terça-feira, 3 de junho de 2008

A Festa na Mansão de Bellevue Hill – Parte 2

Importante: antes de ler este texto, leia a 1a parte que está abaixo!

Sábado foi o grande dia. Conforme escrevi no último parágrafo da primeira parte deste texto, o “top room”, após dezesseis tentativas para encontrar a “proposta” perfeita, estava na décima sétima (a definitiva). Era apenas o início da minha jornada de douze horas que começou com a “fase final da pré-produção” e foi até a “festa em si”.

Na fase final da pré-produção, basicamente, perambulei por todos os cantos da mansão (atrás da minha chefa, claro) para checar se tudo estava nos conformes (o que num português sem rodeios significa que não fiz absolutamente nada – um misto de papagaio de pirata com aspone).

Isso foi até pouco antes das 17 horas, quando o cronograma oficial indicava que o Pablo’s Team entraria em campo. Neste momento comecei a mentalizar o meu trabalho (coisa de líder). Confesso que não levou mais de douze segundos, uma vez que eu e o meu time, em termos práticos, somente deveríamos manter duas lareiras acesas dentro da casa, dois aquecedores no lounge externo e dois braseiros na entrada da festa. Esta era a parte pirotécnica do Pablo’s Team. Também teríamos que, após o jantar com a jazz band, limpar a área em poucos minutos para montar o cassino e a pista de dança. Com “tudo isso” em mente, iniciei os trabalhos.



Xavante por adoção (para quem não leu o meu livro, leia), recebi as tarefas com muita “popriedade”. Assim, em poucos minutos preparei os dois braseiros, que deveriam ficar na entrada da festa, em frente ao trio de jazz. Utilizando todo o meu conhecimento adquirido na aldeia indígena, sapequei algumas folhas secas, coloquei entre os carvões e pronto. Posicionei os braseiros no lugar correto e aguardei a hora de acendê-los.

Ainda esbanjando técnicas pirotécnicas xavante, segui para as duas lareiras e preparei a base com mais folhas secas e muitas lenhas. Trabalho da melhor qualidade que me lembrou as grandes fogueiras de São João. Os aquecedores do lounge seriam fáceis, bastaria colocar o querosene no lugar certo, atear fogo e controlar a intensidade da chama. Como esta é uma tarefa muito urbana pra mim, deixei para o meu time.



O Pablo’s Team era composto por três pessoas: Diogo, um amigo são-paulino, Nathan, um australiano que estava trabalhando na festa, e eu. Éramos o que no meio musical "chamamos" de power trio, uma espécie de RUSH (a banda) versão Maria Clara Diniz.



Nossa primeira tarefa foi acender os braseiros. Ventava um bocado e a combinação vento/brasa/folha seca resultou em uma incrível fumaceira que foi direto na cara dos músicos que afinavam os instrumentos. Ou seja, defumamos o trio de jazz. Após justas reclamações, abortamos a idéia dos braseiros e partimos para as lareiras. Agora, porém, com a lição aprendida.

Ao colocar as folhas secas nos braseiros, como fazia na aldeia xavante, não passou pela minha cabeça que lá no Mato Grosso o objetivo era justamente fazer muita fumaça para espantar os insetos, e que estávamos numa reserva indígena de 328 mil hectares, no meio do nada (e não dentro de uma mansão a poucos minutos do aniversário de 40 anos da mulher de um milionário). Sendo assim, rapidamente retirei todas as folhas e joguei de volta no jardim.

Por volta das 7 horas, quando os convidados começaram a chegar, vimos que realmente tratava-se de festa de barão. Na porta, a baroa (a mulher do barão), mais o marido e os dois pimpolhos recebiam os convivas ao som do defumado trio de jazz. Para vocês terem uma idéia, tinha embaixadores, donos de banco e militares do mais alto escalão devidamente uniformizados. Destaque para um senhor escocês que trajava o tradicional kilt. Príncipe Charles em estado bruto!

Após uma hora beliscando e bebericando (sim, rico beberica) na “smoked room” e no lounge, Monica-não-sei-das-quantas, famosa cantora da noite “sydnense”, anunciou o jantar, revelando o salão principal. Ohhhhhhhhhhhhh! Surpresa total! Nas duas horas seguintes, o nosso trabalho se limitou a manter as lareiras e os aquecedores acesos. E mesmo assim...

Enquanto o jantar rolava solto ao som de muito Sinatra na voz da cantora, passamos um tempo no “top room” (aquele mesmo que foi alterado 17 vezes). E para a nossa total surpresa, notamos que ele só seria usado por duas mulheres (a cabelereira da baroa e a assistente da cabelereira da baroa), duas gordinhas que ficaram a noite inteira sentadas assistindo ao filme Casablanca que passava na nababesca tela de plasma. Nenhum convidado sequer viu ou passou pela sala. E para quebrar o gelo, Diogo, piadista, ao ver uma cena do filme em que uns barões bebericavam alguns drinks, perguntou se estavam transmitindo a festa ao vivo. Gênio!



Voltando para a “smoked room”, vimos que a casa litaralmente começou a cair. Na verdade, a descascar. Não sabíamos que a lareira era apenas decorativa e que nunca havia sido usada. Num primeiro momento ela começou a ficar queimada. Normal. Mas em pouco tempo surgiram as primeiras bolhas, depois bolhas maiores, até que a parede estufou. Rapidamente ela já estava descascando e alguns pedaços caíram sobre o fogo. Pior! Num erro primário, colocamos um pedaço muito grande de madeira sobre a chama, que resultou em uma fumaceira 20 vezes pior do que a dos braseiros. Detalhe: estávamos dentro da casa, ao lado do salão de jantar e com ligação direta para o andar de cima, onde pessoas jantavam.



Conseguimos, não só destruir a parede da lareira, como defumar a “smoked room” (por isso o apelido) e as mesas de cima. Não contentes, ainda tivemos que ver o escocês de saia no alto da escada reclamar da fumaça (homens de saia não podem ficar em andares superiores, já que nos obriga a ver coisas que definitivamente não queremos). Mas vimos! E tomamos um cordial espourro.



Com a parede destruída e a sala defumada, tínhamos um terceiro problema: o jantar terminaria em poucos minutos e todos viriam justamente para a “smoked room” e para o lounge. Corremos! Abrimos todas as janelas. Deixamos ventilar. Fechamos tudo! Diogo passou uma cafezinho. E não sei como, no final das contas, deu tudo certo. A fumaceira se foi, o cafezinho estava excelente e conseguimos não matar ninguém asfixiado. Mais! Desmontamos o salão do jantar, montamos o cassino, um bar ao lado, abrimos espaço para a pista de dança e a festa transcorreu normalmente, com uma farta distribuição de Cohiba no final e sem mortos e feridos.



No dia seguinte, pela manhã, quando voltei na mansão para finalizar o trabalho, não acreditei no estado da parede da lareira. Estava totalmente destruída. E Maria, a governanta portuguesa, cornetou a construção da casa dizendo que lá em Portugal não acontece essas coisas nas lareiras. Mais! Que foi ridículo ter acontecido numa mansão daquela, a terceira mais cara de Sydney. Isso mesmo! Dois brasileiros, recebendo 30 dólares por hora, conseguiram destruir a lareira da terceira casa mais cara de Sydney. Brazil-zil-zil.

E não parou aí! Ao chegar no meu apartamento no sábado à noite, após horas mexendo com fogo, não fiz xixi na cama, mas ao pegar um prato com leite quente no microondas, deixei-o cair sobre o meu braço queimando uns bons 8 centímetros de pele. Ironia absolutamente desnecessária! (Mas já voltou ao normal, mãe).


PS: esta lareira é meramente ilustrativa.

Um comentário:

Junior Gonella disse...

Cara,

To rindo muuuuuuuuuuuuuuito imaginando a fumaceira de folha seca na cara dos gringos !!!!

QFDP !!!

Abraaaaaasssss,
Djus