domingo, 8 de agosto de 2010

40th City2Surf e Ziggy



A ideia de 80 mil pessoas estarem passando pela porta da sua casa é esquisita, mas ao mesmo tempo divertida. E é o que acontece neste exato momento aqui na frente do "Château El Capitano", onde moro.



Tudo por conta dos 14km da City2Surf, a maior corrida de rua do mundo, que começou às 8h30 com o pelotão de elite saindo do Hyde Park e ainda tem gente chegando na estrutura armada em Bondi Beach.







Essa é a típica corrida que não importa quem chega em primeiro, muito menos quem não vai bater o recorde do lendário Steve Moneghetti, que cravou 40.03 em 1991, mas sim as 75 mil vitórias individuais de cada corredor (ou andador, depende).



Como em toda corrida de rua, em Sydney também tem os personagens de sempre, além, é claro, das musas.



Lembrando que para fechar uma corrida que começa na City e termina no Surf, nada como uma regueira da melhor qualidade. O Beach Road está bombando desde as primeiras horas da manhã e, a partir das 18h, vai ter o Cultura Bondi com ninguém menos do que Ziggy and Wild Drums. Oferecimento da Fibra com o apoio institucional do Gustavo Daresi, o careca mais gaúcho de Sydney (ou seria o gaúcho mais careca dessas bandas?).


Speed e Gonzales


Speedo e Speedo, depois de pegarem atalho pela Oxford Street.


Peter Parker


Se você conhece esse brasileiro, mande a foto pra ele.


Se você conhece esse brasileiro, mande a foto pra ele.


Se você conhece esse argentino, mande ele pra... Ops, apenas lembre-o dos 4 a 0 da Alemanha.


Elvis is dead!


Santa simpatia, Batman!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Happy Hiato Day!

Se tem uma data que todo brasileiro que mora na Austrália sabe decór é o dia em que chegou no país. Se perguntar o dia em que deixou o Brasil, ele vai parar um segundo para pensar, lembrar da data que chegou, fazer as contas e depois responder. Mas se perguntar, por exemplo, em que ano chegou? Ele responderá:

- 2007, 7 de agosto de 2007.

Entre essas duas datas, existe o Hiato Day, que é justamente aquelas 24 horas passadas em algum ônibus com asas da Aerolineas Argentinas ou avião da Qantas, Emirates etc.

Hoje, 6 de agosto, é o meu Hiato Day, o que significa que ontem fez 3 anos que deixei o Brasil e amanhã fará 3 anos que vivo na Austrália. E que 3 anos!

A minha ideia é ficar. Amo a Austrália e o estilo de vida daqui, acredito que é uma sociedade que está em um movimento profundo de transformação, principalmente por conta do processo de imigração e consequente miscigenação, além, é claro, de ser uma ilha continental de infinitas oportunidades.

Claro, tem seus problemas, muitos deles crônicos como a inevitável fata de água em décadas (estamos falando do país mais seco do mundo) e da absurda dependência econômica de recursos naturais, mas adoro quando eles tratam questões pequenas como grandes problemas, o que só mostra como eu estava mal acostumado no Brasil.

É evidente que o futuro a Deus pertence, como diria algum coroinha, o que não significa que ficarei sentado num café em North Bondi esperando ele decidir por mim. Na verdade, neste exato momento estou sim num café em North Bondi, mas tocando a minha vida, agilizando o máximo de coisas que posso fazer, para quem sabe conseguir ficar cada vez mais por estas bandas.

Sou brasileiro, sulamericano e tenho orgulho disso, mas viver num país onde você não é julgado pela roupa que veste, o carro da garagem (ou por usar transporte público), a casa em que mora e o que quer fazer da vida, é algo absolutamente sem preço. Na verdade tem, pago ele a cada 3 meses quando vence a minha escola, além de sentir saudade de algumas pessoas e ocasiões do Brasil, mas se colocar tudo na balança... Advance Australia Fair (o hino local).

Sinto que o meu tempo está apenas começando no terceiro continente à sua escolha (na verdade, não sei se sinto ou se é o que desejo), por isso quero dobrar e ficar mais 3 anos e, se a Dilma realmente ganhar as eleições, pelo menos mais 4.

Happy Hiato Day!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Chapa do Dia - Lua de São Jorge ou Meia-lua inteira?

Chapa tirada essa madruga, do banheiro (era o melhor ângulo).

Já esquentando para a próxima terça, quando a Juliana Cesso, o Rapha e eu faremos o "Especial Caetano Veloso" na Vibez Brazil (Eastside FM 89.7), homenagem aos 68 anos que o compositor comemora no próximo sábado, fica a dúvida:

Lua de São Jorge ou Meia-lua inteira?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Abuka, Samba Mundi e uma das melhores invenções

Guilherme Infante


Hoje à noite, quarta, o Abuka Trio toca no mesmo bat-horário e no mesmo bat-local, ou seja, Robin Hood Hotel (203 Bronte Rd - Bondi Junction), das 20h às 23h, com o melhor do que se faz em Sydney em termos de música brasileira. Se você ainda não viu Tiago de Lucca (violão e voz), Sandro (percussão) e Marcello Maio (teclado), não perca, pois além de tudo, é grátis!



E amanhã, quinta, Sandro e Marcelo juntam-se ao Samba Mundi, uma das melhores bandas que já vi por estas bandas, para tocarem no 505 (280 Cleveland St - Surry Hills), uma das melhores casas de música ao vivo da cidade. O álbum do Samba Mundi (clique na foto para ouvir algumas faixas) é ótimo, mas ao vivo, com as improvisações, as levadas de jazz, a pegada latina e o groove brasileiro, é simplesmente e-p-e-t-a-c-u-l-a-r. Entrada $15.

E como o assunto é música, eu gostaria de aproveitar para agradecer não apenas os "engenheiros" da Apple, como também o engenheiro que criou a opção "Shuffle Songs" no iPod. Sim, Mr. Joseph Random (em geral, inventores se chamam Joseph), you're the man!



Falei isso porque entre ontem e hoje, dois dias absolutamente melbourianos em Sydney, com o clima alterando a todo instante, indo do frio ao gelado, da chuva à tempestade, pessando pela garoa, fog e ventos cortantes vindos da neve, foi justamente a seleção resultada de um simples apertar de "Shuffle Songs" que manteve o moral lá em cima - e as orelhas quentes, é claro.

Seguem as 31 que fizeram a alegria:

Lucy in the Sky with Diamonds - The Beatles
Us and Them - Pink Floyd
Lady Chatterley's Mother - Gerry Mulligan
Hallelujah - Charlie Parker
California Girls - David Lee Roth
(Nothing But) Flowers - Talking Heads
Can't Help Falling in Love - UB40
Let's Spend the Night Together - David Bowie
Get Up Edina - Desmond Dekker
Down - Miles Davis & Stan Getz
Runaway Train - Soul Asylum
O Astronauta de Mármore (Starman) - Seu Jorge
Iron, Lion, Zion - Bob Marley
Wild is the Wind - David Bowie
Uns Dias - Os Paralamas do Sucesso
That Old Black Majic - Miles Davis & Stan Getz
Meu Erro - Os Paralamas do Sucesso
Sad Lisa - Cat Stevens
Under Pressure - Queen
All The Young Dudes - David Bowie
Unity - Desmond Dekker
My Number One - Gregory Isaacs
Daysleeper - R.E.M.
Every Breath You Take - The Police
Human Beings - Van Halen
She Bangs the Drums - The Stone Roses
Yardbird Suite - Charlie Parker
First Week/Last Week - Talking Heads
Changes - Seu Jorge
Tigresa - Caetano Veloso
Happy Birthday - Stevie Wonder



Aliás, Rapha, precisamos marcar o "Especial Caê".



terça-feira, 3 de agosto de 2010

Chapa do Dia

Não é todo dia que vai ter chapa nova aqui no blog, mas sempre que der vai ter a Chapa do Dia (tipo funcionário do mês do McDonalds).


Agora a pouco, em North Bondi.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pizza às segundas, terças e quartas



Doughboy, para quem não conhece, é uma das melhores pizzarias de Sydney. Original de North Bondi, onde é totalmente fancy, cool, trend, funky e outros adjetivos "maneiros", hoje os caras estão espalhados pela cidade.

Pois bem, em agosto, de segunda a quarta, nas unidades de North Bondi (290 Campbell Pde), Maroubra (323 Malabar Rd) e Randwick (130 Avoca St), eles estão com uma promoção bacana que é a desculpa perfeita para dar um pulo lá.

É o Upsiza for free, que nada mais é do que aumentar a pizza de graça. Ou seja, você pede uma Medium e ganha uma Large ou pede uma Large e ganhe uma XL.

E o que é melhor: é BYO!

Você só precisa clicar no Guia de Vinhos do blog, escolher a sua boteja e depois comer uma das melhores pizzas da cidade. Pode ir tranquilamente em qualquer Pinot Noir ou Merlot que vai funcionar. Se for em casal, leve o rosé. E se quiser fazer tudo perfeito, compre o italiano que eu e a Izabella indicamos na categoria para harmonizar com comida italiana. Não tem erro!



Importante: a unidade de Maroubra não abre às segundas.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Geléia - Como você nunca viu



A fera vai embora. Pouca gente conquistou tantos corações em tão pouco quanto Leonardo Paixão, ou Léo Paixão, ou Geléia, Jam Léia... Carismático, talentoso e, acima de tudo, um ser humano raro, o capixaba-carioca que em 2 anos de Austrália gravou seu nome para sempre na comunidade brasileira, em especial na de Sydney, volta no próximo dia 8 de agosto para o Brasil, onde vai morar em Porto Alegre.

O show de despedida com a Tropical Jam, a banda que o tem acompanhado, acontece nesse domingo, a partir das 18 horas, no Beach Road, e, mais do que nunca, quem não for não vai para o Céu.

Antes, no sábado, Balu, um de seus principais incentivadores, vai fazer um almoço especial com Tutu de feijão, bistequinha e banana à milaneza, do meio-dia às 17h, ao som de chorinho ao vivo tocado por Andrezinho, um dos parceiros musicais do Geléia. A entrada é grátis e o Mocean está na 34a Campbell Parade (Bondi Beach).



A seguir, Geléia fala dos motivos pelos quais está voltando, de sua experiência na Austrália, música, preconceito, homessexualismo e, acrditem, IT.

Por que você vai embora?
Nossa, difícil explicar… Um conjunto de acontecimentos aqui e no Brasil me levaram a tomar esta decisão. Mas basicamente, não conseguia ficar preso às limitações de um visto, preciso de liberdade para realizar os meus projetos e estava cada dia mais difícil sustentar todas estas etapas.

Você está mais feliz por voltar para o Brasil ou mais triste por deixar a Austrália?
Não sei o que me aguarda no Brasil nesta volta, toda uma ansiedade relativa ao novo, mas confesso que não está sendo fácil deixar a Austrália. Tristeza é uma palavra que não entra no meu vocabulário, mas posso dizer que deixo a Austrália ja com muitas saudades.

Em praticamente dois anos, você se tornou uma das pessoas mais populares e conhecidas da comunidade brasileira de Sydney, além de cantor com público cativo. Você esperava isso quando desembarcou na Austrália?
Bom saber que sou conhecido e popular na comunidade brasileira… (risos). Não esperava essa notoriedade toda. Vim pra cá para descobrir e desafiar o meu eu artístico, revolucionário, precisava dessa experiência… E as coisas foram acontecendo naturalmente. Quando vi estava cantando, envolvido em projetos de arte, comunicação, falando com as pessoas e cantando, que é uma das minhas maiores paixões.



Aliás, quando decidiu vir para a Austrália, qual era o seu objetivo?
Foi uma decisão bem rápida, mas sempre sonhada. Sempre tive vontade de ter uma experiência internacional, falar inglês, experimentar outras vivências e nunca tinha tido oportunidade. Em maio conversei com meu irmão (meu guru) e tomei a decisão. No mesmo mês avisei os meus gerentes e em julho eu estava chegando na Austrália. Meu objetivo principal aqui era aprender inglês e viver novas experiências… Realizei ambos.

Nestes dois anos, o que mais você gostou da Austrália e o que menos lhe agradou?
Sucintamente falando, adoro o jeito despojado dos australianos, os vinhos da região, a consciência ecológica e a segurança que temos aqui. De negativo, acho a indústria da comunicação e entretenimento, que tem muito a melhorar, e a distância do Brasil. Poucos, né?

Quando a música surgiu na sua vida?
Cresci com minha mãe cantando Elis Regina, Clara Nunes, Emilinha Borba, Amelinha, entre outras, e o meu pai escutando o rádio às cinco da matina com o melhor do sertanejo. Nelson Goncalves é o seu favorito. Meu primeiro CD foi do 14Bis, presente do meu irmão. Meus irmãos me influenciaram com o movimento dos anos 80, por eles serem praticamente 10 anos mais velhos do que eu, e nasci no interior, né, roda de violão, garrafão de vinho (daqueles Sangue de Boi) e boas músicas nunca faltaram na minha infância e adolescência. Me reencontrei com a música em 2007/2008 quando comecei a frequentar as aulas de cantoterapia da Sonia Joppert ali na Gávea, no Rio de Janeiro.



Quando descobriu que tinha talento para cantar?
Quando comecei a frequentar as aulas de cantoterapia, a Sonia e os colegas de classe ficavam impressionados com as escalas que eu atingia e a potência da minha voz. Fizemos alguns workshops na região serrana do Rio e tínhamos que cantar para um pequeno público do hotel onde estávamos hospedados. Minha perna tremia "quinem vara verde". No final, os aplausos eram bem entusiasmados. Daí comecei a pensar no assunto. Será mesmo? Minha professora Sonia chegou bem pertinho de mim e falou: "Você pode tudo o que voce quiser!". Arrepiei, né.

Quais são as suas principais influências musicais?
Nao tenho influência musical. Acho que prefiro falar assim. Detesto limitacões. Não posso escolher um estilo de música para me emocionar, eu sou movido pelo som, pela harmonia que toca a minha alma, se vai ser um JAZZ ou um SERTANEJO, só o momento vai me dizer. Existe uma música certa para o momento certo. Toda música e toda musicalidade tem o seu valor, por mais pobre que uma música possa parecer para alguns, a mesma música pode ser trilha sonora de bons momentos para outros.

Como começou o lance de cantar aqui na Austrália?
Há um ano, talvez mais, eu frequentava as festas brasileiras e um dia os meninos do Samba Australia me chamaram pra cantar. Fui! Daí soltei um Tim Maia, bem ao estilo Maia de ser e a galera curtiu. Em Outubro do ano passado, o Andrezinho me convidou pra fazer um domingo todo meu no Coogee Bay Hotel, num projeto da Baluart Productions. Dali em diante não parei mais. Consegui mais duas datas, fiz o CarnaCoogee e o Carnaval na Home, em Darling Harbour, o Cultura Bondi e estava planejando almejar outros voos, mas tive que colocar estes outros projetos on hold.


Qual foi a sensação de saber que independentemente de onde fosse cantar, um grande número de fãs o seguiria?
A sensação foi de muita responsabilidade. Todos nós sabemos o quanto as pessoas trabalham no dia-a-dia e, se saem de casa, é porque elas querem diversão, entreter-se, relaxar. Esse é o meu papel no palco, levar energia, matar a saudade do Brasil, colocar todo mundo pra dançar, interpretar as músicas na vivência das letras, buscar o olhar das pessoas, usar minha voz como instrumento de amor, de amizade, de alegria e também de saudade. Tenho que fazer o meu melhor sempre.

Como foi cantar para algumas pequenas multidões, como o CarnaCoogee, com cerca de 2 mil pessoas, por exemplo? Aliás, qual foi o seu maior público? E qual foi o seu show inesquecível?
Uau! Fazer o CarnaCoogee foi algo mágico e foi o meu maior público, acredito. Não somente pela grandiosidade do evento mas também pela conquista pessoal e o trabalho como produtor artístico, juntamente com o Balu e com o Andrezinho. Levar dois músicos australianos para o palco e eles serem responsáveis pelos sopros nas marchinhas foi algo bem desafiador. Talvez as pessoas não consigam entender a representatividade deste projeto visto que marchinhas de carnaval fazem parte da nossa cultura e da nossa história musical. Um marco pra mim foi minha estreia no Bondi Samba Project, onde a banda foi toda montada por mim e tive que assumir o papel de band leader, gerenciando pessoas, ensaios, repertórios, custos, etc. Todos os meus amigos estavam na plateia para me assistir. Foi confortante tê-los.



Onde você não cantou que gostaria de ter cantado?
Ah, estamos falando de sonho, de goal, de pensar grande? The Basement!

Negro, homessexual e gordo. Tanto no Brasil quanto na Austrália, é uma combinação que foge do padrão de beleza/comportamento socialmente imposto. Mesmo assim você venceu. Por que?
Porque eu não fiquei envolto disso. A primeira atitude é aceitar o seu corpo, o seu jeito de ser e de agir. Uma vez que você se aceita como você é, as coisas ficam bem mais fáceis de serem digeridas. Eu levo amor dentro do meu peito, levo respeito, levo amizade, levo sorriso, levo sinceridade para todas as outras coisas eu, definitivamente, uso MASTERCARD.



Onde você sofre (sofreu) mais preconceito, aqui ou lá? E por quais fatores?
Posso dizer que nunca sofri preconceito, nem por ser gay e nem por ser negro. O que já rolou por exemplo é a pessoa que eu sento no ônibus e a pessoa do lado dar aquela olhadinha pensando “nossa, que gordo me encostando” (risos). Mas falando sério, claro que já rolaram coisinhas do tipo “olha o viadinho”, “o gordo mais gordo” e tal, mas não dava atenção a estas pessoas e como sempre fui muito querido, eu nunca tinha tempo de responder às agressões verbais, primeiro porque eu detesto confusão e segundo porque sempre tinha um amigo que falava antes de mim. Sempre fui rodeado de grandes amigos. Em relação ao fato de ser negro, nunca sofri nada!

Desde que chegou, você emagreceu bastante. Você foi atrás disso ou foi algo que ocorreu naturalmente pelo estilo de vida daqui?
Emagreci 25 kilos pela música. Precisava respirar melhor, melhorar o meu condicionamento físico, ter potência de voz, não dá pra dançar, cantar, interpretar e ainda dar tchauzinho com 140kg, né. Ja vim do Brasil com este pensamento e consegui colocar este projeto em andamento com a ajuda da minha personal trainer Vanessa Lima.

Você teve grandes amores na Austrália? Viveu grandes paixões?
Não. Acho que esse é um ponto que eu queria ter vivido e não rolou. Tive uma vida muito corrida aqui, não tinha tempo pra nada, depois com os shows, então, piorou. Mas posso dizer que provei do tempero australiano… e gostei, viu. Acho que eles são mais tranquilos em relacão a relacionamento, às vezes essa “latinidade” que temos é exagerada.

Voltando alguns anos, quando descobriu a sua homessexualidade?
Quando eu estava na faculdade e consegui minha independência financeira. Fiz 2 meses de terapia e fui me jogar pelas nights gay do Rio de Janeiro. Uma vez me aceito como gay, quis contar para o mundo.



Como foi falar para a família? Qual foi a reação deles?
Foi maravilhosa! Meus irmãos, meus melhores amigos só ficaram preocupados com a reação dos meus pais. Minha mãe me veio com a frase: "Quer dizer que eu não vou ter um neto de voce? É temporario?" (risos) Uma fofa! E o meu pai simplesmente falou que queria a minha felicidade e que me amaria da mesma maneira. Com isso, liguei o foda-se para o resto do mundo! Piegas, mas tenho uma família de ouro!

E depois, no seu ciclo de amizades, na vizinhança, o que aconteceu? Fale um pouco onde você vivia naquela época?
As pessoas já sabiam. O problema estava dentro de mim mesmo, e eu consegui me assumir. A partir desse momento, eu conseguia falar de sexo, homossexualismo, bissexualismo com muita naturalidade. Os meus amigos da faculdade (detalhe, todos heteros) me abraçaram e ficaram felizes por mim, por eu ter verbalizado os meus sentimentos. Eu vivia numa prisão emocional e não sabia. Voltei a sorrir com mais entusiasmo quando me aceitei gay.

Aliás, voltemos mais ainda no tempo. Onde você nasceu e por quais cidades passou até desembarcar em Sydney?
Adoro contar essa história. Nasci em Guacuí-ES, uma cidadezinha perto de Cachoeiro do Itapemirim (cidade do rei Roberto Carlos), com 4.5Kg. Praticamente com dois meses de idade, né? (risos). Mudei pra capital Vitória com 14 anos para me preparar para o vestibular e, aos 17 anos, passei no vetibular na UFF, em Niterói, e começou a minha história no Rio de Janeiro, onde vivi 11 anos antes de vir para Sydney.

Você está voltando para reiniciar a carreira em IT. No que se formou?
Me formei na Universidade Federal Fluminense no curso de Bacharel em Ciência da Computação. Sou especialista em Data Warehouse e Business Inteligence. Complexo, né?

Sei que você também adora teatro, sarau e outras formas de manifestações artísticas, além da música. Pretende segui-las? Dar continuidade?
Enquanto eu estiver vivo estarei envolvido com arte. Já era muito envolvido anteriormente assistindo e atrás das câmeras, mas agora eu quero estar em spot light. Me faz bem e alimenta minha alma. Já tenho alguns projetos em vista no Brasil, assim que eles estiverem em fase de conclusão eu mando notícias pra você colocar aqui e a galera ficar sabendo.



Pensando no futuro, quem o fará mais feliz, o cantor/artista Geleia ou o profissional de IT Leornardo Paixão?
Acho que cantar sempre será minha terapia, meu elo, minha vida, mas não posso negar que a parte financeira é importante, e só agora tenho uma consciência melhor sobre isso, talvez porque eu tenha chegado aos 30 anos. Acho que estarei sempre voltado para o público, sempre em contato com pessoas, e é isso que me faz feliz, independentemente da carreira que eu vier a seguir.

Sei que tem uma multidão de gente triste com a sua ida e que certamente entupirá o Beach Road no próximo domingo. Eu, desde que soube da notícia, lá mesmo, sou um deles. Se quiser, use esse espaço para deixar uma mensagem para os que ficam.
Deixo este país com a certeza de que deixarei amigos e pessoas fortes que lutam pelos seus ideais, sonhos e realizações. Agradeço todo carinho, toda atenção, cada sorriso e abraço recebido, levarei comigo as melhores energias, os melhores momentos, mas a certeza de que um dia nos encontraremos novamente, mesmo que seja por recordações de fotos, mensagens ou mesmo inusitadamente pelos caminhos desencontrados da vida.

“Canto que é do canto que eu vou chegar… ” Marcelo Camelo



Modelo - Léo Paixão
Figurino - Léo Paixão / Flavinha Marquez
Assistente de direção artística - Paola Penina
Produção - Vassi Dyulgerova / Guilherme Infante
Assistente de produção - Vassi Dyulgerova
Direção e fotografia: Guilherme Infante