A geografia da mansão é a seguinte. Olhando de frente, uma enorme torre de cada lado. No meio, um simpático terraço no andar de cima e uma porta com ares marroquino em baixo. Tudo de pedra, no melhor estilo “sempre quis ter um castelo”. No topo, uma nababesca e ecologicamente correta cúpula transparente permite que o astro-rei ilumine o interior da casa.
Entrando, um grande salão seguido de uma luxuosa sala de jantar. Do lado direito, uma sala de tv com lareira (na qual chamaremos de “top room”), e a cozinha hi-tech. Do lado esquerdo, outra bela sala com lareira (na qual chamaremos de “smoked room”). Atrás desta, uma espécie de lounge ao ar livre e um impecável gramado. A vista é simplesmente cinematográfica: a Baía de Sydney inteira, com direito a Harbour Bridge, Opera House e Manly (sim, ia até lá). Não por acaso o bairro chama-se Bellevue Hill, que numa tradução livre para o português seria o nosso popular Morro da Bela Vista.
Obviamente eu estava lá a trabalho. Há aproximadamente um mês, caí (de pára-quedas) nas graças de uma mulher que faz eventos. Nunca trabalhei com isso e não é a minha praia, mas por 30 dólares a hora, sou uma espécie de Maria Clara Diniz (no caso, Mario Claro Diniz, o Malu Mader de Celebridades). Até agora não sei exatamente qual foi o meu trabalho. Eu era uma espécie de papagaio de pirata da produtora da festa.
Ela estava encarregada de realizar o aniversário de 40 anos da mulher de um milionário (o homem é dono de uma construtora). A coroa, uma portentosa ex-modelo, convidou 78 pessoas. Para a festa, ela abriu a mansão e contratou uma empresa de function para cuidar da cozinha e do bar, uma banda de jazz para tocar clássicos dos anos 40, um trio (também de jazz) para receber os convidados, um DJ, uma floricultura, um cassino, uma decoradora, meia-dúzia de sei lá o quê e a minha chefa. Tremendo staff!
Como a festa seria no sábado, sexta, 10 da manhã, eu já estava lá. Não fazia idéia do que faria, mas percebi que seria, no mínimo, divertido, uma vez que trabalharia diretamente com a manager house da mansão (no Brasil a chamaríamos de “caseiro”), e com a decoradora e sua assistente (uma estudante de moda). E, para a minha surpresa, assim que recebi o cronograma de trabalho, notei que no dia da festa, a partir das 17 horas, haveria um núcleo chamado “Pablo’s Team”. Ou seja, mesmo sem fazer a menor idéia do que faria e o que estava fazendo lá, eu seria o primeiro papagaio de pirata da história a ter um time próprio (Mario Claro Dinz em estado bruto).
O trabalho na sexta não foi fácil. De carregar abajour de 3 mil dólares a dar palpite na decoração (leia-se cornetar), passando por falar “one, two, three testando” no microfone, colocar velas nos candelabrados e coordenar o tráfego de fornecedores na entrada da mansão (com direito a deter o controle remoto do portão da garagem que abrigava uma Maserati V8), fiz um pouco de tudo. E olha que ainda estava sem o “meu time”!
Alguns momentos foram tensos. Num deles, ao transportar um quadro de meio milhão de dólares para o andar de cima, só pensava em como fugiria de lá caso algo acontecesse com a obra. E de fato, quase fugi no momento em que deixei o meu “autógrafo” numa das paredes de mármore enquanto carregava uma poltrona vitoriana.
Mas o que realmente me impressionou não foi o valor de que estava ao redor, nem mesmo o número de pessoas trabalhando para um aniversário de 40 anos, mas a quantidade de vezes que se mudou móveis e objetos de lugar. Só o “top room” alteramos 16 vezes. Isso mesmo! Era um tal de “trás o espelho da garagem”, “leva essa poltrona para a escada”, “precisamos de dois candelabros para compor um mosaico”, “quero um pouco mais de dourado neste canto”, “cadê as minhas almofadas vitorianas?” (rico anglo-saxão adora a Rainha Victoria) e por aí vai. Frescura total! E no dia seguinte, quando voltei para a referida sala, não acreditei ao ver que ela estava completamente diferente em relação à décima sexta tentativa do dia anterior. “Optamos por uma outra proposta”, explicou a decoradora. Achei o máximo! Falou pouco e não disse nada.
Continua em alguns dias...
quarta-feira, 21 de maio de 2008
domingo, 18 de maio de 2008
Alguns “cachos” de brasileiros oversaeas – Você conhece o “War Amin” ?
Continuando a saga dos brasileiros overseas, teve um que estava realmente intrigado. Quem é esse tal de “War Amin”? – ele queria saber. Onde ia, o campeão só ouvia falar dele. Na escola, no pub, no trabalho, em qualquer lugar que pisava, sempre tinha alguém perguntando se conheciam o “War Amin”.
O cara tinha certeza de que tratava-se de uma celebridade australiana (pelo jeito, descendente de árabe). Seria algum músico? Algum jogador de rugby? Um político, talvez, mais um participante do Big Brother local (sim, também temos esta praga por aqui) ou algum primo do Esperidião? O fato é que a curiosidade só aumentava e ele, não aguentando mais, resolveu acabar de vez com a dúvida:
- Véio, tu sabe quem é esse tal de “War Amin”? Em todo lugar que eu vou, tem sempre alguém perguntando: Do you know “War Amin”? Do you know what I mean? Véio, quem é esse cara?
O cara tinha certeza de que tratava-se de uma celebridade australiana (pelo jeito, descendente de árabe). Seria algum músico? Algum jogador de rugby? Um político, talvez, mais um participante do Big Brother local (sim, também temos esta praga por aqui) ou algum primo do Esperidião? O fato é que a curiosidade só aumentava e ele, não aguentando mais, resolveu acabar de vez com a dúvida:
- Véio, tu sabe quem é esse tal de “War Amin”? Em todo lugar que eu vou, tem sempre alguém perguntando: Do you know “War Amin”? Do you know what I mean? Véio, quem é esse cara?
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Alguns “cachos” de brasileiros oversaeas - Deletando em japonês
A partir de hoje contarei alguns cachos que aconteceram com brasileiros aqui na Austrália. Uns presenciei, outros me contaram. Em comum: todos são reais! O primeiro foi estrelado por um amigão meu, que na melhor das intenções, fez uma tremenda lambança.
Nós temos um amigo em comum, professor, que deu uns beijos em uma amiga nossa. Aqui é proibido relacionamento de alunos com professores, mas às vezes acontece. Ela, ex-aluna dele, já não estudava mais na escola. Mesmo assim, preferiram manter o affair em segredo.
O problema é que uma japonesa conhecida nossa, que, como toda japonesa, carregava uma máquina fotográfica na bolsa, tirou algumas chapas sem ninguém perceber. E no dia seguinte, mostrou para umas poucas pessoas.
Pra azar dela, a notícia chegou nos ouvidos do meu amigo, que não gostou nada da história. Querendo, literalmente, fazer justiça com as próprias mãos, ele aproximou-se da japa e pediu para ver a máquina. Ela emprestou. A idéia era apenas apagar as fotos do professor com a aluna. Nada mais justo. O problema é que todas as instruções e o menu da máquina estavam em japonês. E ele, obviamente sem fazer a menor idéia do que estava “lendo”, não titubeou e saiu apertando todos os botões que encontrou pela frente.
Pra azar dela, a notícia chegou nos ouvidos do meu amigo, que não gostou nada da história. Querendo, literalmente, fazer justiça com as próprias mãos, ele aproximou-se da japa e pediu para ver a máquina. Ela emprestou. A idéia era apenas apagar as fotos do professor com a aluna. Nada mais justo. O problema é que todas as instruções e o menu da máquina estavam em japonês. E ele, obviamente sem fazer a menor idéia do que estava “lendo”, não titubeou e saiu apertando todos os botões que encontrou pela frente.
Resultado: a fera conseguiu deletar as 6 fotos do casal, assim como todas as demais chapas da máquina. Isso mesmo! Como não sabia ler em japonês, ele deletou mais de duas mil fotos, que começavam na festa de despedida da menina, em Osaka, passavam pela chegada na Austrália e por 7 meses em Sydney (incluindo aí todos os clichês como foto com a Opera House de fundo e alimentando cangurus).
Japonês é assim, tira foto de tudo. E o nosso ícone tupiniquim da justiça não deixou absolutamente nada. A “Dona Fifi” de Osaka chorou por, no mínimo, 15 minutos.
Deu cachaça no sushi!
Japonês é assim, tira foto de tudo. E o nosso ícone tupiniquim da justiça não deixou absolutamente nada. A “Dona Fifi” de Osaka chorou por, no mínimo, 15 minutos.
Deu cachaça no sushi!
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Anzac Day - O Grande Dia da Austrália
Há duas semanas tivemos o grande dia da Austrália. Para quem não sabe, o grande dia da Austrália atende pelo nome de Anzac Day. O Brasileiro que chega aqui demora aproximadamente um mês para se dar conta de que tem visto a palavra ANZAC por toda parte, assim como as inicias ANZ. Depois, mais dois ou três meses – dependendo do caso – para descobrir o significado.
ANZAC significa Australian and New Zealand Army Corps, e ANZ apenas Australia and New Zealand. De biscoito sem graça a banco que me rouba menos do que o Itaú (sorry, Caio), passando por lojas, ponte e avenidas, ANZAC e ANZ estão em todo lugar. É um dos orgulhos locais e, disparado, o feriado mais divertido da Austrália (sim, também é um feriado!).
O Anzac Day é celebrado anualmente em 25 de abril para comemorar o desembarque do nosso glorioso Australian and New Zealand Army Corps em 1915 na Península de Galipoli, na Turquia, em uma das maiores roubadas bélicas da história.
O que era para ser uma rápida ação militar em conjunto com soldados do Reino Unido, acabou se tornando uma das mais sangrentas batalhas da I Guerra Mundial, que durou 8 meses e resultou em 8.000 soldados australianos mortos e 2.700 neozelandeses (quase um décimo da população kiwi).
Baixas à parte, o Anzac Day se tornou O FERIADO graças ao 2-Up, o tradicional cara ou coroa (head or tail por aqui). Como já escrevi anteriormente, australiano adora uma aposta. E, não sei desde quando, o 2-Up valendo dinheiro está proibido na Austrália. Se você, na porta da sua casa, perguntar “cara ou coroa” para o seu vizinho – valendo 1 dólar – e a polícia flagá-los: cana! Cadeia na hora, exceto se for em 25 de abril, o único dia em que é permitido jogar 2-Up com din-din.
Assim, enquanto nas principais avenidas da Austrália, Nova Zelândia, Ilhas Cook, Niue, Samoa e Tonga há desfiles e homenagens militares, em 99.4% dos pubs são montadas pequenas ou grandes arenas onde no centro fica uma espécie de mestre de cerimônias com alguns assistentes. Em volta, um bando de gente embalada por quantidades industriais de cerveja querendo apostar.
A coisa é simples. Se você conseguir entregar o quanto quer apostar para um dos caras do centro da roda, basta falar se você é cara ou coroa. Como é muita gente, às vezes não dá tempo. Assim, resta levantar a grana, mexer a mão que nem um louco e dizer o quanto e no quê quer apostar. Por exemplo: “Head ten! Head ten!” Isso significa que você quer apostar 10 dólares na cara. Se alguém que deseja apostar 10 doletas na coroa o vê, por mais que vocês não se conhecem, bingo! Vocês se desafiam e aguardam.
No centro da roda algum ilustre desconhecido da platéia é chamado para segurar uma pequena tábua de madeira com 3 moedas. A gritaria fica ensurdecedora (imaginem um monte de bêbados gritando “head” ou “tail”). O cara balança a tábua e deixa as 3 moedinhas caírem no chão. O lado da moeda que mais aparecer, tchu-tchín! É só receber ou pagar o dinheiro, ir no bar comprar mais cervejas e esperar o próximo.
À distância parece a coisa mais estúpida do mundo. Mas não é! Como o Anzac Day é o único dia para jogar o 2-Up sem ir para o xilindró, rola uma baita ansiedade nas semanas que antecedem, e a coisa fica ainda mais divertida quando se fatura uma grana, como aconteceu com a minha irmã no ano passado, que pegou 5 dólares emprestado para brincar e depois de horas foi pra casa com 300 e poucos doletas (tchu-tchín!).
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Eu odeio dança
Aviso importante: se você gosta de dança, não perca tempo lendo este texto. Mas se você, assim como eu, não suporta ver um monte de gente feliz fazendo careta enquanto pula de um lado para o outro, vá em frente.
Esta tarde, cobrindo a minha irmã no trabalho, fiz um trampo diferente: baby sitter. É verdade! Eu, que não sou muito chegado em animais domésticos, relacionamentos duradouros e frutos de relacionamentos duradouros, volta e meia tomo conta de um casal de pimpolhos de 6 e 8 anos, além de um gato pervertido que fica se esfregando no meu pé.
Como estamos em época de férias escolares, levei-os ao cinema. A idéia inicial era assistir ao filme Spiderwick, uma aventura infanto-juvenil criada a partir de uma viagem alucinógena de um adulto mal resolvido com o tio-avô – espécie de versão século XXI do clássico oitentista História Sem Fim. Ou seja, nada mal para uma tarde de quinta-feira; e bem melhor do que se fôssemos assistir à Xuxa em Sonho de Menina ou Turma do Didi em Sonho de Menino.
Mas, infelizmente, alegria de estudante internacional na Austrália dura pouco. Quando entramos na fila, notei que a próxima sessão só começaria às 16:45 (eram duas da tarde). O jeito então foi achar outro filme com programação livre. E aí iniciou o meu pesadelo vespertino. O próximo começaria em 20 minutos e atendia por Step Up 2: The Streets. Eu nunca ouvira falar. Pior: nem sabia que outrora alguém lançou Step Up. Mas não tive opção.
Com os tickets, refrigerantes e baú de pipoca na mão, perguntei sobre o que se tratava. Resposta: dance. Gelei! Perguntei mais uma vez, já que poderia ter sido uma falha de entendimento do meu inglês. A resposta foi a mesma e, automaticamente, 4 pedaços de pipoca entalaram na minha garganta. É verdade que eu estava sendo pago para aquilo, mas filme de dança não dá. Já não suporto musicais – não há nada mais detestável do que ver um ator dialogando com outro e, sem mais nem menos, ele começa a cantar e dançar, o outro o acompanha, de repente todos na cena fazem o mesmo e, quando nos damos conta, vemos um monte de gente feliz fazendo careta. In-su-por-tá-vel! Salvo raríssimas exceções como Hair e Moulin Rouge, o resto não dá.
O tal do Step Up 2 não era um musical propriamente dito, mas um filme adolescente sobre dança de rua. Isso mesmo! Dança de rua nos Estados Unidos. A quantidade de adolescentes usando bonés e fazendo careta enquanto dançavam era impressionante. O complexo enredo se desenvolveu mais ou menos assim: de um lado tínhamos jovens de origem humilde (e boné) que dançavam nas ruas. Do outro, jovens (de boné) que estudavam numa escola de dança. No meio, uma pentelha rebelde da turma da rua que conseguiu uma vaga na escola. Inicialmente, ela era vista com desconfiança (e sempre de boné, claro), mas depois inverteu a situação e ganhou o respeito de todos, ao mesmo tempo em que se distanciou da antiga turma, agora seus rivais. Coisa original. E o pior é que eu nem podia dormir pois tinha que ficar de olho nas crianças.
Duas lentas horas depois, não sei como, sobrevivi! À noite, quando a mãe das crianças chegou e perguntou como foi o filme, eles responderam empolgados: OH, IT WAS SO COOL! Para não decepcioná-los, também disse o mesmo (bem, quase o mesmo): OH, UM COOL!
domingo, 13 de abril de 2008
O primeiro marsupial a gente nunca esquece
Exatos oito meses depois de ter pisado pela primeira vez em solo australiano, vi o meu primeiro canguru (aquele que a gente nunca esquece). Ao contrário do que possa parecer, aqui não nos deparamos diariamente com cangurus andando pelas ruas, sentados no cinema ou lutando boxe nos parques. Em Sydney, por exemplo, sem ir ao zoológico ou a algum outro cativeiro com ares infanto-culturais, é praticamente impossível encontrá-los.
Para ver os primeiros, além dos oito meses, precisei de quatro dias de merecidas férias, duas inglesas corneteiras ávidas para vê-los e um guia que conhece todos os atalhos do Hunter Valley (a região vinícola de New South Wales). Sim, meus amigos, Pablo Nacer esteve na EnoDisney e parecia uma criança em meio a tantas taças de tudo quanto é tipo de vinho, conversas com produtores e uma quantidade incrível de eno-princesice proferida para a mulherada.
O foco de todos ali, claro, era o vinho, mas as inglesas, recém-chegadas na Austrália, queriam ver cangurus de qualquer maneira. Quando inglesas trocam drinks por cangurus, é porque realmente querem encontrá-los. E não deu outra!
Após a penúltima visita do dia, enquanto deixávamos a Tempus Two e seguíamos para a McGuigan (a melhor relação preço/qualidade que encontrei até o momento por lá), elas cornetaram tanto, mas cornetaram tanto, que não só o nosso guia se viu obrigado a entrar num atalho, como também o Guia lá de cima, antes de perder uma fraçãozinha de Sua infindável paciência, fez surgir um pequeno exemplar do marsupial a uns 200 metros da gente. Bem longinho, é verdade, mas com os recursos das máquinas fotográficas, não parecia tanto.
Histeria total! As inglesas, por alguns minutos, mais pareciam italianas-japonesas, de tanto que gritavam, mexiam os braços e tiravam fotos. Após a concorrida sessão, o saltitante mamífero correu para a mata e desapareceu dos flashes. Confesso que o achei um tanto metido. Mas fui injusto.
Contornamos com a van para tentarmos mais algumas chapas e, quando o reencontramos, ele não estava sozinho, mas muito bem acompanhado do pai, da mãe, dos irmãos, do cunhado, dos flatmates, da sogra, da turma do fundão, enfim, era praticamente um time inteiro de rugby tirando uma folguinha na segunda-feira à tarde. Alegria total das inglesas.
À noite, no albergue, sob um céu estrelado, abrimos algumas garrafas recém-compradas na fonte, acendemos a churrasqueira e fizemos um autêntico aussie BBQ (churrasco local) com salsichas, linguiças, carneiro e, claro, uma carninha do nosso marsupial favorito (comprado no supermercado, claro!).
Para ver os primeiros, além dos oito meses, precisei de quatro dias de merecidas férias, duas inglesas corneteiras ávidas para vê-los e um guia que conhece todos os atalhos do Hunter Valley (a região vinícola de New South Wales). Sim, meus amigos, Pablo Nacer esteve na EnoDisney e parecia uma criança em meio a tantas taças de tudo quanto é tipo de vinho, conversas com produtores e uma quantidade incrível de eno-princesice proferida para a mulherada.
O foco de todos ali, claro, era o vinho, mas as inglesas, recém-chegadas na Austrália, queriam ver cangurus de qualquer maneira. Quando inglesas trocam drinks por cangurus, é porque realmente querem encontrá-los. E não deu outra!
Após a penúltima visita do dia, enquanto deixávamos a Tempus Two e seguíamos para a McGuigan (a melhor relação preço/qualidade que encontrei até o momento por lá), elas cornetaram tanto, mas cornetaram tanto, que não só o nosso guia se viu obrigado a entrar num atalho, como também o Guia lá de cima, antes de perder uma fraçãozinha de Sua infindável paciência, fez surgir um pequeno exemplar do marsupial a uns 200 metros da gente. Bem longinho, é verdade, mas com os recursos das máquinas fotográficas, não parecia tanto.
Histeria total! As inglesas, por alguns minutos, mais pareciam italianas-japonesas, de tanto que gritavam, mexiam os braços e tiravam fotos. Após a concorrida sessão, o saltitante mamífero correu para a mata e desapareceu dos flashes. Confesso que o achei um tanto metido. Mas fui injusto.
Contornamos com a van para tentarmos mais algumas chapas e, quando o reencontramos, ele não estava sozinho, mas muito bem acompanhado do pai, da mãe, dos irmãos, do cunhado, dos flatmates, da sogra, da turma do fundão, enfim, era praticamente um time inteiro de rugby tirando uma folguinha na segunda-feira à tarde. Alegria total das inglesas.
À noite, no albergue, sob um céu estrelado, abrimos algumas garrafas recém-compradas na fonte, acendemos a churrasqueira e fizemos um autêntico aussie BBQ (churrasco local) com salsichas, linguiças, carneiro e, claro, uma carninha do nosso marsupial favorito (comprado no supermercado, claro!).
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sábado, 12 de abril de 2008
Sou um rudder
Meus amigos, sou um rudder. É verdade! Não pensei que pudesse voltar a admirar um político, mas voltei. A cada semana, Kevin Rudd, nosso primeiro-ministro, tem impressionado mais.
Ele já havia dado uma grande demonstração de que é absolutamente diferente dos principais "líderes" da atualidade (leia-se últimas sei lá quantas décadas), na ocasião do Sorry Day, quando pediu desculpas aos povos aborígenes pelos abusos cometidos desde a chegada do nosso glorioso Captain Cook.
Agora, em meio ao turbilhão que a China está vivendo, com o mundo inteiro se voltando contra os absurdos que ela tem feito desde 1959 no Tibet, Kevin Rudd, falando mandarin fluente em território chinês, não titubeou em afirmar que há "significantes problemas de direitos humanos no Tibet". Meus amigos, não é qualquer um que entra lá e fala isso. Mais: que fala isso e não vai imediatamente viver a 7 palmos abaixo da terra.
Se, por exemplo, fosse Lula que estivesse visitando a China, ele faria a costumaz média com os políticos locais e não se manifestaria de maneira alguma sobre o problema. No máximo, diria que é uma questão interna da China e que prefere "não se meter" - palavras dele. Já Georg W. Bush mandaria milhares de soldados para o Tibet, mataria o restante dos monges e destruiria a região, sob a alegação de que estaria resolvendo o problema pela raiz. Hugo Chavez daria petróleo de graça para a China. E assim por diante...
Dia 24 de abril a tocha olímpica, que tem causado tumulto por onde passa, chega na Austrália. Kevin Rudd já recusou qualquer ajuda externa para garantir a segurança. Eu, claro, concordo plenamente, afinal, sou um rudder! Vamos ver no que vai dar. No mais, sensacional esta sequência sobre a criação do logo das Olimpíadas. Não sei quem fez mas tá ó-te-ma!
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