quarta-feira, 21 de maio de 2008

A Festa na Mansão de Bellevue Hill– Parte 1

A geografia da mansão é a seguinte. Olhando de frente, uma enorme torre de cada lado. No meio, um simpático terraço no andar de cima e uma porta com ares marroquino em baixo. Tudo de pedra, no melhor estilo “sempre quis ter um castelo”. No topo, uma nababesca e ecologicamente correta cúpula transparente permite que o astro-rei ilumine o interior da casa.

Entrando, um grande salão seguido de uma luxuosa sala de jantar. Do lado direito, uma sala de tv com lareira (na qual chamaremos de “top room”), e a cozinha hi-tech. Do lado esquerdo, outra bela sala com lareira (na qual chamaremos de “smoked room”). Atrás desta, uma espécie de lounge ao ar livre e um impecável gramado. A vista é simplesmente cinematográfica: a Baía de Sydney inteira, com direito a Harbour Bridge, Opera House e Manly (sim, ia até lá). Não por acaso o bairro chama-se Bellevue Hill, que numa tradução livre para o português seria o nosso popular Morro da Bela Vista.



Obviamente eu estava lá a trabalho. Há aproximadamente um mês, caí (de pára-quedas) nas graças de uma mulher que faz eventos. Nunca trabalhei com isso e não é a minha praia, mas por 30 dólares a hora, sou uma espécie de Maria Clara Diniz (no caso, Mario Claro Diniz, o Malu Mader de Celebridades). Até agora não sei exatamente qual foi o meu trabalho. Eu era uma espécie de papagaio de pirata da produtora da festa.

Ela estava encarregada de realizar o aniversário de 40 anos da mulher de um milionário (o homem é dono de uma construtora). A coroa, uma portentosa ex-modelo, convidou 78 pessoas. Para a festa, ela abriu a mansão e contratou uma empresa de function para cuidar da cozinha e do bar, uma banda de jazz para tocar clássicos dos anos 40, um trio (também de jazz) para receber os convidados, um DJ, uma floricultura, um cassino, uma decoradora, meia-dúzia de sei lá o quê e a minha chefa. Tremendo staff!



Como a festa seria no sábado, sexta, 10 da manhã, eu já estava lá. Não fazia idéia do que faria, mas percebi que seria, no mínimo, divertido, uma vez que trabalharia diretamente com a manager house da mansão (no Brasil a chamaríamos de “caseiro”), e com a decoradora e sua assistente (uma estudante de moda). E, para a minha surpresa, assim que recebi o cronograma de trabalho, notei que no dia da festa, a partir das 17 horas, haveria um núcleo chamado “Pablo’s Team”. Ou seja, mesmo sem fazer a menor idéia do que faria e o que estava fazendo lá, eu seria o primeiro papagaio de pirata da história a ter um time próprio (Mario Claro Dinz em estado bruto).

O trabalho na sexta não foi fácil. De carregar abajour de 3 mil dólares a dar palpite na decoração (leia-se cornetar), passando por falar “one, two, three testando” no microfone, colocar velas nos candelabrados e coordenar o tráfego de fornecedores na entrada da mansão (com direito a deter o controle remoto do portão da garagem que abrigava uma Maserati V8), fiz um pouco de tudo. E olha que ainda estava sem o “meu time”!



Alguns momentos foram tensos. Num deles, ao transportar um quadro de meio milhão de dólares para o andar de cima, só pensava em como fugiria de lá caso algo acontecesse com a obra. E de fato, quase fugi no momento em que deixei o meu “autógrafo” numa das paredes de mármore enquanto carregava uma poltrona vitoriana.



Mas o que realmente me impressionou não foi o valor de que estava ao redor, nem mesmo o número de pessoas trabalhando para um aniversário de 40 anos, mas a quantidade de vezes que se mudou móveis e objetos de lugar. Só o “top room” alteramos 16 vezes. Isso mesmo! Era um tal de “trás o espelho da garagem”, “leva essa poltrona para a escada”, “precisamos de dois candelabros para compor um mosaico”, “quero um pouco mais de dourado neste canto”, “cadê as minhas almofadas vitorianas?” (rico anglo-saxão adora a Rainha Victoria) e por aí vai. Frescura total! E no dia seguinte, quando voltei para a referida sala, não acreditei ao ver que ela estava completamente diferente em relação à décima sexta tentativa do dia anterior. “Optamos por uma outra proposta”, explicou a decoradora. Achei o máximo! Falou pouco e não disse nada.

Continua em alguns dias...

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