sábado, 14 de novembro de 2009

O desafio das moquecas



Matéria publicada na edição 7 da Radar Magazine, na Austrália.

Se ainda é difícil definir e dar uma cara à culinária brasileira, identificar a origem através das principais influências é uma tarefa menos complicada. Na verdade, é uma aula de história. Nasce com os nativos indígenas, passa pela chegada dos colonizadores portugueses e segue com os escravos negros levados da África. Um prato que traduz bem estes primeiros séculos do Brasil colonial é a moqueca – seja ela baiana ou capixaba – as duas mais tradicionais.



O nome vem de moquém, moquear, que era o modo como os índios assavam peixes e caças. Ainda dos indígenas vieram a mandioca utilizada para fazer o pirão, o mais famoso dos acompanhamentos, e no caso da moqueca capixaba o azeite de urucum. De assados os ingredientes passaram a ser cozidos, técnica introduzida pelos portugueses, que também levaram a cebola e o alho. Já os negros apresentaram o azeite de dendê e o leite de coco, ingredientes indispensáveis na moqueca baiana.



Mas afinal, qual é a melhor, a baiana ou a capixaba? Para tentar responder, realizamos o I Desafio das Moquecas em território australiano. De um lado, Julia Braga, natural de Salvador, gerente comercial e sócia da Radar Magazine. Do outro, Gel Freire, natural de Vitória, presidente do Sydney Brazilian Social Club (Canarinhos). O desafio: fazer uma moqueca com os peixes daqui, mas bem ao estilo de cada estado.



A primeira a ser testada foi a baiana. Julia optou pela moqueca de camarão e, como não poderia ser diferente, não abriu mão do azeite de dendê, do leite de coco e dos pimentões verdes, três ingredientes que não entram na capixaba. O ideal é sempre cozinhar em panelas de barro, mas como um dos objetivos desta matéria é possibilitar que os leitores façam em casa, Julia cozinhou em panela normal.



Para a capixaba, Gel levou o óleo de urucum e cinco panelas de barro (quatro pequenas e uma grande) produzidas artesanalmente pelas famosas paneleiras de Goiabeiras. As menores eram para o camarão, enquanto a maior para o peixe. Por aqui, o snapper e o kingfish são os melhores peixes para fazer moqueca, pois são firmes e não possuem tanta espinha. No Brasil, os mais utilizados são o badejo, o namorado e o robalo. Já os melhores camarões são o king e o banana.

A execução de ambas é simples e não leva muito tempo. A capixaba demorou um pouco mais porque Gel, além de ter optado por camarão e peixe, também preparou um pirão. Julia fez arroz para acompanhar. Outro tradicional acompanhamento é a farofa de banana-da-terra. As duas moquecas estavam deliciosas. A baiana é mais encorpada, substanciosa, pois traz a doçura do leite de coco com a untuosidade do dendê. Já a capixaba é menos intensa, mais leve e um pouco mais aromática, por conta da cebolinha e da salsinha, que não entram na baiana, e também pela combinação do coentro com o limão, que é muito marcante.



E a vencedora foi...

Bem, isso depende do paladar de cada um. O importante é que as receitas estão nas páginas da Radar Magazine, cada uma com o seu sotaque próprio, ambas bem brasileiras e fáceis de serem feitas – mesmo a milhas de distância de Vitória e Salvador.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Vote For Mary na Fox Studios

Hoje à noite, a banda Vote For Mary vai tocar no Trackdown Studios, lá na Fox (pertinho do Moore Park).



Caso ainda não conheça o quarteto 75% brasileiro / 25% britânico, apareça, pois eles fazem uma sonzeira.

Laura é a vocalista. Canta muito. Dependendo de onde tocam, a voz nem cabe no lugar, de tão forte que é. Julio, o full-time Movember, é um tremendo percussionista que também mal cabe atrás da bateria. Incansável! Manduka é um doido, guitarrista criativo, compositor de muito bom gosto responsável pelos arranjos e riffs da banda. E Mark, o baxista, é o cara da cozinha, o relógio que pontua e equilibra tudo.



Juntos eles são o Vote For Mary, banda de Bondi Beach formada em 2008. O show começa às 21h30, mas antes, a partir das 19h30, duas outras bandas vão se apresentar. A entrada é grátis!
Não percam!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Meu Avô A'uwê - 5 Anos



Há exatos 5 anos, em São Paulo, eu lançava o meu primeiro livro, "Meu Avô A'uwê", sobre 3 viagens que fiz para uma aldeia indígena Xavante no Mato Grosso.



A todos que foram ao lançamento, muito obrigado! Quem o leu, espero que tenha gostado. E para quem não faz idéia do que estou falando, o livro está na íntegra aqui!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Burning Palms - o Paraíso



Já escrevi algumas vezes no blog que a Austrália é tão fantástica, mas tão fantástica que aqui tenho mais medo de bicho do que de gente.

E este final de semana fiz uma viagem que precisei deixar todo e qualquer medo, receio ou o que quer que seja em relação ao reino animal de lado, caso contrário, nem sairia de Sydney.



Fui com um casal de amigos para Burning Palms, praia localizada no Royal National Park (NSW), o segundo mais antigo do mundo, fundado em 1879.

A apenas 32 km de Sydney, o parque teve 98% de sua flora destruída por um incêndio há cerca de 15 anos. Os únicos 2% não atingidos foram justamente a praia de Burning Palms, onde Uncle Bill tem um shack.



Hoje, com a flora devidamente recuperada pela mãe-natureza, a fauna se reproduz livremente e vive feliz para sempre, o que significa alta concentração de alguns dos animais mais perigosos do planeta.

Uma vez dentro do parque nacional, só é possível chegar a Burning Palms a pé, através de uma trilha de aproximadamente 40 minutos. A caminhada é tranqüila – principalmente para quem desce sem carregar um colchão de casal nas costas –, e até hoje guarda muitas árvores flambadas pelo incêndio.



Os shacks nada mais são do que um barraco, rústico, simples, com teto de zinco sem forro e alicerces de madeira. Luz elétrica, chuveiro ou privada, nem pensar, é tudo na base da vela, rio e mato.



Eles surgiram no período entre a Grande Depressão de 1929 e a II Guerra Mundial, quando o planeta caminhava para o buraco e os moradores de Sydney, sem trabalho nem dinheiro, tiveram que abandonar a cidade e passar a morar nesses barracos.



Uncle Bill, o tio do meu amigo, comprou o dele, o Château Aussietuba, em 1958, já em dias melhores (o nome, claro, é cornetagem minha). Ele e a mulher são internacionalmente conhecidos como o segundo casal que mais fez trilhas pelo mundo (o primeiro provavelmente é norte-americano). Detalhe: eles ainda fazem.


Vista do "meu quarto".

Logo na chegada, recebemos o cartão de visitas do lugar: uma linda diamond python, a prima da nossa jibóia brasileira, dormia “de conchinha” a, no máximo, 5 metros do shack. A boa notícia: ela não era venenosa. A má: Burning Palms abriga a famosa brown snake, uma das criaturas mais mortais da Austrália. Achei informação demais para os primeiros 5 minutos em terra firme.



Por sorte, a mãe do meu chapa, que muito lembrava a minha nos tempos de aldeia indígena Xavante, nos deu as boas-vindas com um drink a base de tudo, seguido por um jantar ao ar livre com direito à fogueira na frente e mar ao fundo. No menu, arroz tipo japonês, salmão, atum, wasabi, pepino, abacate, enfim, ingredientes para cada um preparar o próprio sushi. E para acompanhar, 3 botejinhas de vinho branco (tecnicamente, a idéia do que chamam de “paraíso”).



Como tem muita foto bacana, vou deixá-los com as chapas. Mas antes é importante ressaltar o saldo do final de semana. Mortos: zero. Feridos: alguns (principalmente por sanguessugas, anelídeos dos mais cretinos). Vimos: 1 canguru, 3 cervos, 2 lagartos, 1 cobra, 1 gavião, 2 baleias, 4 golfinhos, dezenas de pássaros e, claro, centenas de insetos. O lugar é simplesmente impressionante! Sem contar o crocodilo gigante em forma de montanha (essa primeira foto abaixo. Cliquem nela que verão o olho do crocodilo).


























sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Os Rivelinos no Coogee Bay



Movember, o mês do Moustache, está aí, e como ainda estamos no começo, os bigodes nas ruas estão mais para motoboy da Zona Leste de São Paulo do que para Pedro de Lara.

Mas tudo bem. O importante é que o nosso time, OS RIVELINOS, já está com 10 membros cadastrados no site oficial do Movember Australia, sendo 7 homens e 3 RIVELINAS. Por ora, arrecadamos $50, mas ainda tem muito bigode pra crescer.



Caso você não faça idéia do que estou falando, clique aqui. Se preferir, venha direto para a página do nosso time, junte-se aos Rivas e elástico neles!

Aliás, este domingo, a partir das 17h, vai ter Brazilian Fever no Coogee Bay Hotel, e o tema da festa será... Movember. Isso mesmo! Mulher só paga $5 de entrada (até às 18h é grátis), e homem $10.



Entre as atrações, samba e MPB ao vivo com Andrezinho do Samba Soul acompanhado por alguns convidados, entre eles Léo Paixão (Leo Passion para os gringos), e nas pick-ups, claro, a DJ Juliana Cesso. Não perca!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Caveman de Bondi em cana



Enquanto aguardo um dia ensolarado - mas sem o calor desértico de ontem - para visitar e fotografar a Sculpture by the Sea deste ano (aquelas esculturas fantásticas entre Bondi Beach e Tamarama), escreverei um breve post sobre algo que aconteceu por ali.

Sabem o "Caveman", esse tiozão poeta que mora há 10 anos naquele barraco no cliff de Bondi, pouco depois do Icebergs? Aquele mesmo que no final da tarde acende uma fogueirinha e alimenta os pássaros? Então, ele está em cana.

É verdade! Uma mulher foi à polícia prestar queixa, alegando que ele a teria assediado sexualmente ontem à noite, por volta das 10 horas.



O cara, volta e meia, sai da toca e fica ali perto do caminho dando atenção aos turistas que, curiosos, sempre param para tirar umas chapas.

Mas ontem, segundo a mulher, o tiozão a teria convidado para ir até o cafofo alimentar os pássaros e lá teria tentado alimentar o próprio pássaro.

O pior, no caso dele, nem é ir em cana, mas perder a boiada de morar à beira do cliff, praticamente em cima do mar, de frente para Bondi Beach.

Aliás, vista melhor do que a do Caveman, só mesmo a dos Deadmen, um pouco mais à frente, no cemitério de Bronte, entre o cliff e o oceano.



Resumindo: a Austrália é tão sensacional que até sem teto e morto vivem e descansam com vista pro mar!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Melbourne Cup 09



Daqui a pouco a Austrália vai parar.

O País, que já não é dos mais acelerados, hoje amanheceu em marcha lenta, e a partir do meio-dia vai deixar a labuta de lado e acelerar para os pubs, parando definitivamente às 3 da tarde.

Nos 3 minutos seguintes, vai ter muita gritaria, mulheres histéricas usando imensos chapéus e gente desesperada perdendo a casa da praia. Mas ninguém sairá do lugar. Todos ficarão com os olhos fixos na tela (ou na própria pista, quem estiver ao vivo), com um drink na mão e alguns bilhetes de aposta na outra.



As únicas exceções serão os 24 jockeys e cavalos que estarão no Flemington Racecourse correndo os 3200 metros da Melbourne Cup, o páreo mais tradicional da Austrália (acontece desde 1861) e um dos mais prestigiados do mundo. Para terem uma idéia, este ano distribuirá mais de 5 milhões e meio de dólares em prêmios (tchu-tchín!).

E nos pubs de todo o país, quem não fizer uma fezinha, por menor que seja, corre o risco de ser deportado da Austrália ou de não ir para o Céu. É sério!



Hoje as apostas estão liberadas pra todo mundo, assim como enforcar a escola, o trabalho e ir cedo para o pub. Não por acaso o evento-mor se chama Melbourne Cup Carnival - a grande fanfarra australiana da primeira terça-feira de novembro.

Eu, como gosto daqui e tenho a intenção de ir para o Céu, já comprei o meu diário e daqui a pouco sigo para o meu local pub para tomar café da manhã. Sabem como é, "analisar" e escolher os cavalos tomando uma Guinness é mais do que um ritual, é uma experiência mística que certamente resultará em uma vitória retumbante às 3 da tarde.



Go Alcopop - N# 11!