sábado, 27 de junho de 2009

Bit it!



O péssimo trocadilho acima, em clima de Michael Jackson, foi para avisar que, após longo e tenebroso outono, acabamos de ter mais um ataque de tubarão. O primeiro do inverno 2009.



O ataque ocorreu agora a pouco, às 8h45 da manhã, na Seven Mile Beach, em Gerroa, sul de New South Wales. Pelo que tudo indica, a mordida foi "leve", dilacerando apenas a parte de baixo da perna.



A questão que não quer se calar, é:

O que o cara fazia na água, neste frio, às 8h45 da manhã de um sábado?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Luto (duplo) e um apelo



Apesar dela não ter nada a ver com a Austrália (ou com o terceiro continente à sua escolha - temas principais deste blog), eu, enquanto oitentista, ocidental, americano do sul e dono do blog, não poderia deixar passar em branco. Afinal, foi o primeiro amor da minha vida e o meu ideal de beleza até descobrir as "suécias"!



Viva Farrah Fawcett (1947-2009)!



E no momento em que atualizo este post, Michael Jackson acaba de morrer. Eu, enquanto oitentista, ocidental, americano do sul e dono do blog, também preciso registrar, afinal, todo amor platônico é embalado por algumas músicas, e no início dos anos 80, não importa onde estava ou o que fazia, ao fundo sempre rolava algum clááááássico de Thriller.



Com duas perdas oitentistas na sequência, uma na TV e outra na música, faço um apelo:

Muller, cuidado ao sair de casa hoje. Perder o ídolo oitentista do futebol seria demais!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Programa bem australiano



Sábado passado foi o aniversário da minha irmã, a mãe dos gêmeos. A idéia original era comemorar no Randwick Racecourse, o principal palco de corridas de cavalos de Sydney. Programa bem australiano, principalmente aos sábados, quando a mulherada nas tribunas usa vestidos longos e chapéus coloridos, enquanto os homens tentam parecer mafiosos.



A festa da minha irmã não seria nas tribunas, mas num gramado dentro do racecourse, com acesso ao bar, às apostas e podendo levar quitutes e toalhas para fazer piquenique. Coisas dos gêmeos e, mais uma vez, programa bem australiano.

Não sei se por descenderem de prisioneiros, por viverem em um paraíso ou ambos, mas o fato é que australiano adora toda e qualquer atividade ao ar livre, entre elas um bom piquenique. Eu adoro! Com algumas botejas de vinho, queijinhos, pães e boa companhia, passa-se um dia perfeito em parques, praias, cliffs ou seja lá onde estiver.

Mas no sábado o tempo estava horrível, o que nos levou ao plano B: RSL. O Returned and Services League of Australia, o popular RSL, surgiu em 1916 como programa do governo para receber os homens e mulheres que voltavam da I Guerra Mundial, oferecendo um lugar para eles se reunirem, confraternizarem, enfim, beberem.



Os RSL’s estão espalhados por toda a Austrália, são frequentados não só por veteranos de guerras, mas também por famílias, jovens, estudantes brasileiros e quem mais quiser. Além do bar, que é a atração principal, em geral eles também têm restaurante, área para apostas, jogos e outros entretenimentos.

O grande lance do RSL é se tornar membro. Por $5, $6, $10 por ano, você ganha a sua carteirinha e tem ótimas vantagens como cerveja mais barata, desconto no restaurante e acesso a vários sorteios, promoções etc. Em um dos que eu era sócio, em Coogee, às segundas-feiras um honesto steak + cerveja saía por apenas $5,50. Praticamente de graça e já pagava a anuidade!



E todo santo dia, às 6 em ponto da tarde, quem está nos RSL’s mais tradicionais é obrigado a se levantar, olhar para uma espécie de altar onde estão algumas referências militares e fazer um minuto de silêncio em homenagem aos aussies que morreram na guerra. Como eu disse, programa bem australiano, mas que todo mundo gosta!

domingo, 21 de junho de 2009

Panadol nele!



Eu amo a Austrália. O lugar, as pessoas, o estilo de vida, o transporte público, o vinho, as mulheres, tudo. Mas tem algo que me assusta: os médicos.

Não sei a razão por tamanho despreparo, pois os caras têm ótimas instalações, equipamentos de última geração, estudam vários anos em boas universidades, mas na hora de fazer um simples diagnóstico, é absolutamente assustador.

Não sei se por preguiça (o australiano como o restante do hemisfério sul é bem preguiçoso), por incompetência ou por pressão do fabricante, mas eles não são de examinar muito e, após alguns pouquíssimos minutos, o diagnóstico é sempre o mesmo:

"Não deve ser nada, toma um Panadol que passa."



Paul Curtis, 31 anos, após dois dias de muita dor no pescoço, passou pela emergência do Sydney's Ryde Hospital. Os médicos, sem mesmo pedir um raio-x, mandou ele pra casa e receitou o Panadol.

A dor não passou e Paul voltou para o hospital, quando outro médico diagnosticou que o cara havia quebrado o pescoço. Só isso!

Minha irmã, quando teve os gêmeos, graças ao bom Deus, foi muito bem atendida, deu tudo certo, mas sei de muita história de brasileiro que ouviu diagnósticos pra lá de assustadores.

Aliás, se você souber de algum, conte aí embaixo.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Só pra confirmar - Go Socceroos!

A vaga para a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul já estava garantida, e com a vitória (de virada) por 2 a 1 contra o Japão, agora a pouco, em Melbourne, a seleção australiana confirmou a primeira colocação no grupo 1 asiático (sim, estamos na Oceania mas disputamos na Ásia - coisas do terceiro continente à sua escolha).



Os dois gols australianos foram marcados por Tim Cahill (o da jaqueta 4 fazendo careta), meio-campista do Everton que na Copa de 2006 havia feito outros dois gols contra o mesmo Japão na estréia das duas seleções. Já o gol japonês foi marcado pelo brasileiro Tulio Tanaka (sim, ele nasceu no Brasil mas joga pelo Japão - coisa do continente azul claro acima do terceiro à sua escolha).

terça-feira, 16 de junho de 2009

O tio dos gêmeos

Domingo passado fui à festa junina do BraCCA (Brazilian Community Council of Australia), a principal associação de brasileiros por aqui. Já tradicional, a festa rolou em um clube português e, apesar das filas (brasileiro adora uma fila) e da chuva, estava bem bacana.

Principalmente por eu ter conhecido uma honesta cerveja portuguesa que jamais ouvira falar, a Super Bock, e, claro, por ter encontrado algumas figuraças que só a comunidade brasileira tem. Verdadeiros “engenheiros”!



Mas o engraçado mesmo foi a maneira como uma mulher se referiu a mim, quando me apresentaram a ela:

- Esse aqui é o Pablo, jornalista, trabalha na Ozzy, escreve pra Radar e tem um blog superlegal.

- Ahhhhhhhhhh, você é o tio dos gêmeos!

Lição do dia: anos de jornalismo, uma batalha para conseguir escrever deste lado do Pacífico, litros e mais de litros de café, horas debruçado no computador (seja em casa ou na biblioteca de Waverley), mas desde 30 de outubro do ano passado, nada mais do que o tio dos gêmeos.

Com vocês, as últimas chapas de Patrick e Georgia:












segunda-feira, 15 de junho de 2009

Voa, Canarinho voa!

Matéria publicada na edição 5 da Radar Magazine.

A decisão estava nos minutos finais e o Sydney Brazilian Social Club (SBSC) vencia por 1 a 0, quando o atacante brasileiro recebeu a bola na área. Ele dominou, driblou o primeiro, driblou o segundo, passou pelo terceiro e, enquanto o resto do time gritava “chuta!”, “toca!”, ele fintou o quarto, ameaçou bater, esperou o goleiro cair e o encobriu com um toquinho sutil.



Este golaço coroou a histórica participação do SBSC no campeonato da Inner City Football Association (ICFA). Com a vitória por 2 a 0 sobre o poderoso La Ciccolina, os Canarinhos – como são conhecidos – em seu primeiro ano disputando a tradicional liga amadora de Sydney, sagraram-se o primeiro time brasileiro de futebol a levantar um caneco oficial na Austrália. O feito foi realizado em setembro de 2008, mas esta história começou muito antes.

O ano era 1972, e o Brasil já havia conquistado 3 Copas do Mundo de futebol, enquanto a Austrália jamais se classificara para um Mundial – nem mesmo uma liga nacional profissional tinha. Na época, não havia tantos brasileiros quanto hoje por aqui. Mas os poucos que se aventuravam, iniciaram, timidamente, a se encontrar aos domingos para bater uma bola. “Uns jogavam em Rushcutters Bay e outros no Moore Park. Aí começaram a jogar somente no Moore Park”, afirma seu Carlos, um dos primeiros Canarinhos. Era o jeito de matar um pouco a saudade de casa, se divertir e falar português, pois no resto da semana era só trabalho e se virar com um inglês pra lá de “the book is on the table”. Além de Carlos, outros membros desta primeira geração como seu Macário, Baiano Bangu, Harold Rocha e Caju estão firmes até hoje, seja jogando ou apenas “cornetando” do lado de fora. A diversão é garantida!


Canarinhos em 1997

Durante os anos 1970, nomes como Paulinho Dutra, Odilon e Wilson foram sinônimos de futebol-arte, e até hoje são lembrados com muito respeito pelos mais antigos. Mas eles não chegaram a jogar profissionalmente na Austrália, como o meia Agenor Muniz, o grande nome da primeira década. Agenor, que atuava pelo Vasco da Gama, desembarcou em 1971 com a primeira leva de jogadores profissionais que veio para o país. Ele foi contratado pelo Sydney Hakoah Club e, após se naturalizar australiano, chegou a defender a seleção nacional entre 1976 e 1979. O futebol do país, por sinal, vinha crescendo e alcançou dois importantes êxitos: a inédita classificação para a Copa do Mundo de 1974, com o time liderado pelo meia John Warren; e a criação da National Soccer League (NSL), em 1977, a primeira competição nacional de futebol na Austrália.

Alguns brasileiros passaram pela NSL. Um dos que mais se destacou foi o carioca de Maricá Nélio Borges, o Nelinho, que chegou na Austrália em 1979. Jogador amador no Brasil, ele foi descoberto por um olheiro que o trouxe com outros dois conterrâneos: Marquinhos e Mozart. Mesmo jogando profissionalmente na National Soccer League, Nélio, desde o início, fez parte dos Canarinhos. “Quando os jogos da liga caíam no sábado, domingo era certeza que eu vinha”, conta o veterano meia, que ainda faz seus gols.

Em 1989, do Moore Park a pelada passou para o Centennial Park, onde está até hoje. Àquela altura, os boleiros já haviam se tornado uma grande família. “Aqui, sempre que um precisa, tem o outro para ajudar. Se o cara está precisando de trabalho, é só aparecer que vai encontrar algum bico para fazer, ou algum trabalho mesmo”, diz Gelcimar Freire, o Gel, atual vice-presidente do clube.

O clube
Em uma tarde de 1996, após jogar contra um time de chilenos, um dos Canarinhos foi até o carro e pegou 6 garrafas de cerveja. “Ficamos lá, eu, o Nelinho e mais um pessoal, tomando uma cervejinha, e aí veio a idéia: pô, por que a gente não faz isso todo domingo, por que a gente não leva uma cervejinha? Contamos a idéia para o pessoal e eles gostaram. Foi aí que resolvemos fundar o clube”, conta Chicão, atual tesoureiro. A primeira reunião aconteceu em 23 de fevereiro de 1996, e os peladeiros overseas, que já haviam se tornado uma família, agora também tinham um clube.



Duas lendas: Johnny Warren e Baiano Bangu

O Sydney Brazilian Social Club é uma entidade filantrópica, sem fins-lucrativos, aberta para brasileiros e estrangeiros que se unem não só em torno do futebol, mas para aproveitar o pós-pelada, o que inclui cerveja e churrasco. Não é todo domingo que rola uma carninha, mas pelo menos uma vez por mês é realizado um churrasco com cerveja, pagode e, às vezes, feijoada e outras comidas típicas do país. Chicão explica: “Até então, terminava o jogo e o pessoal ia embora. Mas depois mudou. O pessoal começou a ficar e aproveitar. Quem sofre é a mulherada, que reclama que os caras vão jogar bola. Mas a gente precisa também”.


Les Murray no Maracanã com Gel e Dinamite

Jogando tanto tempo no mesmo lugar, os brasileiros ficaram conhecidos. Os próprios funcionários do Centennial Park passaram a se referir aos dois gramados usados por eles como “Brazilian Fields”. O nome não só pegou, como foi oficialmente batizado pela organização do parque no início dos anos 2000. Mas antes mesmo, a popularidade já era alta. A longa tradição despertou o interesse de muita gente ligada ao futebol na Austrália. Les Murray, por exemplo, jornalista e apresentador da SBS, é considerado membro honorário e padrinho do clube". Andy Harper, apresentador da Fox Sports, Michael Cockerill, comentarista da Fox Sports e colunista do Sydney Morning Herald, e Liz Deep-Jones, ex-apresentadora do SBS, também são grandes entusiastas dos Canarinhos. Mas ninguém se compara ao lendário Johnny Warren, aquele mesmo que conduziu a Austrália à sua primeira Copa do Mundo, em 1974.



Johnny Warren recebendo medalha da FIFA

Warren, amante do futebol e da cultura brasileira, foi casado com uma brasileira, esteve mais de 30 vezes no país e durante anos freqüentou o Brazilian Fields. Ele sempre lutou pelo futebol australiano e foi um dos que mais defendeu a criação da A-League, a atual liga profissional que substituiu, em 2005, a antiga National Soccer League. Warren, porém, não pode vê-la concretizada, pois faleceu um ano antes após longa luta contra o câncer.

Não só a Austrália sentiu a morte de Warren, como também os Canarinhos. Para homenagear o amigo, eles realizaram uma grande festa em Surry Hills, que atraiu centenas de pessoas. Em 2003, já haviam promovido no Coogee Bay Hotel um evento beneficente para arrecadar alimentos para a campanha Fome Zero, recém-lançada no Brasil. E, anualmente, organizam atividades no Brazilian Fields como o Mother´s Day, festa de dia das mães que reúne cerca de 400 pessoas. Recentemente, também criaram uma escolinha de futebol para crianças, o SBSC Little School of Football.



O clube sonha em ter uma sede própria, em poder oferecer muito mais para os brasileiros que estão aqui, para os que chegam e, principalmente, para os filhos de todos estes que há décadas trocaram o Brasil pela Austrália. Para quem está desembarcando em Sydney e quer bater uma bola, é só chegar um pouco antes das 11 horas no Brazilian Fields, em qualquer domingo, e jogar. “São todos bem-vindos”, diz Marcone, o atual presidente. E que venha o bicampeonato este ano!

Os campeões de 2008: Abel, Alex, Balu, Caio, Dani, Dave, Dinamite, Gel, Guilherme, Júnior, Leandrinho, Liminha, Marcone, Marrinho, Narcizo, Paulo, Pedrão, Renan, Ronaldo, Rui, Sérgio, Tino, Tony, Vladimir e Zezão. Técnicos: Nélio e Valdeci.