A Austrália é um país sensacional, maravilhoso, mas tem alguns capítulos absolutamente assustadores na história.
Um deles diz respeito aos forgotten Australians, crianças e adolescentes australianas que entre as décadas de 20 e 70 foram, literalmente, raptadas nas ruas e mandadas para orfanatos do governo que mais pareciam colônias penais comandadas por "religiosos". Não preciso dizer que sofreram todo tipo de abuso.
Cerca de 500 mil crianças foram raptadas. Muitas tinham família, mas passaram a acreditar que eram órfãos. Elas receberam a companhia de mais de 130 mil crianças inglesas, brancas, que foram enviadas para a Austrália para, digamos, espalhar um pouco do DNA branco.
The Leaving of Liverpool é uma excelente minisérie produzida para a TV sobre esses ingleses. O DVD pode ser encontrado na biblioteca de Waverley, em Bondi Junction, e neste link há uma cena bem emblemática.
Mas ontem, Kevin Rudd, nosso primeiro-ministro, pediu desculpas para todas as pessoas e famílias que de alguma forma passaram e sofreram com a política adotada por mais de meio século.
Esse foi o segundo pedido de desculpas oficial de Rudd, desde que assumiu o governo, há quase dois anos.
O primeiro aconteceu em fevereiro de 2008, quando se desculpou às chamadas "gerações roubadas", como podem ver neste post.
É claro que um sorry não resolve muita coisa, mas pode ser um começo. Só o fato do governo reconhecer o problema e se desculpar, já demonstra certa pré-disposição, além de grandeza. Entre os presentes à cerimônia, centenas de vítimas, incluindo Steve Fielding, um dos forgotten Australians, hoje senador.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Tigermania
O assunto da última semana foi um só: Tiger Woods. O esportista mais bem pago do planeta (ao lado de Michael Jordan e Pelé, entre os maiores de todos os tempos) esteve em Melbourne para disputar o Australian Master. E levou, claro!
O motivo pelo qual só se falava nele é simples: o australiano ama golfe. Por aqui, pouco mais de 1 milhão de pessoas (5% da população) praticam o esporte. Não por acaso, ontem o homem de mais de um bilhão de dólares arrastou 25 mil espectadores ao Kingston Heath.
Os 4 dias de disputa foram mostrados ao vivo em TV aberta, que acompanhou Tiger Woods nos 18 buracos. Para vocês terem uma idéia, o jornal matinal do Channel 9, canal que comprou os direitos de transmissão, foi apresentado ao vivo do campo.
Já morei em frente a um golf course (praticamente no buraco 9) e era impressionante o movimento, especialmente nos finais de semana. Senhores, jovens, crianças, tinha até alcoholic overseas student com pinta de traficante colombiano, como podem ver abaixo.
Aliás, campo de golfe é o que não falta em Sydney. Na verdade, na Austrália. Só na cidade são mais de 20; sem contar que a Austrália tem o maior do planeta, o Nullarbor Links, que atravessa dois estados.
Além dos campos com 9 ou 18 buracos, tem também os ranges, que são aqueles em que a gente fica numa plataforma com vista para um gramado a perder de vista. Nele, há placas marcando 50, 100 metros de distância, e o objetivo é acertá-las, tomando cerveja e aliviando o stress. Nada mal!
O grande barato do range é quando entra um tiozão num carrinho blindado recolhendo as bolas. Ele automaticamente passa a ser o alvo móvel de todos. Cada “pinnn” que se ouve, vem seguido de um “yeah”. Eles são, respectivamente, o som da bolinha acertando o carrinho blindado do tiozão e a comemoração pelo feito.
E o melhor: jogar golfe na Austrália é totalmente viável. Aqui tem campos públicos gratuitos e outros bem em conta, como o de North Bondi ($15 para jogar 9 buracos + aluguel de equipamento, caso não tenha). Vale só pelo visual (é os das fotos).
Resolução de Ano Novo: fechar com 10 abaixo do par (62).
domingo, 15 de novembro de 2009
Nova Zelândia na Copa 2010
Agora a pouco, nossa simpática Nova Zelândia conquistou a classificação para a Copa do Mundo de 2010, ao vencer o Bahrein por 1 a 0, em Wellington (capital prima de Washington). O tento histórico foi marcado por Rory Fallon, aos 45 minutos do primeiro tempo.
Histórico porque os kiwis não participam de uma Copa há décadas. Para vocês terem uma idéia, faz tanto tempo, mas tanto tempo que na última vez que disputou, Luciano do Valle era o narrador número 1 da Rede Globo, o Brasil ainda era tricampeão mundial, Paolo Rossi era somente um jogador envolvido com fraudes na loteria esportiva italiana, e as camisas de futebol, de algodão, ainda exibiam tremendas pizzas quando os jogadores levantavam os braços para comemorar um gol.
Para os oitentistas, um presente!
Brasil-sil-sil!
E agora, 28 anos depois, a Nova Zelândia volta ao Mundial com uma ajudinha da... Austrália. Explico:
Até 2006, a Austrália era filiada à Confederação de Futebol da Oceania. Mas por questões políticas, financeiras e também para elevar o nível técnico, uma vez que só enfrentava times como Vanuatu, Nova Caledônia e Fiji, a Austrália deixou a confederação do terceiro continente à sua escolha e se filiou à asiática, abrindo caminho para a Nova Zelândia bater essas babas e garantir vaga para a repescagem (sim, o jogo contra o Bahrein, quarto colocado do grupo asiático, foi válido pela respescagem).
Fico muito feliz pela Nova Zelândia, pois temos vários conhecidos kiwis por aqui, mas é bom não se empolgarem demais. Acho pouco provável que eles passem da primeira fase, assim como tenho certeza de que a Austrália vai chegar à semifinal da Copa 2010.
E vou apostar uma grana (Djus, vem comigo!).
Histórico porque os kiwis não participam de uma Copa há décadas. Para vocês terem uma idéia, faz tanto tempo, mas tanto tempo que na última vez que disputou, Luciano do Valle era o narrador número 1 da Rede Globo, o Brasil ainda era tricampeão mundial, Paolo Rossi era somente um jogador envolvido com fraudes na loteria esportiva italiana, e as camisas de futebol, de algodão, ainda exibiam tremendas pizzas quando os jogadores levantavam os braços para comemorar um gol.
Para os oitentistas, um presente!
Brasil-sil-sil!
E agora, 28 anos depois, a Nova Zelândia volta ao Mundial com uma ajudinha da... Austrália. Explico:
Até 2006, a Austrália era filiada à Confederação de Futebol da Oceania. Mas por questões políticas, financeiras e também para elevar o nível técnico, uma vez que só enfrentava times como Vanuatu, Nova Caledônia e Fiji, a Austrália deixou a confederação do terceiro continente à sua escolha e se filiou à asiática, abrindo caminho para a Nova Zelândia bater essas babas e garantir vaga para a repescagem (sim, o jogo contra o Bahrein, quarto colocado do grupo asiático, foi válido pela respescagem).
Fico muito feliz pela Nova Zelândia, pois temos vários conhecidos kiwis por aqui, mas é bom não se empolgarem demais. Acho pouco provável que eles passem da primeira fase, assim como tenho certeza de que a Austrália vai chegar à semifinal da Copa 2010.
E vou apostar uma grana (Djus, vem comigo!).
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sábado, 14 de novembro de 2009
O desafio das moquecas
Matéria publicada na edição 7 da Radar Magazine, na Austrália.
Se ainda é difícil definir e dar uma cara à culinária brasileira, identificar a origem através das principais influências é uma tarefa menos complicada. Na verdade, é uma aula de história. Nasce com os nativos indígenas, passa pela chegada dos colonizadores portugueses e segue com os escravos negros levados da África. Um prato que traduz bem estes primeiros séculos do Brasil colonial é a moqueca – seja ela baiana ou capixaba – as duas mais tradicionais.
O nome vem de moquém, moquear, que era o modo como os índios assavam peixes e caças. Ainda dos indígenas vieram a mandioca utilizada para fazer o pirão, o mais famoso dos acompanhamentos, e no caso da moqueca capixaba o azeite de urucum. De assados os ingredientes passaram a ser cozidos, técnica introduzida pelos portugueses, que também levaram a cebola e o alho. Já os negros apresentaram o azeite de dendê e o leite de coco, ingredientes indispensáveis na moqueca baiana.
Mas afinal, qual é a melhor, a baiana ou a capixaba? Para tentar responder, realizamos o I Desafio das Moquecas em território australiano. De um lado, Julia Braga, natural de Salvador, gerente comercial e sócia da Radar Magazine. Do outro, Gel Freire, natural de Vitória, presidente do Sydney Brazilian Social Club (Canarinhos). O desafio: fazer uma moqueca com os peixes daqui, mas bem ao estilo de cada estado.
A primeira a ser testada foi a baiana. Julia optou pela moqueca de camarão e, como não poderia ser diferente, não abriu mão do azeite de dendê, do leite de coco e dos pimentões verdes, três ingredientes que não entram na capixaba. O ideal é sempre cozinhar em panelas de barro, mas como um dos objetivos desta matéria é possibilitar que os leitores façam em casa, Julia cozinhou em panela normal.
Para a capixaba, Gel levou o óleo de urucum e cinco panelas de barro (quatro pequenas e uma grande) produzidas artesanalmente pelas famosas paneleiras de Goiabeiras. As menores eram para o camarão, enquanto a maior para o peixe. Por aqui, o snapper e o kingfish são os melhores peixes para fazer moqueca, pois são firmes e não possuem tanta espinha. No Brasil, os mais utilizados são o badejo, o namorado e o robalo. Já os melhores camarões são o king e o banana.
A execução de ambas é simples e não leva muito tempo. A capixaba demorou um pouco mais porque Gel, além de ter optado por camarão e peixe, também preparou um pirão. Julia fez arroz para acompanhar. Outro tradicional acompanhamento é a farofa de banana-da-terra. As duas moquecas estavam deliciosas. A baiana é mais encorpada, substanciosa, pois traz a doçura do leite de coco com a untuosidade do dendê. Já a capixaba é menos intensa, mais leve e um pouco mais aromática, por conta da cebolinha e da salsinha, que não entram na baiana, e também pela combinação do coentro com o limão, que é muito marcante.
E a vencedora foi...
Bem, isso depende do paladar de cada um. O importante é que as receitas estão nas páginas da Radar Magazine, cada uma com o seu sotaque próprio, ambas bem brasileiras e fáceis de serem feitas – mesmo a milhas de distância de Vitória e Salvador.
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Vote For Mary na Fox Studios
Hoje à noite, a banda Vote For Mary vai tocar no Trackdown Studios, lá na Fox (pertinho do Moore Park).
Caso ainda não conheça o quarteto 75% brasileiro / 25% britânico, apareça, pois eles fazem uma sonzeira.
Laura é a vocalista. Canta muito. Dependendo de onde tocam, a voz nem cabe no lugar, de tão forte que é. Julio, o full-time Movember, é um tremendo percussionista que também mal cabe atrás da bateria. Incansável! Manduka é um doido, guitarrista criativo, compositor de muito bom gosto responsável pelos arranjos e riffs da banda. E Mark, o baxista, é o cara da cozinha, o relógio que pontua e equilibra tudo.
Juntos eles são o Vote For Mary, banda de Bondi Beach formada em 2008. O show começa às 21h30, mas antes, a partir das 19h30, duas outras bandas vão se apresentar. A entrada é grátis!
Não percam!
Caso ainda não conheça o quarteto 75% brasileiro / 25% britânico, apareça, pois eles fazem uma sonzeira.
Laura é a vocalista. Canta muito. Dependendo de onde tocam, a voz nem cabe no lugar, de tão forte que é. Julio, o full-time Movember, é um tremendo percussionista que também mal cabe atrás da bateria. Incansável! Manduka é um doido, guitarrista criativo, compositor de muito bom gosto responsável pelos arranjos e riffs da banda. E Mark, o baxista, é o cara da cozinha, o relógio que pontua e equilibra tudo.
Juntos eles são o Vote For Mary, banda de Bondi Beach formada em 2008. O show começa às 21h30, mas antes, a partir das 19h30, duas outras bandas vão se apresentar. A entrada é grátis!
Não percam!
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Meu Avô A'uwê - 5 Anos
Há exatos 5 anos, em São Paulo, eu lançava o meu primeiro livro, "Meu Avô A'uwê", sobre 3 viagens que fiz para uma aldeia indígena Xavante no Mato Grosso.
A todos que foram ao lançamento, muito obrigado! Quem o leu, espero que tenha gostado. E para quem não faz idéia do que estou falando, o livro está na íntegra aqui!
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Burning Palms - o Paraíso
Já escrevi algumas vezes no blog que a Austrália é tão fantástica, mas tão fantástica que aqui tenho mais medo de bicho do que de gente.
E este final de semana fiz uma viagem que precisei deixar todo e qualquer medo, receio ou o que quer que seja em relação ao reino animal de lado, caso contrário, nem sairia de Sydney.
Fui com um casal de amigos para Burning Palms, praia localizada no Royal National Park (NSW), o segundo mais antigo do mundo, fundado em 1879.
A apenas 32 km de Sydney, o parque teve 98% de sua flora destruída por um incêndio há cerca de 15 anos. Os únicos 2% não atingidos foram justamente a praia de Burning Palms, onde Uncle Bill tem um shack.
Hoje, com a flora devidamente recuperada pela mãe-natureza, a fauna se reproduz livremente e vive feliz para sempre, o que significa alta concentração de alguns dos animais mais perigosos do planeta.
Uma vez dentro do parque nacional, só é possível chegar a Burning Palms a pé, através de uma trilha de aproximadamente 40 minutos. A caminhada é tranqüila – principalmente para quem desce sem carregar um colchão de casal nas costas –, e até hoje guarda muitas árvores flambadas pelo incêndio.
Os shacks nada mais são do que um barraco, rústico, simples, com teto de zinco sem forro e alicerces de madeira. Luz elétrica, chuveiro ou privada, nem pensar, é tudo na base da vela, rio e mato.
Eles surgiram no período entre a Grande Depressão de 1929 e a II Guerra Mundial, quando o planeta caminhava para o buraco e os moradores de Sydney, sem trabalho nem dinheiro, tiveram que abandonar a cidade e passar a morar nesses barracos.
Uncle Bill, o tio do meu amigo, comprou o dele, o Château Aussietuba, em 1958, já em dias melhores (o nome, claro, é cornetagem minha). Ele e a mulher são internacionalmente conhecidos como o segundo casal que mais fez trilhas pelo mundo (o primeiro provavelmente é norte-americano). Detalhe: eles ainda fazem.
Vista do "meu quarto".
Logo na chegada, recebemos o cartão de visitas do lugar: uma linda diamond python, a prima da nossa jibóia brasileira, dormia “de conchinha” a, no máximo, 5 metros do shack. A boa notícia: ela não era venenosa. A má: Burning Palms abriga a famosa brown snake, uma das criaturas mais mortais da Austrália. Achei informação demais para os primeiros 5 minutos em terra firme.
Por sorte, a mãe do meu chapa, que muito lembrava a minha nos tempos de aldeia indígena Xavante, nos deu as boas-vindas com um drink a base de tudo, seguido por um jantar ao ar livre com direito à fogueira na frente e mar ao fundo. No menu, arroz tipo japonês, salmão, atum, wasabi, pepino, abacate, enfim, ingredientes para cada um preparar o próprio sushi. E para acompanhar, 3 botejinhas de vinho branco (tecnicamente, a idéia do que chamam de “paraíso”).
Como tem muita foto bacana, vou deixá-los com as chapas. Mas antes é importante ressaltar o saldo do final de semana. Mortos: zero. Feridos: alguns (principalmente por sanguessugas, anelídeos dos mais cretinos). Vimos: 1 canguru, 3 cervos, 2 lagartos, 1 cobra, 1 gavião, 2 baleias, 4 golfinhos, dezenas de pássaros e, claro, centenas de insetos. O lugar é simplesmente impressionante! Sem contar o crocodilo gigante em forma de montanha (essa primeira foto abaixo. Cliquem nela que verão o olho do crocodilo).
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