia seguinte, pela manhã, quando voltei na mansão para finalizar o trabalho, não acreditei no estado da parede da lareira. Estava totalmente destruída. E Maria, a governanta portuguesa, cornetou a construção da casa dizendo que lá em Portugal não acontece essas coisas nas lareiras. Mais! Que foi ridículo ter acontecido numa mansão daquela, a terceira mais cara de Sydney. Isso mesmo! Dois brasileiros, recebendo 30 dólares por hora, conseguiram destruir a lareira da terceira casa mais cara de Sydney. Brazil-zil-zil.

E não parou aí! Ao chegar no meu apartamento no sábado à noite, após horas mexendo com fogo, não fiz xixi na cama, mas ao pegar um prato com leite quente no microondas, deixei-o cair sobre o meu braço queimando uns bons 8 centímetros de pele. Ironia absolutamente desnecessária! (Mas já voltou ao normal, mãe).


PS: esta lareira é meramente ilustrativa.