domingo, 23 de março de 2008

Mulherada de aço (e à prova d'água)

Ontem à noite, duas nadadoras australianas quebraram o recorde mundial durante as provas classificatórios para os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, que estão sendo disputadas aqui em Sydney.



A primeira foi a atleta de Brisbane Stéphanie Rice, 19 anos, que superou a marca da norte-americana Katie Hoff nos 400m medley com 4min31s46. Na sequência, Emily Seebohm, estudante de apenas 15 anos da St John Fisher College – escola católica só para meninas –, cravou 27s95, tornando-se a primeira nadadora a completar os 50m costas abaixo dos 28s.

Detalhe: em 8 de março deste ano ela já havia nadado 28s09 no campeonato do Brisbane Catholic Schoolgirls, provavelmete disputado na hora do recreio, entre as aulas de Estudos Sociais e Língua Inglesa.



Com 34.218 km de costa litorânea (o Brasil tem 8.000 km), não é de se estranhar que historicamente a Austrália sempre teve um time forte de natação, seja no feminino, no masculino e, pelo andar da carruagem, na coluna do meio. Mais de 130 nadadores já conquistaram pelo menos uma medalha olímpica desde os Jogos de Paris, em 1900 (ao todo foram 52 de ouro, o que coloca o país atrás somente dos Estados Unidos).



Aqui é assim: quando o relógio bate quatro, cinco da tarde, é comum ver australianos e australianas com roupa de banho, toalha no ombro e óculos e touca de natação na mão, indo para as praias. Muitas vezes é só para um refrescante “tchibum” vespertino, mas na maioria é para nadar de verdade, mil, dois mil, três mil metros.



Há alguns domingos rolou uma etapa do Kellogg’s Nutri-Grain Iron Man Series aqui em Coogee Beach, e eu fui lá acompanhar a etapa feminina. Além de nadar, elas também corriam e remavam. Vejam que impressionante!







Terminada a primeira bateria, 10 minutinhos de intervalo para tomar um café e ver umas gatas (afinal, ninguém é de ferro)...


... enquanto a mulherada de aço se preparava para voltar!


Detalhe da tiazona varrendo - nem aí pra prova.




Vejam que chegada!!!

Cabeça a cabeça!


Isso foi tudo o que vi na hora.

Mas nada como o tira-teima na foto "emprestada" do jornal da cidade, que confirmou a vitória da nossa gloriosa Alicia Marriott, de amarelo!


domingo, 16 de março de 2008

Queen Victoria em Sydney



Há dois domingos a Rainha Vitória esteve em Sydney. Obviamente não estou falando da gloriosa Vitória do Reino Unido (1819-1901), também conhecida como Imperatriz da Índia, a filha do príncipe Eduardo, o Duque de Kent, e neta do rei Jorge III, o Jorginho, que apaixonou-se por seu primo-irmão, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, e casou-se com ele por... amor (prática absolutamente incomum nas rodinhas imperiais da época).



Vitória teve o reinado mais longo do Reino Unido (1837-1901) e, até hoje, influencia não só a Inglaterra e todo o Reino Unido, como também as ex-colônias penais Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, entre tantas outras (especialmente na arquitetura – somos vitorianos em estado bruto, meus amigos).



Mas voltando ao foco central deste texto, há dois domingos esteve em Sydney o Queen Victoria, o segundo maior navio turístico do mundo. Batizado em 11 de dezembro de 2007 em homenagem à Vossa Majestade, nosso Queen Victoria pesa 90 mil toneladas, possui 294 metros de comprimento, 36 de largura e 62,5 de altura. Ele navega a aproximadamente 24 nós (ou 44 km/h – é praticamente uma mobilete), transporta 2014 passageiros (com 2015 ele afunda), 900 tripulantes e custou cerca de UK£ 270 milhões.



Infelizmente não pude vê-lo, mas minha amiga fotógrafa Claudia Marquezi esteve na Baía de Sydney e fez essas belas chapas!

Portentoso, não??? (Como diriam as bichinhas asiáticas da minha classe).




terça-feira, 4 de março de 2008

Princesão do cricket - As perguntas que não querem calar



Esta noite não foi das melhores para a seleção australiana de cricket. Em mais uma partida da polêmica temporada 2007/2008 (ver O tal do cricket), a Austrália perdeu para os indianos num final eletrizante. Mas como brasileiro não está nem aí pra cricket – eu só acompanho por ofício, uma vez que convivo diariamente com australianos, nepaleses e bengaleses, todos apaixonados pelo esporte – vou parar por aqui e seguirei direto para o que interessa.

Vejam a ombrada que o nosso glorioso Andrew Symonds, um dos pivôs de toda a polêmica da temporada, deu no invasor australiano que mais parecia um queijo minas em má fase. Sen-sa-cio-nal! Mas vamos às perguntas que não querem calar:



Primeiro:
por que gringo (especialmente europeu no inverno) adora invadir praças esportivas completamente nu?

Segundo: o que leva uma pessoa a invadir uma praça esportiva completamente nua?

Terceiro: o que leva uma pessoa a invadir uma praça esportiva completamente nua, sabendo que terá que pagar 5 mil dólares australianos de multa? Isso mesmo! Cinco pau (sem trocadilho) e ainda levará umas bordoadas, seja dos atletas (na verdade, estes não podem, Symonds provavelmente será punido), ou dos tiras!

Quarto (e não menos importante): o que leva uma pessoa a invadir uma praça esportiva completamente nua, sabendo que será ridicularizada por milhares de espectadores no estádio, por milhões que assistem pela TV e pelo resto da vida na Internet?



Eu não entendo! Mas vejam a sequência da ombrada que o princesão do cricket levou!


terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Water - um grande problema



Não é novidade pra ninguém o sério problema relacionado à água que enfrentamos no planeta. Por aqui, a questão é ainda mais grave. Não que esteja faltando no momento, muito menos que vivemos em meio a constantes racionamentos, mas o problema é acentuadamente linguístico.

A Austrália abriga gente do mundo inteiro. Assim, diariamente convivemos não só com diferentes línguas e culturas, mas diferentes sotaques em torno do inglês (praticamente variações sobre o mesmo tema). Por exemplo, nós, brasileiros, falamos o inglês “the book is on the table”, os italianos um inglês absolutamente “macarrônico”, os orientais o inglês “sénkio, I’m shy”, os latinos-hispânicos o inglês “speedy gonzales”, os franceses o inglês “vive la révolution”, os ingleses o inglês “pommy” (Proud of Mother England or something like that), o pessoal do leste europeu o inglês “na zdravi” e assim por diante.



Pois bem, como sabem, trabalho como garçom num restaurante mexicano. E uma das primeiras ações que faço quando chega novos clientes é correr com uma simpática, gelada e colorida garrafa de água. Opções de cores não faltam, mas este não é o ponto do texto. A questão é a pronúncia que devo escolher na hora de oferecer:

- Would you like a glass of water?

Perceberam a encrenca? Qual é a correta pronúncia de water? “Uóra“? “Uóta“? “Uórer“?“Uóter“ (com “t” mudo e sem “t” mudo)?



Cada cliente tem um sotaque absolutamente diferente, e eu preciso fazer um exercício mental de adivinhação para tentar identificar a origem da pessoa e qual o sotaque mais apropriado que devo usar para oferecer a simpática, gelada e colorida garrafa de água, de modo que ele não olhe para a minha cara com o maior desprezo do planeta, e pergunte:

- Whaaaaat? (Leia-se “Uóóóóóóóóóóóóót“?)

Assim, no melhor estilo “the water is almost on the table”, trabalho algumas faculdades mentais de projeção geográfica, outras de pronunciation, e tudo para oferecer uma simpática, gelada e colorida garrafa de água e não tomar um sonoro “uóóóóóóóóóót“ na cara. Especialmente quando se trata de um pommy (o britânico da Inglaterra), o discípulo mais próximo de Vossa Majestade, que é, disparado, o mais arrogante quando o assunto é língua inglesa. Mesmo aqui em terras australis, cujo povo local fala o inglês “outback-mate”.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Mop – O melhor amigo do brasileiro



Não tem jeito, ao decidir se mudar para a Austrália, o brasileiro passa a ter duas certezas: que a Globo continuará passando o Especial do Rei no final do ano; e que, ao chegar aqui, mais cedo ou mais tarde vai pegar num mop.


Mop, para quem não sabe, é aquela anglo-saxônica vassoura high-tech não muito comum no Brasil, que apresenta um incrível sistema de secagem. Ao “chuchá-la” num balde com água e alguns produtos químicos, o moper (pessoa que está no comando do mop) tem a opção de usá-lo enxarcado, molhado, molhado quase seco, sequinho, enfim, é um infindável leque de opções para escolher, de acordo com a necessidade de cada trabalho. Mas não é só. Acionando (sempre manualmente com os pés) o sistema de secagem, ele faz a operação inversa. Isso mesmo! Se o piso está molhado, é possível usar o mop para secá-lo. Absolutamente sen-sa-cio-nal!



Com exceção do Juninho Paulista, que veio pra Austrália para jogar futebol – e mais uma meia dúzia de quatro ou cinco brasileiros, o restante pegará no mop, seja domesticamente, quando dará um tapa na casa, ou profissionalmente, em uma cozinha de restaurante, num quarto de hotel, num banheiro de escritório, num buffet às 2 da manhã, enfim, pisou na Austrália, mop à vista (esta foi uma das primeiras frases do Captain Cook, em 1770).

E o mop é um sinal de prosperidade. Bem, na verdade não a prosperidade em si, não ela em estado bruto, mas o início, talvez o primeiro grãozinho do que um dia virá a ser chamado de prosperidade, pois se um brasileiro está fora de casa com um mop na mão, significa que ele está recebendo por isso. Dez dólares australianos por hora, douze dólares, quatorze, vinte, não importa, mop na mão é dinheiro no bolso (TCHU-TCHIM!).